O curioso é perceber que as evidências são tantas que não deixam dúvidas quanto às razões que nos levam a protestar: corrupção ativa e passiva, prevaricação, suborno, enriquecimento ilícito, desprezo pelas minorias étnicas, devastação do Meio Ambiente, crime contra o patrimônio público, vagabundagem, impunidade, fundamentalismo religioso, desonestidade, desvio e mau uso dos recursos públicos... infinitas razões!
No entanto, mesmo diante de tantas evidências, nem mesmo o poder supremo do judiciário nos deixa um alento, uma esperança de ver a punição recair sobre os poderosos e redimir as virtudes, há tanto esquecidas. Neste momento dramático da vida política nacional, não há como não recordar as tristes palavras de nosso saudoso Ruy Barbosa...
“De tanto ver triunfar as nulidades...”
Basta olhar para alguns membros do Ministério Dilma e para a grande maioria das casas legislativas para constatar o eco dramático desse lamento triste e desconsolado. Ministros que mal sabem responder a uma entrevista ou proferir um discurso, colocados em ministérios técnicos e estratégicos como Minas e Energia, e Previdência Social; isso sem falar nos inúmeros casos de assessores incompetentes em todas esferas do governo...
“De tanto ver prosperar a desonra...”
Creio mesmo que a palavra “honra” tenha perdido o sentido para as gerações mais jovens; já não se ouve sequer alguém falar (ou saber o que significa) “palavra de honra”!
“De tanto ver crescer a injustiça...”
Será que, nem mesmo pela quase unanimidade do clamor popular, os Ministros da Suprema Corte não se sensibilizarão, ao menos mantendo as punições já estabelecidas?
“De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus...”
Quem são os “maus” desse país? Os latifundiários que devastam florestas e ocupam terras devolutas, como se fossem suas? Os políticos que se vendem no “balcão de negócios” das repartições públicas? Os líderes sindicais que colocam à frente os seus interesses pessoais, em detrimento das classes trabalhadoras que deveriam representar?
“O homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto!”
(Ruy Barbosa, * 5 de novembro de 1849, + 1 de março de 1923)
Não sou ingênuo de pensar que os tempos mudaram, e que “antigamente” era diferente! Não era, e essas palavras foram ditas há cerca de cem anos, no início do século XX...
Porém, até mesmo pela evolução das sociedades, pela redução do analfabetismo, pelo aperfeiçoamento das instituições, pela convicção humana de que a “Democracia” é um direito de todos os cidadãos, e os regimes políticos deveriam refletir essas verdades, por tudo isso, não se pode conceber que estejamos caminhando contra a Razão e a Lógica e de encontro ao pior dos futuros que desejaríamos deixar para os que virão depois de nós.
A violência das ditaduras latinoamericanas, insufladas pela manipulação de generais por parte dos serviços secretos norte-americanos, esse modelo, perverso e covarde, de impor o terror contra a juventude e a intelectualidade, foi banido de nossas vidas há menos de cinco décadas e, no entanto, já há os que clamam pela volta dos ditadores ao poder!
Isso ocorre porque nossa memória, a História de uma Nação, não é referência para o clamor popular, principalmente daqueles que não viveram o suficiente para compreender que o pior dos mundos, o pior dos governos é aquele que massacra o povo, que humilha os jovens, que tortura e que mata em nome de “virtudes” e “valores” inexistentes.
Então, que elites são essas, arrogantes e poderosas o bastante para fazer sucumbir a Justiça e fazer valer sua vontade minoritária contra os anseios de toda Nação?
São os neonazistas da contemporaneidade, homiziados em fazendeiros, em evangélicos fanáticos, em empreiteiras e mineradoras comandadas por empresários corruptos, por políticos escolhidos por um eleitorado analfabeto e despreparado para eleger bons líderes e bons governantes. São banqueiros e agiotas inescrupulosos que, sorrateiramente, expropriam o povo de suas míseras economias, em empréstimos a juros escorchantes.
Esses inimigos públicos estão ao nosso redor, nas escolas e repartições públicas, nas empresas multinacionais, nas oligarquias políticas que se perpetuam no poder através de artifícios ilícitos, acobertados pela “justiça” incompetente de juízes malformados. Eles estão infiltrados em toda parte em nome de partidos políticos que enganaram o povo durante anos com uma bandeira de “Ética” e de “populismo”, para agora mostrarem suas verdadeiras faces e sua verdadeira orientação ideológica, banhada no sangue do Neoliberalismo... são os falsos intelectuais que disseram belas frases enquanto professores universitários, alimentando o Ideal de jovens, que acabaram mutilados pelo terror dos DOI-CODI, e, estando no poder, simples e ironicamente disseram: “Esqueçam tudo que eu disse, pois agora vou cooptar apoio dos oportunistas, pois preciso governar”!
Essa “elite” arrogante está ao nosso lado o tempo todo, fingindo ser o “baluarte da democracia”, alardeando o ideal positivista da “Ordem e Progresso” de nossa bandeira, afirmando que são eles que colocam comida em nossas mesas, e que, em nome desse “edificante e abnegado ideal”, precisam devastar florestas e extinguir rios e nascentes!
Mas quem come soja em todo almoço e jantar? Quem, dentre os pobres e miseráveis explorados por esses latifundiários, come carne todos os dias? Quem será beneficiado pelo petróleo extraído do pré-sal, ou pela exploração de minérios em terras indígenas?
Quantas mortes de indígenas, quilombolas, ribeirinhos e pequenos lavradores familiares serão necessárias para justificar o enriquecimento extravagante dessas “elites”?
Porém, o pior é que a indignação popular é tão frágil que, em poucas semanas, foi dominada por vândalos e baderneiros, sem bandeiras e sem ideologias, fazendo exatamente o que aqueles que se autodenominam “defensores da democracia” queriam.
O pior é que nem mesmo nossa imprensa tem, em suas fileiras, um décimo dos heróis jornalistas, que arriscaram suas vidas para denunciar e afrontar a ditadura de 1964...
Estamos, pois, diante desse anarquismo insano, que só faz por validar e consolidar o poder de um grupo que apenas convalida a triste constatação de um dos maiores juristas que o Brasil já teve: Ruy Barbosa, curiosamente o mesmo sobrenome daquele magistrado que preside a Suprema Corte de nosso país... será que este merece nossa confiança?
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