Depois do golpe militar de 1964 todos os partidos políticos foram extintos, com a declarada intenção dos generais de acabar com as ideologias políticas e, ao mesmo tempo, estimular a dicotomia "situação" e "oposição", metamorfoseadas sob as legendas ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Era uma idéia maquiavélica que incentivava o antagonismo das forças populares e simulava uma "democracia" de fachada, exigida pela política externa norte-americana, que financiou o golpe.
É claro que essa hipocrisia não se sustentou e esses "partidos" (a palavra "partido" havia sido inteligentemente banida das siglas) se fragmentaram entre forças de "esquerda" (ligadas aos movimentos sociais e ao Socialismo) e de "direita" (vinculadas ao Poder sob qualquer pretexto). Direita e Esquerda eram expressões para identificar aqueles que se sentavam à direita ou à esquerda na Câmara dos Lordes (nobreza, classe dominante, aristocracia) e na Câmara dos Comuns (povo, classe oprimida, democracia), similares ao Senado e a Câmara, tal como o conhecemos, representadas pelos partidos Conservador e Trabalhista, em versão contemporânea do Poder Britânico.
A ARENA se transformou em PDS (Partido Democrático Social) e o PMDB apenas acrescentou o "P (partido)". Foi apenas uma mudança de siglas. O PDS se fragmentou nos partidos de direita: PFL (Partido da Frente Liberal), de Antônio Carlos Magalhães; PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), de Ivete Vargas; PP (Partido Progressista), de Paulo Salim Maluf; além de inúmeros partidos nanicos à espera de um corruptor e de uma oportunidade para demonstrar seus préstimos. O evento mais claro e vergonhoso dessa "missão" dos nanicos foi a eleição de Severino Cavalcanti em 2005 para a presidência do Senado.
O PMDB se manteve até hoje como sigla e preservou, durante anos, suas características de "lona de circo", sob a qual absorvia e mantinha "unidas" as correntes de esquerda. No entanto, dele saíram os partidos socialistas e a fragmentação maior das oposições no país: PDT (Partido Democrático Trabalhista), de Leonel Brizola; PT (Partido dos Trabalhadores), de Luis Inácio Lula da Silva; PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), de Fernando Henrique Cardoso; PSB (Partido Socialista Brasileiro) de Miguel Arraes; e os partidos nanicos PSTU, PSOL, PCB, PCdoB, PPS...
A herança política de Getúlio Vargas foi disputada por PTB e PDT. O PTB guinou para a direita e é hoje um dos partidos de sustentação do governo Lula; o PDT se manteve como membro das esquerdas descaracterizadas e atua por conveniência, ora apoiando o governo, ora a ele se opondo. Mas foi o PT quem conquistou a simpatia popular, primeiro pela defesa da Ética na Política, e depois pelos resultados do governo Lula e seu apoio popular. A Ética foi jogada no lixo da História na primeira eleição em que Lula se sagrou Presidente da República, pelo envolvimento em escândalos do Mensalão e pela ambição desmesurada pelo poder manifestada pelo seu "ideólogo maquiavélico" e "eminência parda" de Lula, José Dirceu.
O PSDB e o PFL disputaram, durante anos, a ideologia do chamado Neo-Liberalismo, e do movimento pela Globalização, talvez a mais nefasta corrente política da História da Humanidade pelos seus efeitos sobre os hábitos de consumo e a ambição das classes populares de ascender às castas medianas de consumo. O Desenvolvimentismo preconizado pela Globalização deu origem a um consumismo sem precedentes na História, criando a mais perniciosa corrida pela evolução tecnológica e esgotamento dos recursos naturais.
Depois de anos de escândalos políticos o PFL mudou de nome e criou o Democratas. Não foi suficiente, pois a corrupção estava nas pessoas e não no partido político e, hoje, o Democratas continua campeão de escândalos de corrupção no país. A escória política se hospedou nesta sigla e dominou os noticiários da Polícia Federal nos últimos anos.
Nas próximas eleições a "direita" não está concorrendo ao cargo de Presidente da República e isso nada tem a ver com seu poder político, mas às estratégias dos partidos corruptos de dominar o poder sem se desgastar nos processos eleitorais. Tanto no PSDB quanto no PT os partidos de direita estão atrelados como parasitas à espera da definição das urnas. Seja quem for o vencedor das eleições, eles estarão lá para defender suas "idéias", proteger o poder dos grandes industriais, das grandes mineradoras, dos grandes fazendeiros ruralistas, dos grandes banqueiros, das grandes empreiteiras e das grandes corporações econômicas de nosso país.
Assim, seja o PT ou o PSDB o partido vitorioso, quem comandará o Senado e a Câmara dos Deputados será a direita, revanchista, corrupta, imoral e defensora do conhecido jargão popular: "Mateus, primeiro, os meus"!
O PV e Marina Silva não se aliaram a essa partilha política e resolveram se lançar na disputa sem alianças espúrias. Infelizmente, essa é uma tática "kamikaze" e não tem possibilidade de conquistar o poder. O mesmo fizeram o PSTU e o PSOL, só que sob siglas mais radicais e sem possibilidade de mobilizar a opinião pública. O Partido Verde não é um partido de Esquerda, por não ser ideológico; apenas prega a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento econômico não baseado no extremo consumismo.
Os partidos nanicos de direita são todos inexpressivos, principalmente porque, não tendo uma ideologia própria, vivem de divulgar idéias isoladas, como o "imposto único", sem qualquer importância econômica ou social. Alguns se aventuram a lançar candidatura própria, como o antigo partido de Fernando Collor de Mello. Mas não têm representatividade popular.
Assim, nossas heranças políticas demonstram claramente a falência desse modelo de eleições, de governo e de estrutura do Estado. Não há reforma política que possa modificar essa situação. Seria preciso uma nova Assembléia Constituinte formada por intelectuais, juristas, economistas, sociólogos, antropólogos, ideólogos de todas as disciplinas do conhecimento humano para conceber um novo sistema de governo não atrelado a ideologias anacrônicas, e sem segmentação de castas e de ideias.
No entanto, isso é uma Utopia e o que nos espera é continuar fazendo escolhas erradas e arcar com as consequências de longo prazo: a exploração do trabalho semi-escravo, a subserviência das classes populares à aristocracia do poder econômico, a proliferação dos baixos golpes de corrupção, feitos na nossa presença, sob nossos narizes e compactuados pelo poder dominante: político, econômico e social. Não há escolhas!
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