O fio condutor da História da Humanidade indica que a evolução da raça humana e sua diferenciação dos outros animais não se limita à nossa capacidade de raciocínio privilegiada. Existe um outro fator que nos diferencia dos "bichos" e nos impele a dominar o mundo: é a ambição sem limites que faz uso da força não apenas para conseguir alimentos ou assumir a liderança de grupos humanos, mas também para conquistar, humilhar e impor sua vontade.
Essa constatação não é mera retórica. Todas as civilizações que se destacaram no passado têm em sua consciência um número incontável de mortes, seja nos campos de batalha ou nas catacumbas do poder onde, através da tortura e da humilhação, homens se tornaram poderosos e ricos; mais ricos do que qualquer senso ético poderia admitir como tolerável.
Nessa ânsia pelo poder, pela dominação e pelo enriquecimento o ser humano cresceu, sua ciência se desenvolveu e sua cultura, sob todos os aspectos, floresceu. Se a Arte Clássica atingiu patamares tão elevados e sublimes, deve isso aos poderosos, que não apenas financiavam seus criadores, mas colocavam-nos no patamar dos "nobres".
Arte, Ciência e Religião foram, ao longo dos séculos, a expressão máxima da cultura humana, seu orgulho e sua recompensa pelos crimes bárbaros cometidos contra os pobres, os dominados, os escravos. Hoje, chega-se a valorizar a "Arte da Guerra", como se pudéssemos nos orgulhar das tragédias cometidas pelos nossos antepassados em busca do poder e da fama. O livro de Sun_Tzu tornou-se "best seller" entre executivos de grandes organizações em função de seus conselhos sobre como dominar e destruir seus adversários. As áreas de marketing e vendas de qualquer organização constituem-se em seu "bunker" para surpreender a "concorrência", nome contemporâneo para se identificar o "inimigo".
Antigas civilizações são cultuadas pelos seus feitos "heroicos", suas conquistas de territórios, suas escaramuças contra outros povos, seus saques e estupros praticados contra o perdedor. A economia desses povos antigos se fundamentava na mão de obra escrava, constituída de soldados capturados nos campos de batalha e cidadãos endividados que não conseguiam cumprir suas obrigações financeiras. A sociedade se constituía de castas, cada qual com seus privilégios, diferenciando seres humanos pela sua origem étnica ou social.
A História Moderna não é diferente: apenas o poder de dominação que cresceu, tornando as guerras mais devastadoras, seja contra o ser humano, seja contra o meio ambiente. Na Segunda Guerra Mundial morreram cerca de 25 milhões de pessoas, entre soldados e população civil, enquanto que no conflito anterior contabilizaram-se quase 20 milhões de indivíduos. Na Guerra dos Cem Anos, que durou de 1.337 a 1.453 e envolveu toda Europa de então, morreram "apenas" milhares de pessoas, segundo estimativas dos historiadores.
É claro que a população da Terra no século XX é muito superior à população dos séculos XIV e XV, mas o que mudou, de fato, foi o poderio militar contemporâneo, as armas de alto poder de destruição e a estratégia militar. No entanto, o que não mudou foi o espírito belicista e violento do ser humano, causa de todas as guerras: ambição, poder e riqueza!
Mas o mais intrigante é que as consequências das guerras sobre o desenvolvimento das civilizações foram extremamente "favoráveis". Podemos até dizer que o Conhecimento Humano cresceu aos saltos, justamente nos períodos de guerra e subsequentes. Nos raros intervalos de paz de qualquer civilização, o que houve foi uma enorme estagnação!
Isso poderia nos levar a concluir que as guerras são um "mal necessário", mas essa é uma conclusão simplista e estúpida, ainda que os resultados evidenciem o processo evolutivo. A questão fundamental é: "Se não existissem as guerras o Homem teria evoluído mais, intelectualmente? Teria sido mais feliz? Em que estágio evolutivo estaríamos hoje sem não houvessem as guerras? Será que nossa sociedade seria menos consumista e haveria menos desperdício dos recursos naturais? Que consequências teria isso para a humanidade?"
São perguntas que não saberemos responder, uma vez que a natureza humana mudou muito pouco ao longo desse nosso curto período de existência na face da Terra. Sim, pois nossa história representa apenas 0,002% da existência de vida animal em nosso planeta! No entanto, podemos afirmar que hoje seríamos mais felizes, ao menos por não carregar na consciência o peso de tantas e tamanhas atrocidades praticadas pelos nossos antecedentes!
Outro aspecto relevante a se considerar é qual rumo teria seguido a Ciência e o Conhecimento Humano se não tivéssemos esse espírito belicista, cruel e destruidor? Como seria viver em Paz, sem a existência de conflitos? Por que somos assim? Dizer, simplesmente, que somos seres imperfeitos é uma resposta simplória demais, pois não há justificativa para qualquer tipo de violência. No entanto, até nossos mecanismos de coerção e combate à violência são extremamente violentos! Então, nunca haverá um mundo de Paz?
Voltemos à nossa História recente com um exemplo, talvez o mais contundente: os Estados Unidos da América do Norte são considerados o "baluarte da democracia", e citados como exemplo de sociedade onde os indicadores sociais são os mais elevados do mundo. No entanto, em sua curtíssima existência, esse país já se envolveu em mais conflitos do que qualquer outro; basta citar a 2ª Guerra, a Guerra do Vietnam, a Guerra do Golfo, a Guerra contra o Iraque, a Guerra do Afeganistão, as invasões de Cuba e as intervenções em grande parte dos golpes militares do século XX, intervenções essas que favoreceram, paradoxalmente, a ruptura do processo democrático de Nações livres, justificadas pela "necessidade" de bloquear a evolução do comunismo em direção ao Ocidente. Curiosamente, em nenhuma dessas guerras ou intervenções os "EUA" estiveram diretamente ameaçados!
Também há que se destacar os "métodos" adotados nesses conflitos, com o uso de bombas nucleares contra o Japão, armas químicas e biológicas contra o Vietnam, assassinatos perpetrados pela CIA em todo o mundo, contra líderes políticos, grupos estudantis, cientistas e intelectuais de esquerda. Na verdade essa lista de crimes não tem fim, pois não apenas o governo americano ordenou essas matanças, mas também grandes multinacionais os praticaram em defesa de seus "interesses" capitalistas.
Diante dessas constatações retornamos ao tema original: quais seriam as virtudes do Ser Humano diante de tantos "pecados", tantas atrocidades e tantos crimes praticados em nome de "verdades" relativas, que só às castas privilegiadas interessam? Haveria futuro para a "Raça Humana" diante de um passado tão vergonhoso? O que mudou na consciência do Homem no presente?
Não vejo razões para ser otimista...
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