quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Crise da Natureza

Seca no Nordeste... enchente na Amazônia! "Sempre foi assim", dirão os céticos... mas são dois recordes batidos no mesmo dia: a maior seca dos últimos 47 anos e a maior enchente histórica do rio Negro! Coincidência? Certamente, não! O que percebemos é um desequilíbrio ecológico provocado pelas intervenções humanas nas últimas décadas, anunciadas à exaustão por cientistas e estudiosos do Meio Ambiente. Aliás, não é preciso ser um especialista nas Ciências da Natureza para perceber o que está acontecendo!

Nos últimos sessenta anos a população da Terra triplicou de tamanho; as novas tecnologias ampliaram as necessidades de uso de recursos naturais não renováveis; a população de gado também cresceu nas mesmas proporções, exigindo um aumento nas áreas plantadas e, consequentemente, a mesma redução nas áreas de preservação ambiental - trocamos florestas por pastos e campos de soja, milho, sorgo e outros vegetais, não para abastecer a mesa dos homens, mas para engordar o boi! Aliás, em consequência dessa mudança de dieta humana, hoje somos muito mais obesos do que eram os nossos avós! Coincidência?

O aquecimento global vem se acelerando, causando mudanças climáticas irreversíveis, como é o caso do degelo de calotas polares, dos glaciares da Patagônia e de muitas montanhas cobertas de neve, que se supunham eternas. O homem não dá tréguas ao Meio Ambiente para que ele possa se recuperar dos desastres causados pela agressividade dos devastadores da Natureza. Nunca, em tempo algum, o ser humano foi tão predatório como nos tempos recentes. Prova disso são as atividades de mineração, exploração de madeira e do agronegócio. Este, por sua vez, nunca foi tão drástico na destruição do nosso planeta: além de substituir florestas por pastagens e plantations, ainda despeja milhões de toneladas de agrotóxicos nas plantações, contaminando os alimentos e as fontes de água potável.

Quem viveu esses sessenta anos aos quais me referi pode testemunhar a devastação acelerada que transformou a face da Terra, reduzindo as matas a pequenas manchas isoladas e desprovidas de vida selvagem na maior parte de nosso território. Se o café destruiu mais da metade do território paulista nos últimos cem anos, foi a cana de açúcar e a soja que fizeram o resto do estrago: metade do Cerrado brasileiro já não existe mais. É mais do que sabida a importância do Cerrado na formação das bacias hidrográficas brasileiras, e sua extinção poderá comprometer definitivamente as bacias do Paraná, do São Francisco, do Pantanal e de boa parte dos rios perenes da região central do Brasil.

A escassez de água já não é mais um prognóstico, mas uma certeza. Se a água sempre foi mal distribuída, agora ela começa a faltar em regiões de alta densidade populacional, como a Grande São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, todos abastecidos por fontes de água distantes de sua população. A crise do fornecimento de água é mundial, e quem ainda dispõe de reservas significativas, como é o caso do Brasil deverá estar atento às transformações sociais e às migrações decorrentes da seca e da falta de água em outras regiões do globo.

Se houvesse inteligência nas políticas públicas, o governo estaria protegendo com mãos de ferro essas reservas hídricas, pois elas valerão mais do que a soja, o gado, os minérios e o petróleo dentro de poucos anos. Se ainda possuímos aquíferos subterrâneos com capacidade de nos manter abastecidos por muitos anos, deveríamos cuidar das fontes de alimentação desses aquíferos ao invés de estimular o plantio de soja e de cana de açúcar.

Às vésperas do início da importante reunião mundial conhecida como Rio + 20 temos muito pouco para mostrar aos nossos parceiros mundiais; não cuidamos de nossas florestas, estamos às vias de aprovar a pior legislação que já se fez no Brasil, favorecendo latifundiários ao invés de estimular as lavouras familiares e indígenas, e "perdoando" os crimes ambientais cometidos durante décadas por esses inimigos do Meio Ambiente.

O que nos resta fazer? Lamentar não adianta; tentar conscientizar a população acerca desse engodo político perpetrado pela bancada ruralista também não fará diferença. Portanto, o que nos resta, a nós ambientalistas, é denunciar à comunidade internacional essas manobras indecentes e mostrar a verdadeira face de nossos ruralistas: o que eles querem é tomar de assalto toda terra que possam roubar da Natureza para transformar em campos de gado e de soja. Talvez a reunião do Rio de Janeiro seja um retumbante fracasso, uma vez que os próprios dirigentes das grandes nações poluidoras e devastadoras, como os Estados Unidos e a China, já demonstraram sua má vontade para com as teses preservacionistas. No entanto, pouco nos resta fazer senão apostar que o bom senso prevaleça antes que o tempo se acabe e os estragos se tornem irreversíveis.

A principal decisão a ser tomada não é politicamente aceitável: estancar o crescimento populacional e combater rigorosamente o consumismo dessa nova era decadente do Capitalismo selvagem que tomou conta do mundo depois da derrota do Socialismo. Resta-nos, portanto, esperar que alguma catástrofe demonstre, incontestavelmente, a veracidade das teses preservacionistas e das ameaças da Crise da Natureza, que se avizinha... quem sabe assim os remanescentes da raça humana refaçam a Civilização em bases mais justas, mais humanas e mais dignas! Se não for assim, melhor será que a Humanidade se acabe...

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