sexta-feira, 30 de agosto de 2013

PUNIÇÃO À SÍRIA PELO USO DE ARMAS QUÍMICAS

Vítimas de ataques com armas químicas na Síria
Diante do suposto massacre de quase 1.500 pessoas, inclusive mulheres e crianças, pelo uso de armas químicas (provavelmente o gás Sarin) nas regiões de conflito dominadas pelos rebeldes na Síria, os Estados Unidos defendem um bombardeio "cirúrgico" às forças governamentais de Bashar Al Assad, como represália. É inquestionável a crueldade desse fato, caso seja comprovado, assim como o uso do "agente laranja", fartamente utilizado pelos mesmos norte-americanos contra as populações vietcongues, durante a Guerra do Vietnam (ver minha postagem neste blog: Guerra do Vietnã: Armas Químicas e Biológicas).

Os atuais "Defensores da Democracia" já cometeram os piores e mais hediondos crimes contra a Humanidade, desde o final da 2ª Guerra Mundial, sem que as Nações Unidas se manifestassem, ao menos com uma "inocente" Moção de Censura! Todas as ditaduras militares da América Latina, no período de 1960 a 1990, tiveram as mãos sujas do "Tio SAM" por trás dos golpes, geralmente através de ações da CIA, a agência de "inteligência" daquele país, ou de "consultores" e adidos militares nas embaixadas.

Por mais que as evidências sinalizem que o massacre tenha acontecido, que de fato tenham sido usadas armas químicas, e que o presidente da Síria seja o mandante do ataque, a Comunidade Internacional deverá exigir uma comprovação oficial e tecnicamente documentada, para se evitar um novo "equívoco", como o que ocorreu na Guerra do Iraque. Na época, George Bush declarou, oficialmente, que Saddam Hussein armazenava armas químicas em seu território, e as teria utilizado contra as populações minoritárias dos Curdos, além de ameaçar os seus vizinhos, para justificar sua participação militar.

O Iraque foi vítima de uma das mais cruentas guerras, com a presença norte-americana. Saddam Hussein foi preso e executado, mas nenhum depósito de armas químicas foi encontrado. Nos quartéis americanos do Iraque foram perpetradas as piores atrocidades contra prisioneiros de guerra (assim como vem acontecendo na prisão de Guantánamo, em Cuba, há mais de 50 anos), mas nenhum país do mundo se manifestou contra a tortura! Acima dos "propósitos altruístas" havia o interesse pelo petróleo iraquiano...

Como parte desse mesmo e lamentável episódio da História recente, o Afeganistão foi também vítima da truculência das forças norte-americanas, em busca de Osama Bin Laden, um terrorista "criado" pelos Estados Unidos em busca de seus interesses comerciais. A Al Qaeda surgiu depois que os americanos deixaram de apoiar Bin Laden, e ele se voltou para a "Guerra Santa" dos fanáticos muçulmanos. Anos depois, houve o terrível atentado às Torres Gêmeas de New York, utilizado por Bush para radicalizar a ação bélica norte-americana. Contra um grupo de fanáticos se justificou uma guerra que durou dez anos!


Reunião do Conselho de Segurança da ONU
Anos mais tarde, já sob a presidência de Barack Obama, Bin Laden foi assassinado em território do Paquistão, sem a autorização daquele país, caracterizando uma invasão militar dos Estados Unidos, mais uma vez sem nenhuma reação mundial de protesto, seja da ONU, seja dos países europeus, ou dos países alinhados com a Rússia e a China. Mais uma vez, interesses comerciais falaram mais alto.

Sabe-se que as Guerras do Oriente Médio só aconteceram por causa dos poços de petróleo, e os maiores interessados sempre foram os Estados Unidos. A participação européia nos conflitos foi pequena, e apenas para justificar a partilha dos "saques" ao petróleo mundial. Isso evidencia que as guerras contemporâneas não se diferenciam substancialmente, em seus propósitos, de todas as guerras em que a humanidade esteve envolvida ao longo de sua história: o objetivo foi sempre o de saquear os derrotados, ainda que sob o peso moral de milhares de vítimas inocentes!

Mas voltemos ao uso das armas químicas pela Síria... permanecem as dúvidas: as mortes de fato aconteceram? Sua causa foi realmente devida a gases químicos letais? Se comprovado, quem atirou contra a população de rebeldes: o Hezbollah, as forças de Assad ou os próprios rebeldes, pretendendo reverter a dramática situação em que se encontram, perdendo cada vez mais territórios?


Ataque de aviões americanos com armas químicas no Vietnam
Enquanto essas dúvidas não forem solucionadas, como justificar um ataque, ainda que "cirúrgico", contra as forças leais ao presidente Bashar Al Assad? Afinal, ainda que sejamos contrários a seus métodos cruéis e totalitários, tudo indica que ele tem o apoio da maioria da população. Além disso, as forças rebeldes não são homogêneas e não parecem defender uma "democracia" nos moldes do Ocidente. O que nos faria crer que, caso vencessem a guerra civil, implantariam um regime menos brutal e mais liberal para seus cidadãos? E, sendo muçulmanos, poderemos julgar seus valores à luz de nossas próprias crenças e convicções? Na ausência de um consenso, como justificar uma intervenção em um país independente? Aliás, em todas as intervenções militares havidas ao longo de nossa história, nenhuma se mostrou justa e teve como resultado a criação de nações democráticas e politicamente estáveis.

De qualquer modo, os Estados Unidos não possuem autoridade moral para cometer mais esse crime contra uma nação do Oriente Médio, principalmente porque seus interesses na região não conferem a eles a isenção necessária para justificá-la. Pesam, na consciência dos norte-americanos, milhares de crimes de toda espécie: ambientais, políticos, morais, étnicos e, principalmente, militares. Seu poder bélico constrange o mundo "civilizado" pela força e brutalidade, e não pelos argumentos humanitários que alegam possuir...

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A NAÇÃO ALGEMADA!



Mais uma vez, o Congresso Nacional demonstra seu comprometimento com a corrupção e a bandidagem, e não cassa o mandato de NATAN DONADON, já condenado pelo STF e por todas as instâncias do Judiciário a 13 anos de prisão, na cadeia de PAPUDA, em Brasília! 131 deputados votaram contra a cassação, 41 se abstiveram de votar e outros 54 fugiram do plenário na hora da votação, para não se comprometer com o comparsa, além dos 108 deputados que faltaram à sessão, incluindo os 54 deputados que estavam presentes e abandonaram a sessão. Apenas 233 deputados votaram a favor da cassação.


"Entre aqueles que compareceram à sessão, mas deixaram de registrar voto estão deputados como Jaqueline Roriz (PMN) - que escapou de processo de cassação em 2011, Valdemar Costa Neto (PR) - condenado no processo do mensalão, Paulo Maluf (PP-SP), Marco Feliciano (PSC-SP) Gabriel Chalita (PMDB-SP). Dos 14 partidos cujos deputados deixaram de votar, o PT foi o que registrou maior número, com 11 parlamentares. Entre eles está João Paulo Cunha (SP), também condenado no processo do mensalão. Somados aos 11 petistas, outros 9 deputados do partido faltaram à sessão." (Estadão)

O problema, infelizmente, não é apenas o voto secreto. Se os deputados votam em defesa da quadrilha, quando não podem ser identificados pelos eleitores, é porque não têm dignidade! Mas isso também é a prova contumaz de que a população brasileira não está preparada para escolher seus governantes e seus representantes nas casas legislativas, ou seja, o modelo político brasileiro está superado, falido mesmo!

Não basta uma reforma política: uma nova maneira de governar o país precisa ser implementada, e ela passa, necessariamente, pela Reforma Política, mas não se esgota nela. Salários milionários, benefícios e privilégios de toda sorte, influência perniciosa nas ações do governo são ingredientes que levam os representantes do povo a demonstrar sua falta de caráter e seu despreparo para conduzir a vida pública da Nação. Mas nosso sistema "democrático" também não é representativo da população brasileira. Não quero crer que nosso povo seja corrupto ou conivente com esses bandidos que estão no Congresso Nacional e em todas as câmaras legislativas do país... eles apenas não têm educação política suficiente para votar.



Há alguns dias, o deputado Asdrúbal Bentes, conhecido pelos seus crimes ambientais e outros crimes (*), afirmou ao Coordenador Geral de Índios Isolados da FUNAI que nossa Instituição deveria "baixar a cabeça" quando entrasse no Congresso. Pergunto, agora, ao "ilustre" deputado: QUEM DEVE BAIXAR A CABEÇA, deputado??? Nós, servidores públicos federais da FUNAI, temos uma história de trabalho intenso e dedicação solidária à causa indígena, lutando para proteger essas populações dos políticos safados, como o senhor, e outros, aconchavados com a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e com a famigerada Bancada Ruralista de Blairo Maggi, Ronaldo Caiado e Kátia Abreu, os verdadeiros inimigos do Brasil. E vocês, deputados corruptos, que compromisso têm com a Nação Brasileira???


Agora, com essa decisão absurda, teremos um deputado corrupto, preso na cadeia de Papuda, mas com seu mandato político preservado! Diante desse fato consumado, e por mais surreal e absurdo que seja, como se comportará o Povo Brasileiro? Agora, que os movimentos de rua decaíram para o vandalismo inconsequente, quem irá nos defender da quadrilha que se instalou no poder? Agora, que a decisão da Suprema Corte do País foi desconsiderada pelos parlamentares, o que farão Joaquim Barbosa e o STF?

