A História da Humanidade é marcada por eventos trágicos provocados pelos fenômenos naturais, tais como erupção de vulcões, terremotos, furacões, maremotos, inundações causadas por tempestades. Nos últimos milênios, desde que nos esquecemos do último período glacial, esses fenômenos arrefeceram, perderam força e intensidade, causando cada vez menores estragos e mortes, graças ao esfriamento gradual da Terra e do maior preparo das civilizações para lidar com esse tipo de fenômeno: construções mais sólidas, barragens, previsões de tempo mais confiáveis, sistemas de atendimento de urgência mais eficazes.
No entanto, nas últimas décadas esses fenômenos voltaram a ter intensidades extremas, causando morte e destruição; exemplo disso são a inundação do rio Yang Tsé (1931 - 1.000.000 mortos), o Ciclone de Bhola (1970 - 300.000 mortos), o Terremoto da China (1976 - 255.000 mortos), o Ciclone de Bangladesh (1991 - 138.000 mortos), o Tsunami da Indonésia (2004 - 250.000 mortos), o Sismo do Paquistão (2005 - 86.000 mortos), o Ciclone de Mianmar (2008 - 100.000 mortos), o Sismo do Haiti (2010 - 200.000 mortos). São números assustadores, mas dispersos em todo o planeta e em quase um século de história. Pouco representam, percentualmente, em relação à população da Terra.
Em nosso país, as tragédias se manifestam de forma mais branda, com menos mortes, embora todo desastre que envolva vítimas fatais nos assuste e cause pânico e desolação. É evidente que lamentamos profundamente esses acontecimentos! No entanto, dada sua dispersão no tempo e no espaço, não podemos associar a eles nenhuma causa excepcional provocada pela ação humana sobre o planeta. Esse é meu pior argumento, pois defendo há anos a causa ambientalista e o combate ao desmatamento e à destruição de nossas riquezas naturais. Não mudei de opinião; apenas acredito que são situações diferentes.
Sim, pois os deslizamentos de encostas de morros são, muitas vezes, ampliados e estimulados pela ocupação desordenada do solo nas grandes metrópoles; outras vezes, a fatalidade das tragédias é a consequência dessa mesma ocupação predatória, mas a causa do fenômeno nada tem a ver com a presença humana. Foi o que ocorreu agora, na região serrana do Rio de Janeiro; os especialistas afirmam que esses deslizamentos ocorrem porque a serra é instável e o volume de águas elevado, provocando os deslizamentos.
No entanto, ainda que os homens não sejam os responsáveis diretos pelos deslizamentos, são sim os responsáveis pelas mortes, pois essas encostas não deveriam ser habitadas. A omissão das autoridades, permitindo essas ocupações, e a insistência dos homens em morar em áreas de risco, ora por conveniência, ora por ignorância, ora por falta absoluta de alternativas oferecidas pelo poder público, essas são as verdadeiras causas das tragédias.
Então, quando ocorrem, surgem os messiânicos arautos do Evangelho, dizendo: "Deus quis assim!", ou então, para aqueles que se salvaram: "Deus não quis que ele morresse...", mesmo diante da perda de famílias inteiras, dilaceradas pelas mortes trágicas e desnecessárias. O fato é que, se Deus existe, ele nada teve a ver com a vida ou a morte dessas pessoas. Algumas, acidentalmente, estavam ausentes no momento da tragédia; outras, ao contrário, se deslocaram, casualmente, para a zona de impacto e pereceram em local inusitado.
Assim é a vida, repleta de acasos que nos remetem às crendices, afastando-nos da racionalidade que esses fenômenos exigem, não apenas para compreendê-los, mas também, e principalmente porque precisamos aperfeiçoar nossos métodos de prevenção, evitando situações de todo previsíveis, reduzindo o caos e o custo elevadíssimo da perda de vidas e dos esforços para a recuperação das áreas atingidas por esses fenômenos naturais.
Se a solidariedade se manifesta nessas situações, também a safadeza se mostra implacável, evidenciando a torpeza do ser humano, que rouba doações, que desvia verbas, que se aproveita da desordem para levar vantagem, essa marca indelével de nossa sociedade atual. Sim, porque hoje prevalecem os interesses pessoais, exacerbados pela competição sem limites que o homem colocou a si mesmo, não reconhecendo valores que, no passado, serviam de balizas para o comportamento coletivo. Hoje, isso pouco importa...
Como lidar com o imponderável? Como preparar essa população para sobreviver ao caos que se mostra iminente? Aqui resgato meus próprios valores e reafirmo minhas convicções ambientalistas, meus propósitos "evangelizadores" de que o Bem só sobrepujará o Mal se nós mudarmos nosso comportamento diante de nossa habitação coletiva: a Terra! O ódio e a discórdia existem como sempre existiram e continuarão a existir, a despeito de nossas convicções, pois está no coração dos homens. Mas podemos planejar um mundo melhor, onde os espertos não sejam premiados, onde a igualdade seja a lei maior e não permita privilégios enquanto houver fome e miséria. Ninguém pode ser rico se a pobreza ceifa vidas!
Somos mesquinhos e vivemos para nossa pequena comunidade familiar. Os amigos, quando existem, duram o tempo de nossa prosperidade. Basta empobrecer ou passar por dificuldades e eles desaparecem, assim como surgiram. Portanto, não podemos confiar na boa-fé da humanidade, ou acreditar que um ser superior venha resgatar os seres humanos de sua provável extinção. Somos nós, apenas nós, os responsáveis pela sobrevivência humana. Se acreditamos que o homem é a espécie animal mais bem sucedida na Terra, precisamos rever nossos conceitos, pois essa mesma competência da espécie humana a levará à extinção, não pela ocorrência de tragédias "naturais", mas pelo esgotamento dos recursos desse planeta, incapaz de sustentar por muitos anos o crescimento incontrolado da sua população.
Precisamos refletir sobre essas questões, pois os afortunados pouco se importam se a vida na Terra desaparecerá. Eles pensam com outra lógica: a de que "será bom enquanto durar"! E nós, seres éticos e justos, seremos banidos primeiro, junto com os miseráveis, quase-escravos dessa civilização tecnológica, que não reconhece fronteiras nem belezas a se preservar. Seremos extintos para que eles possam sobreviver; pois antes que o mundo se acabe, uma grande tragédia, nada natural, se abaterá sobre a humanidade, restaurando o "equilíbrio" populacional e o controle sobre os recursos naturais, para que essa minoria dominadora possa sobreviver e usufruir daquilo que eles próprios nos subtraíram...
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