Flávia Tavares - "O Estado de São Paulo" - 16 de outubro de 2010
Senadora inaugura nova ‘barganha’ eleitoral e quer compromissos em vez de cargos, mas vê ‘desenvolvimentismo’
SÃO PAULO - Foi ela quem levantou a bandeira do meio ambiente no primeiro turno e, agora, é ela quem luta para mantê-la hasteada. Enquanto Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) fingiam que o tema tinha saído da pauta, Marina Silva (PV) pressionou os presidenciáveis a se posicionar mais claramente no que se refere à sustentabilidade e, ainda que não inteiramente, condicionou seu apoio a algum deles à adesão a sua agenda ambientalista.
Mas ela não se ilude. Sabe que, por um lado, inaugurou uma nova modalidade de "barganha" eleitoral, ao exigir compromissos em vez de cargos em troca de seu consentimento. Por outro, percebe em Dilma e Serra muito mais disposição ao desenvolvimentismo - ou, como dizem alguns de seus assessores, ao "crescimentismo" - do que ao ambientalismo. "Mesmo no primeiro turno, as duas campanhas não se ativeram à temática do meio ambiente. Ela aparecia apenas dirigida a mim, já que isso é uma prioridade da nossa plataforma de governo. Não aparecia pela minha interação com os outros candidatos", lembra a candidata do PV.
Importante. Para Marina, depois de seus quase 20 milhões de votos no dia 3 de outubro, ficou claro que os brasileiros consideram a sustentabilidade um tema importante. "Pela primeira vez, houve um ensaio político para referenciar uma proposta de desenvolvimento baseada na sustentabilidade. Proposta que teve um respaldo muito grande em termos eleitorais, mesmo que as pessoas não tenham uma compreensão mais aprofundada da questão", disse a senadora.
Ela sabe que nem todos os que votaram nela o fizeram somente pela cor de sua bandeira. Ainda assim, acredita que esse recado dos eleitores obrigará partidos e lideranças políticas a dialogar sobre meio ambiente com mais frequência e consistência. "Pode ser que o tema ainda não seja tratado com muita profundidade pela sociedade, mas outras questões também não são." Ela compara: se nem todos têm clareza do que é um bom sistema de saúde, é certo que todos querem um bom sistema de saúde ou anseiam por uma boa educação, mesmo sem entender bem qual seria a reforma ideal do ensino.
A expectativa de Marina é de que no tempo que resta até o segundo turno os candidatos se dediquem a discutir sustentabilidade. "As candidaturas que se apresentaram, na oposição e na situação, têm uma visão desenvolvimentista. Há a oportunidade agora para que essas questões possam ser mais bem tratadas nos debates e nas campanhas."
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