Não foi um resultado bom, mas o possível diante de tantas incertezas políticas e de um sistema de eleição viciado e ineficiente. A cada dois anos o Brasil pára e acompanha eleições que apenas corroboram a necessidade de mudanças profundas, seja no sistema de governo, seja na Economia, atrelada a ele. Trocam-se os governantes, mas a sociedade não percebe mudanças.
De que servem tantos partidos políticos se eles se aglutinam nas eleições e se amarram aos vencedores e perdedores, restaurando a dualidade do poder? Antes, eram Arena e MDB; depois, PDS e PMDB; a seguir, esses partidos se esfacelaram: tanto a "direita" como a "esquerda" se romperam em dezenas de siglas, cujos conteúdo ideológico não se diferenciava a ponto de permitir escolhas ou opções relevantes. Hoje é o PT de um lado e PSDB de outro. Muitos pensamos que, um dia, esses dois partidos estariam do mesmo lado.
Mas isso não aconteceu, e a tragédia foi que as sucessivas crises éticas e morais também destroçaram a confiança da população na existência de partidos limpos de fato. Eles não existem. Por isso, siglas como o DEM e o PMDB optaram por não mais lançar candidatos e oferecer suas estruturam políticas regionais para garantir a "governabilidade"... foi um tiro no pé dos partidos socialistas!
Seja quem for que se instale no poder, terá que se subordinar a esses partidos inescrupulosos e corruptos para a fromação de seu staff de ministros. É o que aconteceu desde que a ditadura militar cedeu o poder aos civis, em 1985. Os ministérios mais importantes não ficam com o partido vencedor, mas com seus "aliados": Transportes, Minas e Energia, Educação, Saúde, Agricultura... cada um "pega um pedaço"; e sobra para o presidente compor esse mosaico multicolorido e multifacetado de parcelas do poder, sem coesão interna e sem harmonia de gestão, indispensáveis para a condução dos rumos do poder.
E quem vence nas urnas fica com a impressão da vitória, mas os verdadeiros vencedores são aqueles que nem apareceram na TV no horário eleitoral: ficaram na retaguarda, articulando essa divisão estratégica do poder, que garantirá que o mandatário maior do país seja simplesmente a "rainha da Inglaterra", ungida com o manto real, mas desprovida de qualquer parcela de autoridade perante seus súditos enganados.
A senhora Dilma Rousseff nem poderá dizer que venceu esta eleição, pois este mérito cabe única e exclusivamente a seu criador, o presidente Lula, com o apoio estratégico dos marqueteiros de campanha, verdadeiros maquiadores a transformar a imagem de uma mulher rude e desajeitada em uma dama habilidosa e matreira, capaz de até vencer um debate na TV. O que virá depois de 31 de dezembro? Será que esta fera despertará da letargia e se libertará se seu criador? Que parcela de poder ela ainda tem para manobrar as peças do tabuleiro? Poderá conter a gana revanchista do PSDB, alijado por mais quatro anos da arena política? Dilma retomará sua postura inflexível que a tornou conhecida como a "dama de ferro" da política barsileira? O que será do PAC, um programa de retalhos sem coesão interna?
Muitas dúvidas restam por se responder, mas ficaremos em suspensão até que o primeiro jogo de dominação esteja concluído: a escolha do Ministério. Saberemos, então, quem dará as cartas e também se Dilma teve força suficiente para romper os compromissos irreveláveis do poder. Seguindo a lógica das últimas eleições, desde a morte de Tancredo Neves e a ascensão de José Sarney, nossas expectativas não podem ser muito alvissareiras...
Mas há quem ainda se empolgue com essa farsa e acredite que vivemos em plena democracia. É difícil se iludir a tal ponto, sabendo das grandes disparidades sociais e do abismo existente entre as diversas regiões do país. Mais ainda, é difícil acreditar em um governo voltado para as ações sociais onde quem manda de fato é uma minoria descarada, cujos propósitos são, única e exclusivamente, a ganância e a dominação econômica.
Dessa corja fazem parte os grandes banqueiros nacionais, os mega-fazendeiros do agronegócio, as empresas de mineração, as empreiteiras de grandes obras públicas (sempre as mesmas), a grande mídia capitaneada pela Rede Globo, e um poder oculto mas cada vez mais atuante, das religiões ditas cristãs: os católicos, que sempre estiveram ao lado do poder, e agora os evangélicos, multifacetados em pequenas ou grandes seitas doutrinadoras.
Parece incrível, mas esses grupos, que representam os interesses de uma insignificante minoria numérica, detêm o poder econômico em quase sua plenitude, detreminando, por isso, os destinos de nossa combalida Nação. Não temos uma democracia, nunca teremos. E com Dilma não será diferente, pela simples razão de que nada mudou nesse país e nessa eleição.
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