No entanto, o que se pode esperar de um país que ajuda um senador corrupto (Roger Pinto Molina), de um país vizinho e amigo (a Bolívia), a fugir de nossa Embaixada em seu país, entrando clandestinamente no Brasil em carro oficial escoltado por policiais brasileiros, com o apoio de um diplomata (Eduardo Saboia), incensado agora pelas "elites" e pelos deputados brasileiros como o novo HERÓI NACIONAL???

Não podemos admitir a omissão e o silêncio coletivo diante dessa afronta dos congressistas! A NAÇÃO BRASILEIRA EXIGE UMA RESPOSTA, e não poderemos esperar as urnas de 2014 para nos manifestar! Deixo, pois, a todos, o brado de Vandré, em sua eterna canção "Prá não dizer que não falei das flores"...

"VEM, VAMOS EMBORA, QUE ESPERAR NÃO É SABER!
QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER!"

(*) "Mesmo sem a chamada “prova cabal”, o STF considerou o deputado federal Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) culpado de compra de votos e formação de quadrilha, entre outros crimes. O julgamento ocorreu em setembro de 2011. O parlamentar acabou condenado porque seria o beneficiário de um esquema pelo qual 13 mulheres haviam sido recrutadas para fazer cirurgias gratuitas de laqueadura." (CB)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Nota da Rede Sustentabilidade sobre o registro do partido no TSE


Em relação a notícias publicadas ontem e hoje, após o pedido oficial de registro da Rede Sustentabilidade como partido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), informamos que é preciso esclarecer ao público que em nenhum momento a #rede solicitou que sejam abertas exceções para dar andamento no processo de criação do partido.Todas as ações tomadas até o momento e todos os procedimentos solicitados pela #rede estão previstos em lei e resoluções da Justiça Eleitoral e já foram aplicadas em outras ocasiões. Dessa forma, a #rede não pede favorecimento, mas apenas o cumprimento da legislação eleitoral.

A afirmação de que a #rede pretende criar o partido sem o número mínimo de assinaturas de apoio é falsa. Na manhã de ontem (26) a Rede Sustentabilidade deu apenas o primeiro passo no processo de registro no TSE, que deve durar pelo menos 30 dias. Ao longo desse processo serão entregues todas as assinaturas necessárias, incluindo as que ainda não foram certificadas devido à lentidão dos cartórios eleitorais, que não vêm cumprindo o prazo legal de 15 dias para validação.

Em relação à petição para a certificação das assinaturas de apoio por edital, a #rede informa que este é um procedimento normal, previsto pela Resolução TSE 23.282 de 2010, que já foi aplicado anteriormente. Exemplo disso foi a decisão da Justiça Eleitoral do Rio Grande do Sul, que certificou as assinaturas de apoio à #rede dessa forma. Assim, essa solicitação não é uma inovação nem uma forma de pular etapas. A #rede solicita o uso desse expediente somente nos casos de invalidações sem justificativas e nos casos de ausência de parâmetros e material de comparação para a certificação, como forma de tratar problemas estruturais do processo, que são as principais causas dos atrasos nos cartórios.

É importante lembrar que certificação por edital permite cumprir uma lei que não vem sendo respeitada pelos cartórios eleitorais, a qual prevê um prazo máximo de 15 dias para checagem e validação das assinaturas. A #rede busca, por meio desse procedimento, lidar com um problema sistêmico, que são a falta de recursos humanos e materiais nos cartórios, a falta de padronização dos procedimentos de certificação, inconsistência nos dados armazenados dos eleitores e a falta de justificativas para recusas de assinaturas.

A Rede Sustentabilidade reitera que 867 mil pessoas em todo o país deram seu apoio à criação do partido e 637 mil tiveram suas assinaturas encaminhadas aos cartórios eleitorais. Somente menos da metade delas - 304 mil assinaturas – foram certificadas até o momento. Há cerca de 220 mil cidadãos cujo apoio ainda não foi validado. Cerca de 90% deles há mais de 15 dias. Outros 30 mil aguardam há dois meses. Dos 95 mil apoios rejeitados pelos cartórios, 80% não tiveram direito a uma justificativa que explique porque sua voz não pôde ser ouvida.

Sobre a Resolução TSE 23.282 de 2010

O pedido de validação mediante publicação de edital das assinaturas cujos prazos venceram em cartório é um expediente previsto na Resolução TSE 23.282 de 2010 que disciplina o processo de criação de partidos políticos. No artigo 13, parágrafo único, a Resolução determina que as certidões a serem emitidas pelos cartórios eleitorais deverão conter "o número de eleitores que apoiaram o partido político em formação até a data de sua expedição, certificado pelo chefe de cartório da respectiva zona eleitoral, com base nas listas ou formulários conferidos ou publicados na forma prevista, respectivamente, nos §2o e § 3o do art. 11 desta Resolução". O parágrafo 3º do artigo 11 diz que "No caso de dúvida acerca da autenticidade das assinaturas ou da sua correspondência com os números dos títulos eleitorais informados, o chefe de cartório determinará diligência para sua regularização”. Essa diligência é a publicação via edital.

Pela legislação eleitoral, o cidadão só pode votar em candidatos filiados a partidos políticos. Ou seja, a constituição de um partido politico é um direito constitucional fundamental tão relevante quanto o direito ao voto. A Rede Sustentabilidade, baseada nesse princípio, na legislação eleitoral e no apoio de mais de 800 mil cidadãos em todo o país, demanda tão somente que se cumpra a lei.

Quem são e o que pensam os médicos cubanos

Os primeiros profissionais a pisarem em solo brasileiro têm entre 41 e 50 anos, pós-graduação concluída e experiência em zonas de conflito ou de países com baixo IDH na América Latina, África e Ásia
27/08/2013
Luiz Carlos Pinto
Millar Castillo, Milagros Gardenas, Natasha Sanches, Wilma Salmora Louis, Rodovaldo Santos e até um Nelson Rodrigues. Os primeiros profissionais da saúde cubanos a pisar em solo brasileiro para trabalhar no programa Mais Médicos, do governo federal, possuem um perfil muito definido.
Os médicos que atenderão amplas parcelas da população pobre brasileira têm entre 41 e 50 anos, possuem filhos adultos empregados ou fazendo algum curso superior em uma das instituições de ensino cubanas, mais de 16 anos de carreira médica, mestrado ou pós-graduação concluídos – inclusive na área de administração hospitalar –, experiência em zonas de conflito ou de países com baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) na América Latina, África e Ásia.
São características de um perfil que também contraria certa expectativa por médicos jovens, filhos ou netos de outros profissionais da saúde – uma tradição presente na cultura brasileira, por exemplo. Nenhum dos doutores com os quais Carta Maior conversou é filho ou neto de médicos.

Esse é o perfil dos médicos cubanos que atenderão à maior parte dos 701 municípios que não despertaram interesse de médicos brasileiros ou de outras nacionalidades. O que também chama a atenção é a variedade das localidades de onde os cubanos são originários – nenhum dos seis entrevistados (de um total de 96 que ficam acomodados nas próximas duas semanas em Recife) é da mesma cidade ou província. Assim, se pode intuir como a formação médica na ilha atinge de forma mais homogênea moradores do país, o que é fator de distribuição do atendimento, mesmo nas regiões distantes da capital Havana.

Um ideal que o modelo brasileiro, por circunstâncias naturais (grandes distâncias), mas principalmente por determinações históricas, ainda está longe de ser alcançado. Os locais onde atuarão os médicos de Cuba têm os piores índices de desenvolvimento humano do país – IDH muito baixo e baixo, segundo PNUD –, e 84% estão no interior do norte e nordeste, em regiões com 20% ou mais de sua população vivendo em situação de extrema pobreza.

Bandeira na mão
Durante todo o tempo em que permaneceu no aeroporto de Recife para a entrevista coletiva com a imprensa, no último sábado (23), a médica da família Milagres Cardena (24 anos de profissão) não soltou a bandeira de um metro e meio por 50 cm de seu país, que trazia estendida à frente do corpo por onde passasse.
Na mão esquerda, segurava uma bandeirola do Brasil, e tinha na ponta da língua uma afirmação que parece condensar o sentimento comum dos colegas de vôo. “Viemos para ajudar, colaborar, complementar, aprender com os médicos brasileiros no atendimento básico da população carente desse grande país”.

Quando perguntada se se sentia explorada, como sugerem setores liberais da imprensa brasileira, por não receber diretamente o salário pago pelo governo brasileiro, a resposta gentil e segura foi dada por outro colega da senhora Cardena, a seu lado. “Não estamos aqui para ganhar dinheiro. Nossa missão é humanitária, estamos aqui por solidariedade”, afirmava Nelson Rodrigues.

A colocação, endossada pelos companheiros, era reforçada pelo entendimento de que essa ação faz parte de uma relação entre nações. O nacionalismo, aliás, é um elemento presente na fala de todos os médicos entrevistados.

A afirmação deu o tom das primeiras reportagens baseadas na entrevista coletiva publicadas nos jornais do domingo (25). Mas o mesmo questionamento sobre a forma de pagamento e a possibilidade de serem explorados voltaria à pauta na entrevista, quando mais uma grupo com 66 médicos cubanos desembarcou no Recife.

