Depois do fim da ditadura militar, a imprensa brasileira organizou-se para exigir que leis fossem promulgadas para protegê-la dos desmandos de governos corruptos e totalitários. Durante anos a Lei da Imprensa cumpriu esse papel até que fosse revogada, a pedido da própria Imprensa, que julgou serem os instrumentos constitucionais suficientes para garantir essa autonomia. No entanto, isso não é verdade!
Nossa imprensa não é igualmente compromissada, seja com os ideais democráticos, seja com a própria qualidade de sua produção de notícias, de análises, de críticas e mesmo de independência das correntes políticas e ideológicas da Nação. A imprensa hoje se confunde com os novos meios de comunicação e, por isso, perdeu sua identidade como veiculadora das informações. Agora qualquer pessoa pode emitir suas opiniões e defender sua ideologia, sem se preocupar com linhas editoriais ou quaisquer outros instrumentos de coerção.
Lamentavelmente, no entanto, a qualidade de nossa imprensa é sofrível e poderosos veículos de comunicação estão completamente comprometidos com setores da economia, com partidos políticos e até mesmo com organizações religiosas. Exemplo disso é o inegável apoio da Rede Globo ao candidato José Serra; não apenas da organização, mas de seus próprios repórteres, que não escondem suas preferências pelo candidato tucano.
Isso não seria tão grave se não fosse a proximidade das eleições e o poder dessa empresa no cenário nacional. E esse comportamento não é de hoje; a eleição de Fernando Collor de Mello deve muito à Rede Globo pela manipulação ideológica do povo brasileiro naquela eleição. E não foi somente a Rede Globo; o jornal "O Estado de São Paulo", extremameente conservador, sempre se posicionou ao lado dos candidatos das elites, da FIESP e do agronegócio. E da mesma forma, esse jornal tem papel importante na formação de opiniões nos meios empresariais do sudeste e do sul do país.
Os debates, as entrevistas e a exposição à mídia durante a propaganda eleitoral gratuita terão pouquíssimo impacto no processo de decisão do povo na escolha de seus candidatos. Embora tenhamos sofisticados meios de proteção do voto em si mesmo, como mecanismo de manifestação popular, a conscientização do povo é uma mentira! Quantos realmente analisam a história política de seus candidatos, seus compromissos com idéias com as quais compactuamos, sua responsabilidade social e a evolução até de sua riqueza pessoal?
Iremos às urnas como sempre fomos, despreparados e irresponsavelmente despreocupados com as consequências de nossas escolhas pessoais. Que importa se a senhora Dilma Rousseff tem predileções por obras faraônicas e pouco se lhe dá quais impactos essas obras terão sobre o meio ambiente e a população do entorno? Que importa se o senhor José Serra possui um discurso monótono, típico dos PSDBistas, enaltecendo-se a si mesmos e às suas realizações do passado? Que importa se a senhora Marina Silva não quer fazer alianças políticas e não está preocupada com a fragorosa derrota que terá nas urnas?
Além do Presidente da República elegeremos senadores, deputados federais, distritais e estaduais e governadores. Essas pessoas permanecerão em seus cargos por quatro anos (oito, no caso dos senadores), sem que nada possamos fazer senão contemplar as barbaridades que cometerão em nome da democracia. Não se ensina política nas escolas; temos mais de 50% de eleitores completamente despreparados intelectualmente até para poder comparar as biografias dos candidatos; e nossa memória política é tão fraca que temos hoje, nesse cenário, "personalidades" como José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor de Mello, Paulo Salim Maluf, Roseane Sarney, Álvaro Dias, Ronaldo Caiado, Aldo Rebelo, Edson Lobão, Romeu Tuma... a lista é enorme e, no entanto, são exatamente estes que irão receber a maioria dos votos dos brasileiros, pois quem não tem consciência política vota pelo "SOM" do nome: quanto mais se repete o SOM, mais provável é sua eleição!
Para que trocar então? Deixem esses daí, que já sabemos como agem! E a imprensa "livre" de nosso país faz muito pouco, quase nada para reverter esse quadro lastimável, assim como o fazem nossos juízes e desembargadores... e para que, então, a "ficha limpa"?
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