Em minha juventude o país vivia uma ditadura militar sangrenta e extremista; proliferavam os movimentos radicais de direita, representados pela OPUS DEI, "Tradição, Família e Propriedade" e Comando de Caça aos Comunistas, de orientação fascista e falaciosa. Eu estava no campo oposto, dos movimentos socialistas e comunistas, lutando contra a ditadura militar e em defesa da liberdade de expressão. Eram facções rivais e ideologicamente opostas.
Naquela época líamos muito, líamos tudo o que caía em nossas mãos, de acordo com nossa ideologia. Eu fazia Estudos Orientais na USP e batalhava nos movimentos estudantis. Fui preso algumas vezes pela polícia política, mas consegui sobreviver, ao contrário de alguns companheiros, torturados e assassinados nos porões do Exército, da OBAN (Operação Bandeirante) e do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), os instrumentos de tortura e repressão da ditadura militar.
Sobrevivi, mas ficou um sentimento de perda irreparável, tanto pelos companheiros mortos, como pelos mutilados e lobotomizados por um "trabalho" de orientação da CIA e do SNI. Fiquei, por muitos anos, traumatizado pelos riscos de ser identificado e morto, em plena juventude, sem ter produzido nada, sem deixar meu rastro na História desse país.
Naquela época líamos muito, jornais, revistas, livros, panfletos, assistíamos espetáculos teatrais censurados, e assim formávamos nossa consciência política e acreditávamos em um mundo de Utopia em que os seres humanos eram pessoas do bem e buscavam, em sua essência e maioria, a solução dos graves problemas sociais que afligiam e afligem o mundo que conhecemos.
Nada disso aconteceu. Prevaleceu o ideário da Ditadura; venceu o Capitalismo e a doutrina Norte-Americana do desperdício, do consumismo e da alienação. Se os jornais, mesmo os mais conservadores, tinham uma ideologia própria e respeitavam o direito de divergir, o tempo fez com que os meios de comunicação se padronizassem em um modelo de informação medíocre, globalizado e infame, que transforma cada indivíduo em um arauto de ideias preconcebidas, sem conteúdo e inofensivas.
A divergência ideológica, a Dialética, é o mais perfeito instrumento de evolução do pensamento humano. Mesmo nos tempos mais negros da Idade Média os pensadores conseguiram produzir obras essenciais para a evolução intelectual da Humanidade.
Porém, com a massificação dos meios de comunicação, essa discussão dialética cedeu lugar à mediocridade, assassinando o pensamento filosófico. O Homem passou a se interessar apenas pela Individualidade, pelo Egoísmo, pela Cultura da Imagem Própria, em detrimento do Ser Humano! Ficamos mesquinhos e pequenos, insignificantes diante do Universo.
Primeiro foi a leitura de Manchetes! Já não importava a análise aprofundada dos eventos, mas apenas "saber" que esses acontecimentos existiam: "você viu o atentado contra os edifícios do Word Trade Center"? "Pois é... que horror, não é mesmo?" Apenas isso! Causas? Consequências? Para que? Bastava saber que aconteceu!
Agora, as redes sociais fazem o "estrago" final, eliminando qualquer preocupação com o entendimento de causas, efeitos e prioridades nos eventos do mundo contemporâneo: "hoje acordei cansada", diz a jovem. "Por que?", pergunta o 'amigo'". Eu fui à "balada" e cheguei às seis da manhã!", responde e finaliza a jovem. Apenas isso.
É assim que se desenvolve o pensamento contemporâneo. Tanto faz a precedência dos fatos, todos passaram a ter a mesma relevância, seja o cocô do neném, seja o porre do indivíduo, seja a morte de milhares de pessoas no tsunami das Filipinas, seja a miséria dos bilhões de esquecidos nos países pobres e em desenvolvimento. Estamos todos "no mesmo barco furado" e sem destino.
A "Cultura do Facebook" é a mais perniciosa da História da Humanidade! Milhões de pessoas conectadas, sem saber o que dizer, sem ter nada para dizer de relevante nesse mundo de mediocridade e marasmo em que vivemos! Somos, assim, levados pela correnteza do excesso de palavras e ausência de conteúdo, cada um "na sua", tentando passar o tempo e deixando a vida seguir seu curso inútil, desnecessária e irrelevante.
Para onde caminhamos? Qual o futuro dessa Humanidade sem causas, sem ideias, sem nada para defender ou contestar? Provavelmente, seremos conduzidos para a catástrofe natural, uma vez que, sem ideologia e sem destino, o excesso de consumismo e individualismo nos levará, necessáriamente à extinção.
Melhor assim do que viver sem propósitos!
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