A frase do médico, 45 anos, 21 anos de profissão, expressa o que parece ser um elemento comum e poderoso do perfil do profissional da saúde formado na escola cubana. “A base de nossa formação é humanista. É esse o caráter de nossa formação. A atenção ao indivíduo como forma de tratá-lo como ser humano integral é um elemento forte em qualquer processo de cura”. Tendo passado por programas semelhantes no Haiti e Venezuela, o médico reiterava a experiência de todos os médicos de Cuba que chegam ao Brasil: a atuação em países com baixos níveis de IDH e comumente em más condições de trabalho.

“Mas sabemos que o seu país é grande, com grandes recursos humanos e econômicos”, lembrava Natasha Romero Sanches, epidemiologista nascida em Pillar del Rio, a província mais a oeste de Havana. A frase solta, quase displicentemente, pareceu ter um alvo bem claro: a ideia plasmada de que as condições de trabalho dos profissionais da saúde no Brasil é ruim, natural e indefinidamente – o que acomoda as possibilidades e espaços de reivindicação por melhores condições de atendimento nas unidades de saúde.

Filha de um oficial russo e de uma cubana, Natasha, 22 anos de profissão, também segurava sua bandeirola brasileira. Usava brincos verdes compridos, que o jaleco alvíssimo evidenciava – todos os médicos cubanos, aliás, diferentemente de espanhóis, argentinos e portugueses, viajam a caráter. E a saudade de casa, como fica? “Meu filho é um adulto, está terminando o curso de medicina em Havana, onde moram meus pais – eu moro em minha província. Todos são saudáveis e estão bem, não há ruptura ou trauma no afastamento. Isso não é novo, pois todos já estivemos trabalhando em outros países”, afirmava entre um sorriso e outro.

“Meus filhos já estão todos criados, emendava Milagres Gardenas, que com experiência médica no Paquistão, Honduras e Colômbia é uma das mais experientes do primeiro grupo a chegar ao Brasil. “Essa iniciativa do governo brasileiro é muito positiva. Penso que todos vão sair ganhando. Vamos aprender com nossos colegas brasileiros. O mesmo temos feito em países com situações muito problemáticas, na Ásia e na América Latina. Penso que isso será benéfico para o povo pobre que requer atenção médica e atenção primária adequadas. Vamos trata-los e fazer todo o possível. O mesmo fizemos em outros lugares”.

Dificuldades econômicas - Quando perguntados se as dificuldades econômicas do Estado cubano prejudicam a formação dos médicos no país caribenho, a resposta – “Cuba hoje forma médicos de todo o mundo” – é acompanhada de um complemento. “Nosso país tem uma situação difícil, mas nós compartilhamos o que temos. Penso que isso, como o povo brasileiro, vai ser sumamente positivo, vitorioso”, complementava Nelson Rodrigues.

O ponto de vista foi reforçado por Wilma Salmora Louis, que no domingo explicava como via os reflexos das medidas liberalizantes que vem sendo implementadas por Raul Castro. “Não acredito que essas medidas vão intensificar a diferença social entre as classes em meu país. São medidas muito aguardadas no mundo todo, e que precisam ser tomadas para mudar o que está mal em Cuba”, disse.
“São medidas para melhorar os indicadores da população cubana”, complementou. Com mestrado em gestão hospitalar – 20% dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos têm algum tipo de pós-graduação), Wilma Salmora já é uma conhecida do Brasil. Esteve trabalhando no Estado do Tocantins entre 2001 e 2002. Com 45 anos, 23 deles dedicados à medicina, tem dois filhos. “Um deles é professor e vai começar a ensinar no próximo mês; o outro é técnico em computação”, afirma.

Um outro ponto em comum de todos os médicos entrevistados é a admiração ao povo brasileiro e a expectativa em serem bem tratados. “Falem para o povo brasileiro que nós viemos ajudar. E que confiem nos médicos cubanos”, dizia Wilma Salmora. “As críticas que as entidades médicas locais têm feito não nos preocupam. Acho que teremos uma relação positiva com o Brasil e continuaremos a ter, pois viemos para trabalhar juntos”, disse.

Fonte: BRASIL DE FATO

O lado mais sujo da Monsanto

Fonte: OUTRAS PALAVRASPor Marianne Falck, Hans Leyendecker e Silvia Liebrich, no Süddeutsche Zeitung
|Tradução: Regina Richau Frazão | Imagem: Eric Drooker





Para impor seus produtos em todo o mundo, empresa mobiliza agências de espionagem norte-americanas, vigia cientistas e dispara ataques cibernéticos

O grupo americano Monsanto (1) é um gigante no agronegócio – e é o número um na área da controvertida tecnologia genética “verde”. Para seus opositores, a Monsanto é um inimigo assustador. E continuam acontecendo coisas intrigantes que fazem o inimigo parecer ainda mais aterrorizante.
No mês passado, a organização europeia protetora do meio ambiente “Amigos da Terra” e a Federação para meio Ambiente e Proteção à Natureza Deutschland (BUND) quiseram apresentar um estudo sobre os efeitos do herbicida glifosato no corpo humano. Os herbicidas que contêm glifosato são carros-chefes da Monsanto. A empresa fatura mais de dois bilhões de dólares somente com o agente Roundup. Os “herbicidas Roundup”, assim sustenta a Monsanto, “têm uma longa história de uso seguro em mais de 100 países”.

Quando os vírus atacaram seus computadores, os ativistas se indagaram: 

será que estamos vendo fantasmas?

Entretanto existem também pesquisas alegando que o agente possivelmente cause prejuízos a plantas e animais; e o estudo mais recente demonstra que muitos moradores de grandes cidades vivem com o veneno no próprio corpo, sem terem conhecimento disso. Como tantas outra coisas relacionadas a esse assunto, é discutível o que exatamente o pesticida é capaz de provocar no organismo humano.

Dois dias antes da publicação do estudo em dezoito países, um vírus paralisou o computador do principal organizador, Adrian Bepp. Houve ameaça de cancelamento das entrevistas coletivas em Viena, Bruxelas e Berlin. “Surgiu pânico”, lembra Heike Moldenhauer da BUND. Os ativistas do meio ambiente viram-se correndo contra o tempo.

Moldenhauer e seus colegas tinham feito diversas especulações sobre os motivos e a identidade do misterioso agressor. A especialista em tecnologia genética do BUND acredita que o principal objetivo do desconhecido fornecedor do vírus tenha sido “gerar confusão”. Não há nada pior para uma pesquisa do que cancelar uma coletiva da imprensa. “E nós ficamos nos perguntando se estávamos vendo fantasmas”, diz Moldenhauer.

Não há nenhum indício de que Monsanto tenha sido o fantasma, ou que tenha algo a ver com o vírus. O grupo sustenta que não faria algo assim. Preza “agir com responsabilidade”: “hoje em dia é muito fácil fazer uma afirmação e de difundi-la”, diz a Monsanto. Dessa forma, prossegue “periodicamente são feitas afirmações duvidosas e populistas que denigrem nosso trabalho e nossos produtos, carecendo de qualquer abordagem científica.”

Os críticos do grupo têm outra visão. Ela tem a ver com a espessa trama tecida ao redor do mundo pela Monsanto, cujos entroncamentos estão localizados nos serviços secretos norte-americanos, nas suas forças armadas, em empresas de segurança privadas e, é claro, também junto ao governo dos EUA.

Um número expressivo de críticos da Monsanto relata ataques cibernéticos regulares, praticados com gabarito profissional. Também os serviços secretos e o serviço militar gostam de contratar hackers e programadores. Estes são especialistas em desenvolver cavalos de troia e vírus para penetrar em redes de computadores alheios. O ex-agente da CIA Edward Snowden chamou atenção ao nexo entre as ações dos serviços de notícias e as movimentações da economia. No entanto, esta ligação perdeu força diante das demais denúncias.

Alguns dos poderosos defensores da Monsanto entendem bastante do assunto da guerra cibernética. “Imagine a internet como uma arma que está sobre a mesa. Ou você a pega, ou seu concorrente irá fazê-lo, mas alguém será morto”, foi o que disse Jay Byrne em 2001, quando era chefe de relações públicas na Monsanto.

É comum empresas lutarem com métodos escusos em função daquilo que consideram como seu direito, como sendo o certo. Porém, os termos “amigo ou inimigo”, “ele ou eu” já denotam linguagem de guerra. E numa guerra é preciso ter aliados – por exemplo, aqueles instalados no serviço secreto.

São conhecidos os contatos da Monsanto com o notório ex-agente secreto Joseph Cofer Black, que colaborou na formulação da “lei da selva”, na “campanha anti-terror” de George W. Bush. Ele é especialista para trabalho sujo, da linha dura. Trabalhou para a CIA durante quase trinta anos, sendo inclusive o chefe “antiterrorista”. Mais tarde seria o vice-presidente da empresa de segurança particular Blackwater, que mandou milhares de mercenários para o Iraque e o Afeganistão.

