domingo, 17 de agosto de 2014

A Exposição Pública de um Cadáver

João Campos, Filho de Eduardo, punho estendido e o grito vindo do fundo da alma. Em segundo plano, desfocados (nos dois sentidos), os candidatos (em pânico) Dilma Rousseff e Aécio Neves.
Neste domingo, o tema recorrente nos debates eleitorais e nos noticiários da televisão (diga-se Globo e GloboNews) foi o velório e o enterro de Eduardo Campos, depois de sua morte trágica em um acidente aéreo, ainda não satisfatoriamente explicado pelos especialistas. Imagino como deve ser difícil para uma família órfã ser colocada diante desse beija-mão inconveniente, que nada tem a ver com solidariedade e conforto de amigos. Que eu saiba, poucos dos políticos que por lá passaram, com os olhos vermelhos das lágrimas derramadas, eram, de fato, amigos da família Campos. Alguns, até aposentados, como Jarbas Vasconcelos, ou tolos, como Aldo Rebelo, apareceram para dar os pêsames à viúva, a seus filhos e a Ana Arraes.

Os analistas de plantão se apressavam a "interpretar" as reações dos políticos como "sinceras e desprovidas de interesse". No entanto, os dois candidatos mais afetados estão em desespero, sem saber o impacto que terá a candidatura de Marina Silva sobre suas campanhas, já relativamente estabilizadas depois de dois meses de exposição à mídia. Esta, por sua vez, como sempre agindo tal qual abutres, explora cada detalhe, cada cena, cada lágrima (de crocodilo) derramada, escutando o tilintar dos números do IBOPE em suas vendas de espaço. Não se preocupem, não tenho "papas na língua" porque não preciso da mídia e nem de sua influência em minha vida. Posso dizer o que penso, sem me preocupar com as próximas eleições.

Velório de Eduardo Campos no Palácio do Campo das Princesas, Recife, Pernambuco
O que, afinal, está acontecendo? Talvez as próprias agências de notícia saibam que soltaram o monstro, mas não sabem como domá-lo. Afinal, cem mil pessoas em um velório e milhões de pessoas defronte a telinha, com emocionadas expressões de pesar, significam mais do que o tempo de exposição (apenas 2 minutos por sessão - vejam abaixo)¹ que Marina terá no horário eleitoral "gratuito"! Sim, essa exploração da emoção pública poderá estar refletida nas próximas pesquisas eleitorais de forma mais arrasadora do que o esperado. Estamos falando do "mercado" de votos do Nordeste, predominantemente petista! E que, agora, diante da comoção nacional, poderá bandear para o PSB-PPS-REDE como os ratos que fogem depois da inundação!

Sim, Marina poderá chegar ao primeiro lugar, ou bem próximo dele, sem que Aécio tenha uma perda tão expressiva de votos, mas com a queda drástica de Dilma Rousseff e do PT! O que farão os petistas se isso acontecer? Como eles reagirão a essa "catástrofe" eleitoral, tendo Dilma eliminada no primeiro turno? Foi por isso que o ex-presidente Lula ("coach" de Dilma, ou seu "personal consultant") apareceu, consternado, com ela, diante do caixão de Eduardo. O que nos surpreende é o "fairplay" da sra. Renata Campos diante dessa pantomima: nenhuma reação, nenhuma pequena ruga, nenhum piscar discreto, nada mesmo a demonstrar o que ela pensa, sente ou pretende! Admirável sua fleugma e distanciamento da farsa que se desenrola ao seu redor! Poucos seriam capazes de não demonstrar repulsa a tamanho descaramento e hipocrisia!

Voltando ao momento político e a seus desdobramentos. Não creio que o "beija-mão" altere alguma coisa na situação, a não ser nossa constatação de que o impacto sobre as eleições terá sido enorme, e, suas consequências, quase incontroláveis! Agora ouço, pelas minhas costas, um sujeito a dizer descaradamente que, depois de eleita, Marina Silva "não poderá mudar de partido, depois da eleição, para sua real legenda, a Rede Sustentabilidade, sem que o PSB a autorize a fazê-lo"! Essa entrevista só poderia mesmo ser feita pelo William Waack! Bem, mas não quero ser assim tão sarcástico. Afinal, respeito o luto da família Campos.

Assim como a mídia e os partidos políticos, tenho certeza que os analistas econômicos estão caminhando para o desespero, levando consigo toda famigerada "Bancada Ruralista" do agronegócio, empreiteiras do PAC, mineradoras, madeireiras e todo antro que domina o país do PT! Por isso, não levarei adiante minha euforia com essas possibilidades que mais se aparentam com uma "escola literária latinoamericana dos anos 1970" chamada de "Realismo Fantástico"! Sim, é isso que eu vejo: o absurdo, o inominável, o impossível se aproximando da realidade, diante da estupefação nacional dos "certinhos da globo" e dos reacionários!

"Não vamos desistir do Brasil! Não deixemos de acreditar em nosso país"!
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A presidente Dilma Rousseff (PT) terá 11min24s,  o tucano Aécio Neves (PSDB) terá 4min35s, Marina Silva (PSB) terá apenas 2min03s por sessão de tortura na TV.

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