terça-feira, 29 de maio de 2012

Mata Atlântica do Nordeste em extinção!

A Mata Atlântica no Nordeste, sobretudo na região acima do Rio São Francisco, já dá sinais de colapso. O porte das árvores vem diminuindo, assim como a variedade de animais e de plantas. O empobrecimento da biodiversidade reduz a capacidade da floresta prestar os chamados serviços ambientais, entre eles a preservação das fontes de água e o sequestro de carbono. De acordo com pesquisadores do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o problema é resultado direto da perda de cobertura vegetal. Do pouco que restou, 90% ficam em pequenos retalhos isolados, impedindo as interações entre plantas e animais necessárias para a sobrevivência do ecossistema.

Nesta região, a floresta atlântica, uma das mais ameaçadas do planeta, tem características únicas, explica o pesquisador Severino Ribeiro, diretor de Projetos do Cepan. Cerca de 80% de sua área são considerados de alta importância ambiental.

Restam apenas cerca de 10% da cobertura original e aproximadamente 90% do remanescentes estão em "ilhas" com menos de cem hectares. O maior pedaço de floresta contínua mede apenas 3.500 hectares. Além disso, as terras nas quais ainda há florestas pertencem, na sua grande maioria (90%), a propriedades particulares.

- O que estamos observando na Mata Atlântica do Nordeste é um fenômeno de empobrecimento da floresta que pode se tornar um padrão em outros remanescentes de mata - disse Ribeiro. - Isto é resultado de um processo histórico de anos de pressão e convívio com plantações, sobretudo de cana-de-açúcar.

Muitas vezes essas ilhas de floresta ficam nas áreas mais inacessíveis, com geografia acidentada, como os topos de morros. Outro problema que agrava a fragilidade da mata é a forma dos remanescentes. As manchas verdes são muito irregulares e entrecortadas, aumentando proporcionalmente a borda, que é a parte mais frágil, em relação à parte mais densa. A proximidade com a atividade rural - tanto as grandes plantações de cana quanto as roças dos pequenos agricultores - e com as áreas de expansão das cidades fazem pressão sobre os remanescentes de florestas.

A pobreza é mais um fator de risco para as florestas. Para economizar no gás, a lenha é largamente usada nas cozinhas entre Alagoas e o Rio Grande do Norte, consumindo 5,6 mil hectares de mata por ano. Isto é muito mais do que a natureza tem para oferecer sem sofrer duras consequências, como perda de áreas e diminuição do número de espécies.

- Chamamos este processo de sucessão retrogressiva. Como se fosse uma volta no tempo evolutivo da floresta. Em vez das plantas de menor porte darem lugar as maiores, ocorre justamente o contrário - explicou Ribeiro.- A floresta perde porte, verificamos uma cascata de extinção. Ela também fica vazia em termos de fauna. Há regiões em que o avistamento de mamíferos de porte é praticamente zero. E a fauna é uma das principais responsáveis pela dispersão de florestas.

As conclusões dos pesquisadores do Cepan são consideradas consistentes porque tomam por base pelo menos duas décadas de trabalhos acadêmicos. Eles foram escritos por especialistas que se debruçaram sobre a situação ambiental dos remanescentes de florestas. Padrões gerais puderam ser descritos pelos cientistas. Entre eles, a convicção de que a perda de massa florestal e a fragmentação dos remanescentes estão ocorrendo ao mesmo tempo em que a mata sofre outros tipos de perturbação provocadas pelo homem, como o corte de madeira, o fogo e a caça. A resposta dos ecossistemas costuma ser rápida. As reações vão ocorrendo em cascata, levando à extinção de planas e animais.

Solução é criar áreas verdes maiores e contínuas
Costurar os pequenos retalhos de mata para tecer uma área florestal maior é o caminho apontado por especialistas para tentar reverter o processo de empobrecimento da Mata Atlântica. O engenheiro florestal Carlos Alberto Mesquita, diretor do programa Mata Atlântica da ONG Conservação Internacional Brasil, explica que os mosaicos florestais, ao lado da exploração agrícola sustentável - na qual áreas de mata são preservadas mesmo em regiões de cultivo -, são soluções cujos efeitos, muitas vezes, só poderão ser observados no longo prazo.

- Temos alguns caminhos validados pela ciência e que precisam ser experimentados. O primeiro é pensar a passibilidade de reconectividade, identificando os fragmentos pequenos que têm área e diversidade relevantes. Em seguida, partir para a restauração de corredores com o objetivo de permitir a ligação dos fragmentos. Essa é a saída que tem se mostrado mais eficiente - disse Mesquita. - Apesar de cara, é uma iniciativa que inevitavelmente tem que fazer parte das alternativas para recuperar a mata no Nordeste.

Há várias técnicas disponíveis nas quais é possível conciliar o cultivo agrícola com áreas de floresta. Pesquisa realizada pela Universidade de Santa Cruz, de Ilhéus, na Bahia, destaca o modelo da Cabruca. Nele, os produtores de cacau preservam a Mata Atlântica, garantindo a manutenção da biodiversidade. O sistema será apresentado na Rio+20 como um exemplo de economia verde em franca ascensão no Brasil.

- A cabruca é importante quando combinada com elementos florestais. Ela por si só não protege a biodiversidade - salientou Mesquita.

A Conservação Internacional também desenvolve, com o apoio de outras ONGs, entre elas o Cepan, além de empresas, sobretudo a Monsanto, o projeto "Produzir e Conservar". As duas principais vertentes são reduzir a pressão nos fragmentos e incentivar a restauração florestal. Na primeira, foram distribuídos 80 fogões na cidade de Murici que consomem muito menos lenha. O próximo passo será fazer com que os próprios agricultores consigam construir seus fogões. Na segunda, há iniciativas como a restauração das Áreas de Preservação Permanente (APPs). A cidade de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, é o modelo: conseguiu recuperar 100% das APPs.



Fonte: Notícias Yahoo!

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