Meus caros amigos,
Sempre que um ano se encerra temos a sensação ilusória de que o mundo se renova e uma nova oportunidade se manifesta para que o ser humano se regenere e cuide dos outros, da Natureza, dos esquecidos e necessitados, dos segregados pelas injustiças de um mundo desigual, ressurgindo uma efêmera solidariedade que dura o tempo da troca de presentes e das comemorações de Natal e Ano Novo. Nesses dias de muita festa, muita bebida e generosos gastos com presentes, as mensagens trocadas falam de PAZ, HARMONIA e AMOR...
Quanto desses desejos são intenções verdadeiras? Quanto de cada um de nós está verdadeiramente comprometido com as mudanças, com uma nova visão de mundo que não segregue a miséria, a cor da pele, a origem étnica e as classes sociais desprivilegiadas? Quanto de nós colocamos nesses textos bonitos e edificantes, que falam de um mundo que nunca existiu?
Pois, apesar de toda hipocrisia contida nessas mensagens, cada ciclo de nossas vidas, quando se encerra, traz um momento de reflexão que até poderia gerar mudanças de comportamento, extraindo de cada um de nós o que de melhor existe. Mas é preciso mais do que palavras, mais do que presentes, mais do que manifestações passageiras de solidariedade. Enquanto estivermos fechados em nosso mundo de privilégios "conquistados", olhando o Universo através de uma janela, por detrás da cortina e das grades que nos protegem, a vida permanecerá a mesma, e começaremos um novo ano com muitas promessas que jamais se concretizarão.
Portanto, desejo a todos um ano novo diferente, em que as mazelas do mundo nos incomodem o bastante para gerar verdadeiras mudanças, e que não seja mais possível fingir que somos piedosos, solidários e generosos... que a humanidade sofra, de fato, as consequências de suas atrocidades, e que todos nós sejamos, pelo menos, conscientes de nossa parcela de culpa em todo esse processo cruel, deprimente, degradante, injusto e repleto de privilégios inaceitáveis.
Somente assim poderemos mudar, definitivamente, nosso papel na vida e encontrar, em nossos semelhantes, os seres humanos que se ocultam na pobreza, na degradação moral, na sujeira, nas esquinas suspeitas, nos vícios... esse seria o sermão dos seres iluminados que por aqui passaram e deixaram suas doutrinas para nos inspirar. Não existem livros sagrados se as práticas de seus devotos são incoerentes com as palavras que professam nas cerimônias religiosas, se suas vidas são o avesso das orações...
Com muito carinho e esperança em um mundo novo e verdadeiramente admirável...
FELIZ ANO NOVO!
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