Dilma não tem demonstrado muita afinidade com o Partido dos Trabalhadores, pelo menos no que se refere à sua luta histórica em defesa do Trabalho em contraposição ao Capital. Suas decisões têm sido tomadas sempre em favor do Capital, seja quanto aos investimentos em grandes obras públicas (hidrelétricas, ferrovias, rodovias, PAC), seja com relação ao diálogo indispensável de qualquer governante para a solução de demandas trabalhistas dos próprios Servidores Públicos que estão em greve há mais de 60 dias.
Poder-se-ia argumentar que investimentos bilionários em mega-construções geram milhares de empregos, mas isto é uma falácia ou, pelo menos, meia verdade. Essas obras, além de mal planejadas, não levam em consideração os impactos ambientais que, inevitavelmente, serão repassados ao povo brasileiro, quando os recursos naturais se tornarem escassos e insuficientes para a sobrevivência de nossos ecossistemas. Já estamos percebendo transformações climáticas significativas, cada vez mais intensas e frequentes, seja no Brasil, seja no resto do mundo. Durante a Rio + 20 a atuação do Brasil foi medíocre e de contemporização com as grandes potências que, além de não enviarem seus mandatários para não se comprometerem com decisões críticas, produziram um documento pífio, sem valor nenhum para a redução do aquecimento global ou da preservação dos oceanos e demais recursos naturais.
Também se poderia afirmar que as greves dos servidores públicos são inconsequentes e suas demandas são incompatíveis com a realidade mundial, o que é absolutamente verdadeiro. No entanto, as propostas de Dilma também são ridículas e absolutamente insatisfatórias para a grande maioria dos trabalhadores, não repondo sequer as perdas salariais em razão da inflação acumulada nos últimos anos. Ou seja, a disputa ridícula que sempre caracterizou as negociações salariais no Brasil, de um lado, os sindicatos exigindo reajustes disparatados, e de outro o governo e os empresários oferecendo migalhas, decorre de atitudes irresponsáveis que levarão, necessariamente, ao impasse e à radicalização.
Deve-se observar que a maioria dos servidores públicos não entrou em greve e continua trabalhando, na expectativa de que o governo tenha bom-senso e justiça em sua decisão. Além disso, as demandas dos servidores não se restringiam a aumentos salarias: o que se pede são planos de carreira para eliminar as distorções absurdas entre os proventos em diversos órgãos públicos, uns recebendo salários exorbitantes, outros percebendo vencimentos medíocres. No entanto, Dilma ignora essas demandas e disparidades e oferece apenas reajustes salariais, e ameaça os trabalhadores, afirmando que, caso os sindicatos não aprovem a "generosa" oferta de 15,8% em três anos, ninguém receberá nenhum reajuste! O que ela pretende? Forçar os trabalhadores a cruzar os braços e paralisar os serviços públicos, penalizando não apenas os servidores mas toda a economia nacional? Atitude irresponsável e estúpida, incompatível com o cargo de governante máximo de uma Nação com mais de 200 milhões de habitantes, e uma das mais prósperas economias mundiais.
O fato é que os "negociadores" de Dilma mantiveram a classe trabalhadora pública federal em humilhante estado de espera até as vésperas do prazo fatal de votação do orçamento, fugindo covardemente das negociações, com o claro e inequívoco propósito de impor sua vontade imperial contra os servidores. É evidente que Dilma tem muito mais afinidade com as práticas ditatoriais que ela diz ter combatido nas décadas de 60 e 70, do que com o espírito democrático que se espera de um estadista que, certamente, ela não é. Sua vontade imperial sempre foi acatada, mesmo durante o governo Lula. Prova disso são as obras de hidrelétricas na Amazônia, ou as obras da Transposição do Rio São Francisco, todas confrontando as opiniões abalizadas de cientistas, de ambientalistas e da própria população afetada pelos empreendimentos, como são as populações indígenas da região de Belo Monte.
O que acontecerá daqui para a frente está fora de controle, seja dela e de seus negociadores, seja dos sindicatos e da própria classe trabalhadora, pois nenhuma negociação foi, verdadeiramente conduzida durante essas ridículas reuniões do mês de agosto. Certamente, o resultado disso se fará sentir não apenas na peça orçamentária de 2012, mas durante os próximos três anos, pois ninguém ficará satisfeito com os reajustes, sejam eles iguais a zero, como pretende a "presidenta ditadora", sejam os 15,8% prometidos, caso os sindicatos se rendam ao "ultimatum" da "generala" em sua "campanha" militarista e totalitária. O risco maior é uma desobediência civil, nos moldes de operações padrão, onde a presença de servidores nos seus respectivos postos de trabalho não assegurará a execução efetiva de suas atividades. Isso seria o caos nos serviços públicos, muito pior do que qualquer greve.
Encurralar o "inimigo" é uma estratégia muito perigosa em qualquer batalha, contenda ou disputa, e pode resultar em consequências totalmente fora de controle. O funcionalismo público já é ineficiente e mal administrado em todas as suas esferas, por razões históricas que não cabe discutir neste artigo; agora, acuado, poderá travar as ações públicas, levando à paralisação de obras importantes e à falência do malfadado PAC, com resultados catastróficos para a economia, uma vez que quem comanda hoje sua sobrevivência é tão-somente o dinheiro público investido em obras mal planejadas e mal executadas.
Os próximos passos deverão partir do governo, já que os sindicatos ameaçam rejeitar a inaceitável proposta federal. No entanto, pouco se espera de Dilma, que desde sua posse tem demonstrado pouquíssima habilidade política em negociações, seja nas esferas legislativas, seja dentro de seus próprios ministérios, seja na sua relação com trabalhadores, que ela insiste em ignorar e menosprezar. Não é assim que se administra, mas talvez ela não tenha a experiência e a sabedoria que se espera de governantes... vamos aguardar...
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