Às vésperas das eleições já fica evidente a vitória de Dilma Rousseff, ou melhor, de Luiz Inácio Lula da Silva, o grande mentor da candidata petista e único responsável pelo seu desempenho espetacular. Muitos diriam: "é prematuro falar em vitória às vésperas das eleições"! Mas o fato é que o PT levará a presidência, provavelmente no primeiro turno, pois tem sido, historicamente, o partido mais combativo nas bocas de urna. Seja como for, Serra não ganha no segundo turno e isso é praticamente irreversível.
Mas o que significa essa "Vitória de Pirro" para os brasileiros? Quais as consequências de mais quatro, talvez oito anos de hegemonia petista no poder central? O que mudou em nossa sociedade nos últimos oito anos e que nos faz crer em um processo planejado, arquitetado pela cúpula dirigente do PT? Falamos em Lula, mas também em José Dirceu, em Antônio Palocci, José Genoíno, na própria Dilma Rousseff...
Para entender melhor o sentido desse processo "socialista" precisamos compreender os rumos do socialismo nacionalista da América Latina, principalmente de Evo Morales e Hugo Chávez, cujo tom determina uma transformação social talvez não adequadamente analisada pelos cientistas políticos: a ascensão ao poder de representantes populistas e de movimentos sociais vinculados às lutas pela posse da terra e pela ascensão de minorias étnicas vítimas dos processos históricos desses países. Talvez Lula tenha sido o menos representativo desses novos líderes, mas com certeza o mais influente e o mais bem sucedido.
Dilma, porém, é a incógnita. Mesmo tendo sido guerrilheira e lutado pelas liberdades democráticas durante o regime ditatorial dos militares brasileiros, Dilma não se identifica com nenhuma corrente populista de nosso país. Muito pelo contrário: talvez hoje esteja mais à direita do que o próprio José Serra, e tenha a simpatia da Bancada Ruralista e dos Desenvolvimentistas, dada sua predileção pelas grandes obras de engenharia que caracterizaram sua administração frente ao Ministério de Minas e Energia e como gestora do PAC.
As alianças políticas do PT com o que há de mais retrógrado neste país, como o PMDB, o PTB e o PCdoB compelmentam essa visão pessimista dos destinos de nossa política interna: até que ponto podemos esperar mudanças na condução da Economia? E que alento podem ter os Ambientalistas com uma presidente que foi a grande responsável pela saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente? É uma visão sinistra, mas realista do futuro político da Nação com Dilma Rousseff à presidência.
Lula, com toda sua deselegância intelectual, contava com a simpatia do mundo pelo seu jeito caboclo de dizer o que pensava, rompendo as regras cerimoniais do ritual diplomático e forçando líderes do porte de Barack Obama a manifestar sua admiração pela coragem e audácia de nosso Presidente. E Dilma? O que ela tem para oferecer no concerto das nações, diante de um momento complexo e instável, caracterizado pela incoerência dos países poderosos em se recusar a admitir a crise econômica, energética e ambiental?
Dilma não tem carisma, nem jogo de cintura para driblar as crises políticas, mesmo as internas; mas viverá um "inferno astral" com a divisão de forças conservadoras entre a oposição e o governo. Lula, em seu desdizer permanente, confundia a oposição, que sequer sabia identificar o seu território; e a maior evidência dessa perplexidade foi a campanha eleitoral, onde a equipe de Dilma, ou seja, de Lula, encampou todas as teses da oposição e neutralizou até mesmo os ataques pessoais mais medíocres da equipe de Serra.
Como Dilma enfrentará o poder assim dividido? Como encaminhará as mensagens mais polêmicas que implicam em reformas profundas do sistema político, previdenciário e fiscal brasileiro? Muitos diriam que essas reformas já tramitam desde FHC e que, portanto, não seriam assim tão urgentes e necessárias. Mas o PAC é um "programa" que só serviu para dara a vitória a Dilma, e as grandes obras só poderão prosseguir até saturar a capacidade de investimento do país. Além disso, o "pré-sal" apenas amadurecerá a longo prazo, sendo, por enquanto, um sorvedouro de recursos insaciável para a Petrobrás.
Se a oposição não teve competência para vencer essas eleições, certamente passará por um processo de revisão profunda, a menos que aceite ser alijada para sempre do comando da Nação. Portanto, Dilma enfrentará uma oposição mais forte e menos dividida nos próximos anos e terá que justificar sua presença no Planalto, pelo menos por quatro longos anos. E o Congresso não seguirá o mesmo caminho das urnas e o poder deverá estar mais dividido e mais instável nas casas legislativas.
No cenário internacional, a Europa ainda passará pelos rescaldos da crise, assim como os Estados Unidos e o Japão. No entanto, a China continua em seu caminho de dominação e deverá liderar a economia mundial na próxima década, deixando o Brasil apenas com a função medíocre de prover matérias primas para que a China cresça sob nossas barbas. Nossa opção histórica pelos produtos primários se mostrará trágica em futuro próximo, e nem o "pré-sal" nos resgatará do naufrágio. Esse talvez seja o grande desafio de Dilma e do PT.
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