Pesquisas mostram como são estreitos os laços da direção da empresa com o governo central em Washington e com representações diplomáticas dos EUA no mundo inteiro. A Monsanto tem auxiliares eficazes em diversos lugares. Antigos colabores da corporação ocupam altos postos nos EUA, em departamentos governamentais e ministérios, em federações da indústria e universidades. Por vezes, são relações quase simbióticas. De acordo com informações da organização anti-lobby Open Secrets, no ano passado 16 lobistas da Monsanto ocuparam cargos de alto nível no governo norte-americano e em agências reguladoras.

Para a empresa, trata-se de ocupar novos mercados e em vender alimentos a uma população mundial que cresce em ritmo alucinante. A engenharia genética e as patentes relacionadas com plantas desempenham um papel importante nesse contexto. Nos Estados Unidos, o milho e soja geneticamente modificados representam 90% dos cultivos — e este percentual cresce de modo constante também no resto do mundo.

Apenas no mercado europeu, nada acontece. Diversos países da União Europeia (UE) têm muitas restrições com relação ao futuro da Monsanto, o que visivelmente desagrada ao governo dos EUA. No ano de 2009, Ilse Aigner, Ministra da Alimentação, Agricultura e Proteção ao Consumidor da Alemanha, filiada ao Partido da União Social-Cristã, havia banido o tipo de milho MON810 também dos campos alemães. Ao viajar logo depois para os Estados Unidos, foi interpelada pelo colega americano Tom Vilsack, com respeito à Monsanto. O político, do Partido Democrata, havia sido governador no estado federal Iowa, de característica rural, e logo tornou-se adepto dos transgênicos. Em 2001, foi eleito pela bioindústria como “governador do ano”.

Infelizmente, não há registro da conversa entre Vilsack e Aigner. Dizem que foi controvertida. Um representante do governo federal alemão descreve o tom do diálogo da seguinte forma: houve “esforços maciços de forçar uma mudança de rumo dos alemães com respeito à política genética” . A fonte da informação não quis se pronunciar sobre o tipo dos “esforços maciços”, nem sobre a tentativa de “forçar” alguma coisa. Isto não se faz entre amigos ou parceiros.

Graças a Snowden e ao Wiki-Leaks, o mundo pode imaginar o que acontece entre amigos e parceiros, quando o poder e o dinheiro estão em jogo. Dois anos atrás, o Wikileaks publicou despachos diplomáticos, que incluíam detalhes sobre a Monsanto e a engenharia genética.
Em 2007, por exemplo, o então embaixador norte-americano em Paris, Craig Stapleton, sugeriu ao governo dos EUA que elaborasse uma lista suja dos países da União Europeia que estivessem dispostos a proibir o plantio de sementes geneticamente modificadas por empresas norte-americanas. O teor da mensagem secreta: “A equipe parisiense sugere propor uma lista de medidas de retaliação que irá causar dores à Europa”. “Dores”, “retaliação” – a rigor, essa não é exatamente a linguagem da diplomacia.

A luta pela autorização do famoso milho geneticamente manipulado MON810 na Europa foi conduzida pela Monsanto com muito trabalho de lobby – e ao final, a empresa perdeu por completo. O produto foi banido inclusive dos mercados prestigiados da França e da Alemanha. Uma aliança entre políticos, agricultores e pessoas relacionadas às igrejas recusou a engenharia genética nas plantações, e os consumidores não a querem em seus pratos. No entanto, a batalha ainda não terminou. Nas negociações iniciadas nos mês passado entre os EUA e a UE, sobre um tratado de “livre” comércio, os Estados Unidos esperam, entre outras coisas, uma abertura dos mercados para a tecnologia genética.

Com o Tratado de Livre Comércio, 

EUA querem abrir o mercado de transgênicos na Europa

Fazer lobby por uma empresa nacional no exterior é algo visto como dever cívico, nos EUA. Há muito, as mais significativas entre os dezesseis agências de inteligência norte-americanas entendem seu trabalho como apoio aos interesses econômicos norte-americanos no cenário mundial. Alegando combater o terrorismo, não somente espionam governos, órgãos públicos e cidadãos, mas também empenham-se — do seu modo muito peculiar — a favor de interesses econômicos do país.

Alguns exemplos:

Várias décadas atrás, quando o Japão ainda não era uma potência econômica, surgiu nos Estados Unidos a pesquisa “Japão 2000”, elaborada por um colaborador do Rochester Institute of Technology (RIT) Através de uma “política comercial temerária”, assim dizia o estudo, o Japão estaria planejando uma espécie de conquista do mundo, e os perdedores seriam os EUA. A segurança nacional dos Estados Unidos estaria ameaçada e a CIA deu o grito de guerra.

Na competição global, a economia norte-americana tinha que ser protegida dos “dirty tricks”, os truques sujos dos europeus, declarou o ex diretor da CIA James Woolsey. Por esta razão, os “amigos do continente europeu” estariam sendo espionados: os Estados Unidos são limpos…

Edward Snowden esteve certa vez pela CIA na Suíça, e há dias relatou a maneira como a empresa teria tentado envolver um banqueiro suíço na espionagem de dados bancários. A União Europeia permitiu aos serviços norte-americanos examinar em profundidade os negócios financeiros de seus cidadãos. Segundo dizem, o objetivo é secar as fontes financeiras do terror. Os meios e os fins, entretanto, são altamente discutíveis.

Na Suíça que anteriormente foi palco de muitas histórias de agentes, desenrolou-se um dos episódios que tornaram a Monsanto particularmente misteriosa: em janeiro de 2008, o ex agente da CIA Cofer Black viajou para Zurique para encontrar-se com Kevin Wilson, na época, o responsável pela segurança para questões globais. A pergunta, a respeito do que os dois homens estariam falando, ficou no ar. Certamente os assuntos eram os de sempre: opositores, negócios, inimigos mortais…

O jornalista investigativo Jeremy Scahill, autor da obra sobre a empresa de mercenários Blackwater, escreveu em 2010, no jornal semanal americano The Nation,sobre esse estranho encontro em Zurique. Tinha recebido documentos vazados, a respeito do assunto. Deixavam claro que a Monsanto estava querendo se defender contra ativistas que queriam destruir suas plantações experimentais; contra críticos que se posicionavam contra a empresa de modificação genética. Cofer Black era, para todos os efeitos, a pessoa certa: “Vamos tirar as luvas de pelica”, havia declarado após os ataques de 11 de setembro, conclamando seus agentes da CIA a livrar-se de Osama bin Laden no Afeganistão: “Apanhem-no: quero a cabeça dele dentro de uma caixa”. Mas ele também entende muito do outro negócio do serviço secreto; aquele que opera com fontes de acesso público.


Efeitos tardios da guerra: muitas crianças vietnamitas sofrem pelo uso do “Agent Orange”, mesmo décadas depois. – FOTO: ROLANDSCHMID/BLOOMBERG
Ao encontrar-se com Wilson, dirigente de segurança na Monsanto, Cofer Black ainda era vice na Blackwater, cujos clientes eram, entre outros, o Pentágono, o Departamento de Estado, a CIA, e logicamente, empresas particulares. Mas em janeiro de 2008 houve muitos tumultos, pois 17 civis foram assassinados no Iraque por mercenários da empresa de segurança, e alguns homens da Blackwater chamaram atenção de funcionários do governo iraquiano devido a atos de suborno. Acontece que Cofer Black, na época, era também o chefe da empresa de segurança Total Intelligence Solutions (TIS), uma subsidiára da Blackwater, e que, apesar de sua reputação menos devastadora, contava também com “experts” excelentes e versáteis…

De acordo com as próprias informações, a Monsanto fez negócio, na época, com a TIS e não com a Blackwater. Era inquestionável que a Monsanto fora abastecida pela TIS, com relatórios sobre as atividades dos críticos – as quais poderiam representar um risco para a empresa, seus colaboradores ou seus negócios operacionais. Fazia parte tanto coletar informações sobre ataques terroristas na Ásia quanto escanear páginas da internet e blogs. A Monsanto frisava que a TIS, obviamente, só tinha usado material de acesso público…

Isso corresponderia aos métodos de Cofer Black. Então – nada de ações escusas.

Costumava haver boatos frequentes de que a Monsanto quisera assumir o controle da TIS, objetivando a sua segurança geral. E hoje surgem novos rumores, segundo os quais o grupo estaria avaliando a possibilidade de assumir a empresa Academi, que formou-se após reorganizações da antiga Blackwater. Será que os rumores procedem? “Em geral, não discutimos os detalhes do nosso relacionamento com os prestadores de serviço – a não ser que essas informações já estejam disponíveis ao público”, foi a única resposta da Monsanto.

Toda empresa possui a sua própria história, e da história da Monsanto faz parte um assunto que queimou sua imagem não apenas junto aos hippies: no passado, a Monsanto esteve na linha de frente dos produtores do pesticida “Agente Laranja”, utilizado até janeiro de 1971 na guerra do Vietnã pelos militares norte-americanos. Os constantes bombardeios químicos desfolhavam as florestas para tornar o inimigo visível. Os campos eram envenenados para que o vietcong não tivesse mais nada para comer. Nas áreas pulverizadas multiplicou-se por dez o número de nascimentos de crianças com anomalias; nasciam sem nariz, sem olhos, com hidrocefalia ou fendas no rosto – e as forças armadas dos EUA asseguravam que o produto da Monsanto seria tão inofensivo quanto a Aspirina.

Será que na guerra, tudo é permitido?
Principalmente na moderna guerra cibernética?

