Toda eleição tem seu preço, e isso nós já sabemos. Mas quando as concessões são excessivas, o preço é alto demais para a Nação. Quanto terão pago, Dilma e o PT, para manter a coesão do PMDB e seu apoio à candidata nesta eleição? Não são apenas cargos e ministérios; são concessões ideológicas! E esse é o perigo de uma "democracia" baseada no poder econômico.
Sim, pois o dinheiro para uma campanha milionária é superior ao orçamento da maioria dos municípios brasileiros. Nós pagamos por isso! O que esperamos é que o preço não tenha sido tão elevado, mas é uma esperança vã, quase um desejo desesperado pela justiça que não virá, pois não foi a parte saudável do PMDB quem apoiou Dilma, e isto também nós sabemos.
Dilma já se comprometeu a conceder 30% de seus ministérios às mulheres. Seria esse o critério de justiça que irá nortear seu governo? Então, quantos ministérios haveriam de ser concedidos aos negros, aos católicos, aos evangélicos, aos indígenas, aos homossexuais? Certamente, as mulheres têm direito de participar de qualquer governo, mas já se tornou evidente que o sistema de cotas não é justo nem adequado à partilha de espaços.
Todos temos a tendência de simplificar as grandes questões nacionais adaptando-as às nossas realidades particulares, acreditando que dar espaço às minorias significa justiça e compensação pelos erros históricos havidos na formação do Estado brasileiro. Não é assim!
A justiça se faz pela igualdade de direitos na origem dos problemas e não quando eles já se manifestaram e as diferenças se tornaram irremediáveis! O momento certo de agir é sempre com as próximas gerações, quando elas eclodem na sociedade e não têm acesso às condições de saúde, segurança alimentar e escolaridade fundamental. É neste momento que as diferenças se manifestam de forma inexorável, maculando definitivamente a sociedade.
Pois agora, e a cada novo governo empossado, e a cada novo dia que nasce no horizonte, temos condições de intervir de forma contundente, modificando as condições que geram as diferenças. Intervir no processo educacional, no sistema de saúde pública, nos critérios de enriquecimento excessivo de nossas populações minoritárias em número, mas majoritárias em poder econômico, político e social. Taxar as grandes fortunas, controlar os imensos salários é uma das formas de reduzir as diferenças. Melhorar a qualidade do ensino público, pagando salários competitivos ao "mercado profissional das escolas privadas" é outra maneira.
Vivo em uma região esquecida pela mídia, pelos políticos e pelas populações privilegiadas do sul e sudeste deste imenso país. Quem se lembra (ou se importa) que aqui vivem nossas populações ancestrais, mais de 100.000 indígenas concentrados na Amazônia, passando fome, sem acesso a uma educação que lhes permita sonhar que um dia terão as mesmas oportunidades do resto da população deste país? São povos massacrados pelo nosso passado, pelas missões jesuíticas e seus aldeamentos, pelos evangélicos, pelas forças militares de Portugal, pelos fazendeiros que compravam escravos indígenas a preço de banana, pelos comerciantes inescrupulosos que os viciam no alcoolismo, pelos antropólogos sonhadores que tentam salvar a imagem romântica dos índios nus, caçando com arco e flecha, coletando frutos e sementes, pescando com lanças... o que será feito desses indígenas?
Pois aquelas promessas eleitoreiras que agora começam a ser pagas terão seu preço inflacionado pela ganância dos homens, ansiosos pela partilha da Nação. Breve ninguém se lembrará que houve uma mudança histórica, que o presidente Lula ficou no passado, que suas conquistas foram "vitórias de Pirro" e que o país continuará sendo governado pelas oligarquias políticas e econômicas, que a mídia continuará atendendo aos interesses dos poderosos, que os evangélicos continuarão crescendo seu "rebanho" e arrecadando os milhões que enriquecem nossos Edir Macedo´s, e que as minorias continuarão esquecidas.
Nem todas as promessas precisam ser pagas. Aquelas imorais, feitas no calor dos debates eleitorais, podem ser perdoadas em nome da Justiça Social, da moralidade e decência no uso do dinheiro público, em nome da redução do imenso fosso que separa as populações massacradas dos privilégios daqueles que nasceram em "berço esplêndido" e só por isso terão o direito de herdar as benesses do lucro fácil e das oportunidades que nunca chegarão aos párias dessa falsa sociedade democrática! Esse é o dilema que diferencia o Estadista...
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