A primeira consideração diz respeito ao estilo político dos contendores. Enquanto Dilma se adaptou rapidamente a uma nova imagem criada pelos marqueteiros, mudando sua aparência e conduta diante das câmeras, Serra se manteve em seu estilo arcaico de pronunciar didaticamente as palavras, como se falasse para débeis mentais, tentando passar conceitos óbvios e requeridos de qualquer administrador, e não trazendo idéias novas que o diferenciassem de sua opositora. Dilma foi além, e invadiu o campo de ataque do concorrente, fazendo dela as palavras que deveriam ter sido ditas pela oposição, propondo mudanças que não foram feitas por Lula.
O segundo aspecto surpreendente é que Lula contrariou o mote de que não se transfere popularidade. Dilma não só herdou a boa fase de Lula, como também usufruiu de sua habilidade política de transferir a Dilma boa parte da responsabilidade pelo excelente desempenho de seu governo. A continuidade passou a ser vista como uma vantagem competitiva e não uma repetição de práticas abomináveis. Essa virada de conceitos se deu porque a população percebeu que a corrupção é inerente à política e não exclusiva de alguns políticos; portanto, não adianta mudar os políticos: a sujeira será sempre a mesma! Pior ainda: a corrupção está, principalmente, no poder legislativo, pela interferência direta de caciques políticos na administração pública, no direcionamento das verbas públicas e no favorecimento de grupos políticos situados à direita do espectro político.
A terceira consideração se refere ao fraco desempenho de Marina Silva, a única que poderia tirar votos do PT. Marina optou por não bater nos adversários, não fazer alianças políticas e ficar com um tempo irrisório do horário político gratuito nos meios de comunicação. Foi uma estratégia equivocada pois os Verdes não representam mais do que os 7% da candidata; não existe consciência ecológica em nossa sociedade. Marina Silva também não fez aliança com Heloísa Helena, a única parceria que poderia contrabalançar o estilo suave de Marina. Heloísa Helena é uma guerreira e poderia demonstrar a garra necessária para angariar votos da extrema esquerda e anular candidaturas inócuas, como a de Plínio de Arruda Sampaio. Marina enveredou por um caminho que demonstra sua inexperiência política e acabou favorecendo a candidatura de Dilma.
Por último, e não menos importante, deveremos avaliar o momento político brasileiro, carente de lideranças capazes de confrontar o grande líder Luiz Inácio Lula da SIlva, um operário que se fez político e estadista, ganhando as manchetes e a atenção do mundo para sua opção pelos pobres. Pode-se questionar seu estilo populista e sua opção desenvolvimentista, por um lado suprindo artificialmente carências através de bonificações do Estado a populações miseráveis, e por outro aliando-se ao que há de mais retrógrado e pernicioso na política brasileira, que são os cartéis do agronegócio e das grandes empresas dos setores de mineração, construção civil, finanças, etc.
Diante dessas opções equivocadas mas eficazes sob o ponto de vista macroeconômico, só nos restaria contrapor políticas voltadas à mudança do modelo político e econômico nacional, favorecendo atividades menos onerosas ao meio ambiente e atitudes menos consumistas, como propõe Marina Silva. Porém, seu discurso não tem eco na população e nas elites. Assim, só nos resta aceitar a derrota e nos conformar com mais quatro anos de desgoverno e de privilégios às classes abastadas, em detrimento da maioria da população. E, paralelemente, ver eleitos os representantes desses mesmos poderosos, os caciques políticos e seus aliados. É uma pena, um atraso que poderá custar muito caro à Nação brasileira e ao planeta Terra, já que grande parte da biodiversidade se encontra aqui.
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