Chama atenção o fato de que alguém esteja dificultando, hoje, a vida dos críticos da Monsanto, ou que alguma mão invisível esteja interrompendo carreiras. Mas, quem é esse alguém? São alvos de ataque cientistas como a australiana Judy Carman, que, entre outros, tornou-se conhecida com pesquisas de produtos transgênicos. Suas publicações são questionadas por professores, os mesmos que tentam minimizar a importância dos estudos de outros críticos da Monsanto.

Mas o assunto não se resume a escaramuças nos círculos científicos. Pois diversas páginas da internet onde Carman publica suas pesquisas, tornam-se alvo de ataques cibernéticos e, segundo impressão de pesquisadora, são sistematicamente observadas. Exames do IP de seu site demonstram que não apenas a Monsanto acessa regularmente essas páginas, mas também diversos órgãos do governo norte-americano ligados às forças armadas. Entre outros, o Navy Network Information Center, a Federal Aviation Administration e o United States Army Intelligence Center, um órgão do exército para o treinamento de soldados em tarefas de espionagem. O interesse da Monsanto nessas pesquisas pode ser observado, também no caso de Carman. “Mas não entendo, por que o governo americano e o exército mandam me observar“, diz ela.

Coisas estranhas aconteceram também com a GM Watch, uma organização crítica da engenharia genética. A colaboradora Claire Robinson fala de ataques cibernéticos constantes à página desde 2007. “Toda vez em que aumentamos a segurança do site, nossos oponentes tornam-se mais tenazes e seguem novos ataques, ainda piores”, explica. Também neste caso não se acredita em coincidência. Em 2012, quando o cientista francês Eric Séralini publicou uma pesquisa bombástica sobre os riscos à saúde representados pelo milho transgênico e o glifosato, o site da GM Watch foi atacado e bloqueado. Isso se repetiu quando foi publicado o posicionamento do órgão europeu de inspeção alimentar, a EFSA. Em ambos os casos, o momento foi habilmente escolhido: no exato instante em que os editores tentavam publicar os textos. Não foi possível determinar quem estava por trás dos ataques.

A própria Monsanto, como já foi dito, faz questão de frisar que opera “com responsabilidade“.
No entanto, é fato que a empresa tem muitos interesses em jogo. Trata-se de projetos legislativos, e em especial, das negociações em curso, relacionadas ao Tratado de “livre” comércio entre EUA e UE. Os capítulos sobre Agricultura e Indústria Alimentícia são particularmente delicados. Os norte-americanos têm como meta a abertura dos mercados europeus para os produtos até então proibidos. Ao lado das plantas transgênicas, estão incluídos aditivos controversos e a carne bovina tratada com hormônios. As negociações certamente ainda vão se arrastar por alguns anos.

O assunto é polêmico e as negociações serão duras. Por isso, o presidente Barack Obama apontou Islam Siddiqui como chefe das negociações agrícolas. Como especialista, trabalhou durante muitos anos para o ministério de Agricultura americano. Mas, o que poucos sabem na Europa: de 2001 a 2008 ele representou, como lobista registrado, a CropLife America, uma associação industrial que representa os interesses de produtores de pesticidas e produtos transgênicos. Entre eles, é claro, a Monsanto. “A rigor, a UE não poderia aceitar tal interlocutor, devido a seus interesses, opina Manfred Häusling que representa o Partido Verde no parlamento europeu.

Englentich, a rigor. No médio-alto alemão, esta palavra (eigentlich) sinificava “servil”, o que não seria uma má descrição do cenário atual — onde os políticos europeus, e em especial os alemães, revelam uma atitude de surpreendente aceitação, diante do fato de serem espionados com regularidade por órgãos norte-americanos.
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1. A Monsanto é o a maior empresa agrária do mundo, e também a que lidera a engenharia genética. Em 2012, o grupo ampliou seu faturamento em 14%, em comparação ao ano anterior, chegando a 13,5 bilhões de dólares. O lucro subiu 25%, atingindo dois bilhões de dólares. No mundo todo, a empresa emprega 21.500 trabalhadores e tem filiais em mais de 50 países. Sua fundação data de 1901, pelo norte-americano John Queeny em St. Louis, no estado de Missouri. O nome foi uma homenagem à família de sua esposa. Primeiro, Queeny produziu o adoçante sacarina. Em pouco tempo, o fabricante de bebidas Coca-Cola passa a fazer parte de seus clientes. Logo depois da I Guerra Mundial, a Monsanto entrou no ramo dos produtos químicos. Sua ascensão foi rápida. Em 1927, ingressou na bolsa de valores, e ampliou sua atuação no setor químico, incluindo adubos e fibras sintéticas. Investiu até mesmo na indústria petrolífera. Depois da guerra do Vietnã, a Monsanto passou a focar mais intensamente o setor agrário, o desenvolvimento de herbicidas e em seguida a produção de sementes. Nos anos oitenta, a biotecnologia foi declarada seu alvo estratégico. O próximo passo foi a modificação consequente para uma empresa agrícola – e os outros segmentos foram deixados de lado.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

FUNAI NÃO ABAIXA A CABEÇA PARA RURALISTAS!!!



ASDRÚBAL BENTES, DO PARÁ, CONHECIDO PELOS CRIMES AMBIENTAIS QUE COMETE COMO RURALISTA...

Parabéns, Carlos! Falou muito bem!!!! Esses ruralistas é que têm que abaixar a cabeça para quem é digno e protege as populações minoritárias, e secularmente exploradas e escravizadas pelo poder corrupto e imoral de elites econômicas, que se enriqueceram às custas da exploração desumana de negros e indígenas, ao longo dos 500 anos de nossa história!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

MARINA SILVA, ex-ministra do Meio Ambiente, representa mais perigo para Dilma do que qualquer tucano

RICARDO MENDONÇA
Fonte: FOLHA UOL


As atenções políticas estão mais concentradas no enésimo ato da pantomima tucana, estrelada por Serra e Aécio, do que no embate de Marina contra o relógio e os cartórios.

É compreensível. Nas últimas cinco presidenciais, a disputa foi polarizada entre PT e PSDB. Além disso, são os tucanos que já ocuparam a Presidência e que comandam alguns dos principais Estados.

Uma reflexão que leve em consideração os dados das pesquisas e os potenciais de cada candidatura, porém, sugere que o compreensível, hoje, pode estar equivocado.

No último Datafolha, quem representa maior ameaça à reeleição de Dilma não é Serra nem Aécio, mas a ex-ministra Marina Silva. Ela alcança até 26%, o dobro de Aécio.

É só Marina que teria votos para ir ao segundo turno contra Dilma. E nas simulações finais, a vantagem de Dilma sobre ela seria a menor de todas as combinações: 46% a 41%.

É verdade que, na comparação com o PSDB, Marina possui menor potencial para arrecadar, escasso apoio político e menos tempo de TV.

Em compensação, além da baixa rejeição (14%), é ela que tem a relação mais fluida com os movimentos sociais e que está ligada à causa que talvez seja a mais fácil de ser "vendida" hoje, o meio ambiente.

Não é por acaso que parece ter sido a única figura política capaz de capitalizar algo com os protestos de junho.

As vantagens do PSDB sobre Marina seriam, no fim, superadas por Dilma. O PT capta mais, faz mais alianças; ninguém duvida. Mas o que os petistas fariam contra as vantagens competitivas de Marina?

O potencial de Marina é visto com desconfiança porque ela não tem os ativos mais relevantes da política tradicional: dinheiro, aliados e TV.

Mas não estar associado aos ativos da política tradicional virou, por si só, um grande ativo. Eis a sua "periculosidade".

Ibope aponta Dilma e Marina empatadas em 2º turno

A pesquisa mostrou que ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva é a maior beneficiada pela perda de popularidade da presidente Dilma Rousseff após a onda de protestos no Brasil

José Roberto de Toledo

REUTERS/Ueslei Marcelino


Marina é, hoje, a principal adversária de Dilma na corrida sucessóriaSão Paulo - Pesquisa nacional Ibope, feita em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo entre quinta-feira, 11, e domingo, 14, de intenção de votos para presidente mostra que em um cenário estimulado com quatro candidatos à Presidência, Dilma tem 30% das intenções de voto, contra 22% de Marina Silva (REDE SUSTENTABILIDADE), 13% de Aécio Neves (PSDB) e 5% de Eduardo Campos (PSB).


A pesquisa mostrou que ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva é a maior beneficiada pela perda de popularidade da presidente Dilma Rousseff após o início da onda de protestos de rua em junho.

Na simulação de segundo turno entre as duas feita pelo instituto Ibope, elas aparecem tecnicamente empatadas: a petista tem 35% contra 34% de Marina Silva. A margem de erro máxima da pesquisa é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos.

Outros 19% dizem que, nesse cenário de segundo turno, anulariam ou votariam em branco. E os 13% restantes não souberam ou não quiseram responder. A alta taxa de branco/nulo é mais um indicativo do descontentamento do eleitor com os políticos.

Apenas Marina consegue empatar com Dilma nas simulações de segundo turno pesquisadas pelo Ibope. No confronto dois a dois contra Aécio Neves (PSDB), a presidente leva 12 pontos de vantagem: 38% a 26%. A taxa de branco/nulo, porém, sobe de 19% para 24% nesse cenário, mostrando que parte dos eleitores que votariam em Marina preferem anular a votar no tucano.

Contra Eduardo Campos (PSB) ou contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, Dilma teria uma vantagem mais folgada do que contra Aécio. A presidente bateria o governador de Pernambuco por 39% a 19%, e venceria Barbosa por 40% a 22%, se a eleição fosse hoje. Esses foram os únicos cenários testados pelo Ibope como simulações de segundo turno.

Guerra do Vietnã: Armas Químicas e Biológicas


Foi durante a Guerra do Vietnã que muitas armas modernas foram usadas pela primeira vez. A guerra nos mostra como o mundo bélico havia mudado desde a Segunda Guerra Mundial, impulsionado, em parte pela corrida armamentista. A arma mais simbólica desta guerra, o helicóptero Huey, teve um papel decisivo na remoção de combatentes feridos, desembarque de tropas na selva e fornecimento de suprimentos e munição às tropas em terra, sendo durante o decorrer da guerra modernizado em sua capacidade de combate, com foguetes e metralhadoras para apoio aos combates terrestres, o que ainda não havia 20 anos antes na Segunda Guerra. Alguns equipamentos e armamentos são considerados símbolos da Guerra do Vietnã, como os fuzis AK-47 e o M16.

E, apesar de proscritas pelas Convenções de Genebra, as armas químicas também foram fartamente usadas pelos EUA, durante a Guerra do Vietnã. A mais conhecida delas foi o Napalm, uma mistura de gasolina com uma resina espessa da palmeira que lhe deu o nome, e que, em combustão, gera temperaturas acima de 1.000 °C. Adere-se à pele, queima músculos e funde os ossos, além de libertar monóxido de carbono, fazendo vítimas por asfixia.


Além do Napalm, o exército norte-americano despejou sobre o Vietnã, desde 1961 (com a aprovação do presidente John Kennedy) até 1971, cerca de 80 milhões de litros de herbicidas. Entre eles, o mais utilizado, devido à sua terrível eficácia, foi o Agente Laranja, que é uma combinação de dois herbicidas: o 2,4-D e o 2,4,5-T, sendo que a síntese deste último gera um subproduto cancerígeno, a Dioxina tetraclorodibenzodioxina, considerada uma das substâncias mais perigosas do mundo. O impacto ecológico do uso dessas armas químicas foi catastrófico para a cobertura vegetal e para a população que habitava a região.

Mais de 40 anos depois da guerra, a dioxina produzida pelo Agente Laranja continuava biologicamente ativa. E, atualmente, as concentrações encontradas em várias regiões do Vietnã superam em 400 vezes o limiar de toxicidade, conforme evidenciado pela Canada Hatfield Consultants.

A dioxina foi culpada pela alta incidência de doenças de pele, malformações genéticas, câncer, incapacidades mentais e outros problemas que afetam a população vietnamita e ex-militares dos EUA. Milhares de crianças nasceram com problemas de pais que não foram expostos ao herbicida durante a guerra, mas que comeram alimentos contaminados por ele. Como de praxe, a maioria das vítimas pertence às famílias mais pobres.

Em 2005, a Associação Vietnamita do Agente Laranja moveu uma ação judicial contra as companhias químicas norte-americanas produtoras do Agente Laranja. Mas o juiz federal, Jack Weisntein, não acolheu a queixa, alegando que não havia, nos autos do processo, "nada que comprovasse que o Agente Laranja tenha causado as doenças a ele atribuídas, principalmente pela ausência de uma pesquisa em larga escala".

Curiosamente, em 1984, uma ação judicial movida por veteranos de guerra norte-americanos contra as mesmas companhias, pelos mesmo motivos, resultou em um acordo de 93 milhões de dólares em indenizações aos soldados.

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Fonte: Tudo sobre a Guerra do Vietnam

Curioso é ver hoje os Estados Unidos se mobilizarem contra o regime de Bashar Al Assad, acusado de utilizar armas químicas contra os rebeldes da Síria...

Marina entrega pedido de registro da Rede ao TSE


Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo Brasília - Dida Sampaio/AE


"Agora é com o TSE... Entramos com pedido de homologação de 630 mil apoios de cidadãos de todos os cantos do Brasil", diz uma mensagem publicada na página oficial do futuro partido no Facebook, minutos após a chegada de Marina ao TSE.

Ao total, a Rede coletou 850 mil fichas de apoio, mas descartou 200 mil assinaturas e ainda assim, teve 96.356 assinaturas invalidadas pela Justiça Eleitoral dos Estados, sendo que em relação a 73 mil não foi apresentado motivo para rejeição. Entre as fichas de apoio rejeitadas estava a do senador Pedro Taques (PDT-MT), que teve sua assinatura invalidada. "Nós compreendemos até o problema da falta de estrutura, mas não concordamos que tenhamos de pagar o preço, depois desse trabalho que tivemos no País inteiro", disse Marina.

Segundo a ex-senadora, apesar de a lei exigir registro do novo partido em nove Estados, a Rede já teria número suficiente em 24 unidades da Federação. Até agora, no entanto, somente o Rio Grande do Sul conseguiu formalizar a criação de um diretório estadual. Marina disse acreditar no trabalho da Justiça Eleitoral, que tem o prazo de aproximadamente um mês para conceder o registro à Rede e assim permitir que o partido dispute as eleições de 2014. A data final é 5 de outubro. "Nós confiamos na Justiça", afirmou a ex-senadora.

Na semana passada, a ex-senadora procurou diretamente a presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, para se queixar da demora na validação das assinaturas em Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). As corregedorias eleitorais rechaçaram as reclamações do grupo de Marina.

Marina agradeceu ao apoio de 12 mil pessoas que se mobilizaram na coleta de assinaturas e fez referência ao senador Pedro Simon, por ajudá-la no debate contra o projeto que tenta restringir a criação de novos partidos. Ela disse ter dúvidas de que o Senado coloque a proposta em votação "só para prejudicar uma força política que tem o direito de se viabilizar". Perguntada sobre a pesquisa de intenção de voto para a corrida presidencial, Marina disse que os levantamentos são apenas "um retrato do momento". "Não devemos tomar isso como definitivo", observou.

Ao final da entrega dos malotes contendo certidões, protocolos e processos encaminhados aos Tribunais Regionais Eleitorais, Marina disse que a Rede está sendo formada de uma forma distinta de outras siglas, que normalmente são criadas a partir de fusões. "Nós fomos pelo caminho mais difícil, mas que é o mais gratificante, que é conversar com cada pessoa", finalizou.

Acompanhada do senador Pedro Simon (PMDB-RS) e dos deputados federais Walter Feldman (PSBD-SP) e Domingos Dutra (PT-MA), a ex-senadora Marina Silva deu entrada nesta segunda-feira, 26, ao pedido de registro de seu novo partido - a Rede Sustentabilidade - junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar de não ter ainda as 492 mil assinaturas necessárias para dar início ao processo, foi apresentado um protocolo com 304 mil assinaturas validadas nos Tribunais Regionais Eleitorais, enquanto as demais assinaturas aguardam pela certificação dos órgãos da Justiça eleitoral locais.

Distribuição geográfica de árvores da Mata Atlântica pode cair 65% até 2100

Fonte: Agência FAPESP

Por Noêmia Lopes

Agência FAPESP – Caso se concretizem as projeções mais otimistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e a temperatura nas áreas com remanescentes de Mata Atlântica aumentar até dois graus Celsius, a distribuição geográfica das árvores desta floresta poderá ter redução de 30% em 2100. Se as estimativas mais pessimistas vingarem e o aquecimento atingir a casa dos quatro graus Celsius, tal redução poderá chegar a 65%.
O alerta foi feito por Carlos Joly, coordenador do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP) e pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB/Unicamp), durante o sexto encontro do Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA Educação, realizado no dia 22 de julho na FAPESP, em São Paulo.
Os números foram obtidos a partir de um levantamento que começou em herbários. “Identificamos pelo menos 30 pontos de ocorrência exata de árvores da Mata Atlântica e, com isso, fizemos um mapa de onde elas ocorrem hoje em determinadas condições de temperatura, precipitação, tipo de solo e altitude”, explicou Joly.
Considerando os 30 pontos iniciais, o passo seguinte foi usar um algoritmo para calcular em que outros lugares haveria potencial para a ocorrência das espécies, o que deu origem a um segundo mapa. De acordo com o pesquisador, “isso nos permitiu dizer que determinada espécie é capaz de ocorrer em certa localidade, sob certas condições anuais de temperatura e precipitação”.
Em seguida, as projeções do IPCC permitiram traçar o panorama de 2100, considerando cenários mais e menos otimistas. “Estimamos que a porção nordeste dos remanescentes – onde a estimativa é que também haja redução significativa de chuvas – vá diminuir. E a distribuição geográfica das espécies ficará mais restrita a áreas como a Serra do Mar, onde a precipitação é garantida e o relevo impede que a temperatura suba demais”, afirmou Joly.
Estoques de carbono
Outro tema abordado durante a conferência foi o monitoramento do carbono estocado na Floresta Atlântica paulista, em uma faixa equivalente a 14 campos de futebol entre Ubatuba e São Luiz do Paraitinga.
Desde 2005, pesquisas viabilizadas pelo BIOTA-FAPESP e pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) investigam os remanescentes de Mata Atlântica na região, inclusive no que diz respeito às trocas gasosas entre as plantas e o meio ambiente.
O acompanhamento é feito por meio de cintas de aço colocadas nos troncos das árvores – a medição do diâmetro, a cada dois anos, aponta quanto carbono vem sendo fixado por elas. “Também monitoramos árvores que morrem e vão entrar em decomposição e plantas novas, que no último período verificado cresceram o bastante para entrar em nossa amostragem”, afirmou Joly. Uma torre de 60 metros de altura, equipada com um grande conjunto de sensores, também mede o fluxo de trocas gasosas, além de radiação, chuva, vento, entre outros fatores.
Os resultados obtidos até o momento apontam para a existência de grandes estoques de carbono, principalmente no solo das regiões mais altas, onde as temperaturas frias tornam o processo de decomposição mais lento e há acúmulo de serapilheira – camada fofa que se forma com folhas caídas no chão.
“Imaginamos que, em um processo de aquecimento, a serapilheira que se acumulou por milhares de anos vai se decompor mais depressa, fazendo com que a floresta libere mais gás carbônico do que pode assimilar. Ou seja, ela se tornaria uma fonte emissora e nós perderíamos o serviço ambiental de estocagem que hoje as espécies nos prestam”, explicou Joly.
Nos próximos anos, o monitoramento na Floresta Atlântica paulista será comparado a estudos na Floresta Amazônica e em florestas da Malásia, em parceria com pesquisadores britânicos. Já se sabe, por exemplo, que a Floresta Amazônica não acumula tanto carbono no solo como a Atlântica e, nas medições anuais, estabelece trocas com a atmosfera que resultam em um balanço próximo a zero.
Fauna e sensoriamento
André Victor Lucci Freitas, pesquisador do IB/Unicamp, também participou da conferência apresentando dados sobre origem, evolução e diversidade da fauna da Mata Atlântica. Ele apontou que a grande diversificação e o alto endemismo faunístico podem ser explicados por um conjunto de processos.
“A interação entre as tolerâncias ambientais dos diferentes grupos de animais, a heterogeneidade de habitats (florestas, restingas, campos) e os processos históricos (como variações climáticas no passado) explicam a grande diversidade encontrada ao longo de toda a extensão da Mata Atlântica”, disse Freitas.
O terceiro palestrante, Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), tratou sobre os bastidores do desenvolvimento de um atlas.
“O acompanhamento, agora anual, dos remanescentes da Mata Atlântica é feito a partir da interpretação de imagens de satélites. Fotografias aéreas resultariam em um detalhamento maior, mas essa ainda é uma técnica muito cara para a grande extensão que precisamos monitorar”, disse. Outro desafio é identificar desmatamentos menores causados pela expansão urbana.
De acordo com Ponzoni, o bioma cobre 7,9% de sua extensão original, se considerados os remanescentes acima de 100 hectares. Quando computados todos os polígonos com 100 hectares ou menos, o domínio é de 11% a 16%. 

domingo, 25 de agosto de 2013

Maria Victoria Benevides: PT precisa de choque de vergonha na cara

Fonte: VIOMUNDO
Publicado em 25 de agosto de 2013 às 17:07
‘Os dirigentes do PT estão de um lado e a presidente de outro. E isso é muito grave’


Após ultrapassar uma década no poder central, começam a ser feitos os primeiros balanços históricos do PT enquanto partido do poder, potencializados pelas eleições internas de novembro, repletas de chapas e teses que simbolizam uma forte disputa pela hegemonia interna.

Em meio a tal reordenamento partidário e à crise política ensejada pelas vigorosas manifestações de junho, o Correio da Cidadania entrevistou a cientista política e professora aposentada da USP Maria Victoria Benevides, uma histórica militante do Partido dos Trabalhadores, que mostrou grande apreensão com o atual momento do partido e principalmente a situação de isolamento em que se encontra a presidente Dilma.

“Se há vazio de poder, alguém o preenche. Que a presidente está fraca diante disso tudo não restam dúvidas”, disse Maria Victoria, que também criticou os próprios caciques do partido em relação à forma como trataram Dilma nos últimos tempos.

Sobre Lula e seu chamado à ‘refundação’ do PT, fez uma simples síntese: “o que ele falou é muito importante. Precisa de mudança, o partido precisa voltar para as bases, aos movimentos sociais etc. Mas nós estamos dizendo isso desde que ele tomou posse”.

Enquanto descreve a perplexidade com que o partido, outrora grande frequentador e agitador das ruas, lida com as manifestações, Benevides destaca a urgência de se cerrarem fileiras em torno de Dilma, cujo mandato “não pode terminar em fracasso total”.

“Se o PT quiser sobreviver como um partido nascido da luta dos trabalhadores e realmente comprometido com as mudanças sociais necessárias, tem de cortar na carne e fazer mudanças radicais”, resume, porém, sem a certeza de que lideranças internas, “aquelas com poder de decisão”, estejam realmente dispostas a uma guinada progressista.

A entrevista completa com Maria Vitória Benevides pode ser lida a seguir.

Correio da Cidadania: Como você sente o atual momento do país, após as grandes e intensas manifestações país afora no mês de junho? Qual o sentido e perspectivas para os quais apontam estas manifestações?

Maria Victoria Benevides: Essas manifestações mostraram algo que já tínhamos, de certa maneira, esquecido. Os poderes constituídos, principalmente aqueles de carne e osso que disputam eleições, têm medo de uma coisa: das pesquisas com queda de popularidade e do povo na rua.

Estamos a um ano das campanhas eleitorais para a sucessão presidencial, de governos estaduais, Câmaras etc., de modo que tais manifestações vieram no momento certo, no sentido de fazer uma pressão que teve resultados, embora sempre com uma ambiguidade. Não temos certeza se é pra valer, mas elas tiveram resultado por terem dado um choque na calmaria de expectativas do governo, parlamentares e sua ampla base de apoio.

As manifestações pressionaram os governos de todo o país – no caso de São Paulo tanto prefeitura como governo do estado, além do Rio e outros, chegando ao governo federal – no sentido de fazerem aprovar alguns projetos de lei, alguns há décadas na gaveta, além também de forçarem uma maior tomada de decisões – através de projetos, propostas no âmbito de políticas públicas, de transportes, economia…

A presidente Dilma saiu da defensiva e apareceu com uma proposta de grande alcance, que não seguiu o caminho de aprovação; depois recuou, trocou etc. O importante é que ela lançou um debate importantíssimo, no caso, a participação popular e a cidadania ativa, à medida que propõe realização de consultas populares, plebiscitos, referendo… E os demais governos também tomaram algumas decisões no sentido de atenderem a pressão popular.

Eu digo que já tínhamos “esquecido” de certas coisas porque muita gente escreveu e debateu o assunto com um pouco de perplexidade e surpresa, quando temos de lembrar que em momentos importantíssimos da nossa história contemporânea o povo foi para a rua.

Pensando só do regime militar pra cá, houve povo na rua na luta pela anistia, pelas eleições diretas, pelo Fora Collor…

E antes de 1964 havia um movimento social bastante efervescente. A grande diferença é que eram setores organizados, com lideranças, ou seja, integrados à política.

A novidade das manifestações, eu diria, é a de ter uma agenda muito heterogênea, e quase numa posição de descartar a política. Não pela política em si, porque na realidade ir pra rua, se manifestar, pressionar e levar cartazes são atos políticos. Mas pelo descrédito dos partidos, que em pessoas de carne e osso acaba contaminando a própria ideia da política como possibilidade de transformação, de expressão, de liberdade, de defesa da igualdade, da diversidade etc.

Eu vi as manifestações, portanto, com entusiasmo, pois sou defensora da participação popular, da cidadania ativa, das formas de democracia direta, mas vi também com apreensão, porque estou plenamente convencida de que fora da política não há salvação. A única alternativa à ação política é a violência.

Porém, temos de entender que tipo de política queremos. Eu quero política baseada nos princípios republicanos, democráticos, sob a premissa de que é possível fazê-la com ética.

Correio da Cidadania: A reboque dessas manifestações, foi convocada a greve geral de 11 julho de 2013. Como avaliou a oportunidade dessa convocação, bem como os resultados dela advindos, em termos da participação das centrais sindicais (mais governistas e de oposição), da classe trabalhadora e da juventude operária?

Maria Victoria Benevides: É um movimento bastante diverso do movimento sindical efervescente da época do João Goulart, por exemplo, pois na época era muito mais unificado, enquanto hoje temos centrais rivais, com interesses político-partidários opostos. Mas o que vejo é uma situação bem diferente das manifestações de rua, que eram desorganizadas no sentido de terem liderança e militância orgânica por trás. A coisa começou com o MPL, mas é um movimento pequeno, que não poderia ficar responsável por toda a amplidão dessas manifestações.

E o movimento sindical é até mais organizado que outros movimentos partidários. É bastante organizado até pelos aspectos compulsórios, como o imposto sindical, benefícios às categorias por sindicalização… S

ão coisas diferentes, mas mostram que o movimento sindical não quis perder a oportunidade. Os sindicatos agiram política e legitimamente.

No entanto, sua mobilização foi outra coisa. Não foi a manifestação da juventude e de grupos altamente heterogêneos que foram antes às ruas, a partir do estopim do aumento da passagem, mas também por aquilo que vi num cartaz: “513 anos + 20 centavos”. É muita coisa em jogo no momento. É uma reivindicação por um grupo de direitos que sempre estiveram em falta. Ou seja, nossa cidadania continua ainda restrita.

Portanto, acho muito importantes os pontos colocados pelas ruas. E os sindicatos tinham obrigação de se manifestar. Mas são forças, de certa maneira, oficiais, pois estão vinculadas à legislação do Ministério do Trabalho. Por outro lado, são organizações de bases mais sólidas, diferentemente do movimento de massa na rua.

Correio da Cidadania: Como tem enxergado o atual governo nesta recente conjuntura?

Maria Victoria Benevides: Eu acho que o governo ficou muito temeroso das consequências, principalmente no momento no qual a política econômica está revelando dificuldades que já vinham desde o ano passado, mas que se agudizaram justamente na fase dessa efervescência.

Assim, toda a discussão sobre medidas do Ministério da Fazenda, medidas que contrariam tanto aqueles que defendem o custeio pra políticas públicas como aqueles sempre favorecidos – o grande capital e o empresariado, que estão bastante aborrecidos com algumas decisões da presidente –, configura uma situação bem delicada.

Acho que o governo está tentando acertar, mas vejo o quadro com muita apreensão. Não sei como a base aliada será recosturada num ambiente de todos quererem se aproveitar do movimento, visando conquistas eleitorais. A situação para o governo, em função da queda das boas notícias, da emergência de uma política econômica que foi vigorosa e positiva, mas que se arrasta agora, é de um temor muito grande, a respeito de perder apoio no Congresso.

E a chamada grande imprensa está aproveitando o momento. A internet está cheia de blogs e correntes atacando o governo, o Congresso, por exemplo. Só acho que não atacam como deveriam o poder judiciário, que sempre me pareceu o pior de todos.

Correio da Cidadania: Seria exagerado pensar que estamos diante de um vazio de poder, com uma presidente refém de sua base no Congresso, especialmente do PMDB, afastada do PT e também sem o respaldo da base popular do partido? 


Maria Victoria Benevides: Justamente. Acho que o temor vem mais da perda de base popular. Quando falo em perda da popularidade, ela é vertical, não é uma coisa que sobe ou desce dois pontos, algo dentro da margem de erro. Foi uma queda vertiginosa. Portanto, é claro que os políticos fisiológicos de sempre (infelizmente, uma base aliada que está mais pra “desaliada”), com o governo perdendo crédito e a presidente perdendo popularidade, vão cobrar caro pelo possível apoio. E estão tocando suas alianças nos estados e grandes municípios.

Não chegaria a falar em vazio de poder. Primeiro porque não existe. Se há vazio de poder, alguém o preenche. Mas que a presidente está fraca diante disso tudo não restam dúvidas. As propostas que têm aparecido de mudança ministerial etc. estão sendo empurradas com a barriga. Diminuir radicalmente o número de ministérios é uma loucura.

Outro dia, comparava o governo Dilma com o governo JK, que foi de desenvolvimento acelerado, mudança de capital para Brasília, efervescência entre os militares, e vi que ele tinha 13 ministros. E foi o máximo possível.

Acho que articular um governo com tantos ministérios é complicado… E o pior de tudo é um fator, que não é típico somente da política brasileira, mas do mundo todo: nesse período eleitoral, vários ministros estão preocupados com suas campanhas pessoais pra cargos eletivos, colocando-as na frente do trabalho que deveriam desempenhar governo.

Correio da Cidadania: O PT, por sua vez, tem sido objeto de uma série de balanços históricos, com distintos vieses, após uma década no poder central do país. Como você enxerga o partido hoje, ao que parece, uma força descendente, mas ainda disputando o cenário político na dianteira?

Maria Victoria Benevides: Ah! O PT precisa de um choque; um choque de coragem, de ética, de eficiência, de vergonha na cara… Precisa, realmente, de um choque. Porque está perdendo muito apoio dentre aqueles que sempre foram militantes.

Não falo nem por mim, mas vejo na faculdade, por exemplo. Alguns anos atrás, quando dava aulas específicas sobre os partidos políticos, perguntava aos alunos quem era filiado ou simpatizante de partido. Metade da classe levantava o braço e quase tudo era PT.

Agora, no último semestre que dei aula – me aposentei ao fazer 70 anos –, fiz a mesma pergunta. Só duas alunas levantaram o braço. Uma do PSOL e outra do PSTU. De modo que fica visível que o PT perdeu muito espaço entre os estudantes e dentro da universidade.

Portanto, acho que, se o PT quiser sobreviver como um partido nascido da luta dos trabalhadores e realmente comprometido com as mudanças sociais necessárias, no sentido de corrigir injustiças, e até mesmo pra continuar as políticas sociais do governo Lula, tem de cortar na carne e fazer mudanças radicais.

Porém, não sei mais o que o PT está pensando. Me refiro aos que têm poder de decisão no partido. Não sei como os dirigentes estão enfrentando a pressão por uma reforma política. Acho que eles estão de um lado e a presidente de outro. E isso é muito grave.

Correio da Cidadania: Sendo assim, como viu a ausência de Dilma da recente reunião do PT? Teria algum significado mais simbólico ou seria um sinal de uma governante acuada?

Maria Victoria Benevides: Acredito que a ausência se deu pela forma como ela foi tão atacada pelo partido – de uma maneira muito deselegante. Por mais que eu faça críticas, tenho o maior respeito pela presidente Dilma. Não só por sua correção e seriedade, mas também pela figura histórica que é. E acho que se chegou a um nível absolutamente indefensável de desrespeito e críticas injustas.

Desse modo, a coisa começa pelo próprio partido, que é o dela e a elegeu. Isso teria de ser repensado. Uma coisa é criticar um chá de cadeira, uma não recepção em Brasília… Outra coisa bem diferente é uma base de críticas sobre pontos importantes da história do partido – e importantes num governo que se diz republicano e democrático.

Vejo a Dilma numa posição frágil, mas acho que a posição do partido deve ser de apoiá-la e defendê-la.

Correio da Cidadania: Como você analisa as posturas e análises do partido diante das manifestações de junho, face à premente necessidade de todas as forças políticas do país de disputarem as ruas?


Maria Victoria Benevides: O PT, evidentemente, não podia fazer críticas sobre algo que sempre defendeu. A maior parte do partido e de seus militantes sempre foi de militantes de rua. Mas acho que a reação do partido foi diferente de outras épocas.

Até porque está no poder. Por exemplo, aqui na prefeitura de São Paulo, com o estopim da passagem: a postura foi de precaução. Ao mesmo tempo entendendo os reclamos da cidadania na rua e a situação financeira que foi deixada pelos sucessivos governos tucanos na prefeitura. Coisas que o Fernando Haddad tem procurado mostrar.

Portanto, o partido que está no poder fica numa posição delicada, mas claro que deve reconhecer a legitimidade das manifestações, apontando, como tem feito, que fazer manifestações denunciando políticos não pode ser uma maneira de jogar a criança junto com a água do banho. Não é porque se denunciam políticos, partidos e grupos que se pode jogar fora a ação política como possibilidade de transformação.

Correio da Cidadania: Em novembro, realizam-se eleições internas, e foi apresentado um grande número de chapas e teses, contrariando certo monolitismo, ou prostração, dentro do partido nos últimos anos. O que este movimento interno pode significar, em sua opinião?

Maria Victoria Benevides: Esse movimento interno é legítimo e muito bem vindo. Eu mesma tenho participado muito pouco, mas das últimas vezes que o fiz foi ligada a um desses grupos, no caso o Mensagem ao Partido. É legítimo, necessário e oportuno que isso ocorra no atual momento.

Correio da Cidadania: O que pensa sobre as atuais movimentações de Lula, que tem dado recados claros quanto à necessidade de ‘profunda reformulação’ no partido e até mesmo convocado grupos e movimentos atrelados ao PT para saírem às ruas e ‘enfrentarem a direita’?

Maria Victoria Benevides: O que ele falou é muito importante. Precisa de mudança, o partido precisa voltar para as bases, aos movimentos sociais etc. Mas nós estamos dizendo isso desde que ele tomou posse. Porque de certa maneira os movimentos sociais ficaram esquecidos, principalmente em seu primeiro mandato. E agora ele fala em voltar ao trabalho de base.

Sempre defendi que o partido precisa ter como prioridade a formação política. A educação política tem um papel pedagógico muito grande. E isso vinha sendo deixado de lado. Creio que o Lula chamou o PT a uma nova vida partidária.

Correio da Cidadania: Mas diante dos compromissos assumidos pelos governos Lula e Dilma com o grande capital nacional e transnacional, ainda seria crível uma inflexão progressista no partido?

Maria Victoria Benevides: Eu acho que essa guinada encontrará resistências internas. Mas acredito nela. E, afinal, eu tenho de acreditar, se não, vou acreditar em que, meu Deus?

Correio da Cidadania: Por fim, como você imagina que caminhará o governo Dilma daqui até o fim do mandato?

Maria Victoria Benevides: Com dificuldades. Além de dificuldades, apreensões. Por isso digo que a primeira obrigação do partido, agora, é cerrar fileiras em torno deste governo. Esse governo não pode acabar em fracasso total. É uma derrota acachapante. Acho que vai se recuperar. Torço por isso, mas também vejo como algo difícil.

Gabriel Brito é jornalista; Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.