quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A casuística dos fatos

Causa, no mínimo, estranheza o fato de que a quebra de sigilo de alguns personagens ligados ao PSDB tenha sido divulgada justo no momento da virada das pesquisas eleitorais em favor da candidata do PT, Dilma Rousseff, mesmo que esses acessos indevidos tenham ocorrido em outubro ou novembro de 2009. Será que só no momento exato de se utilizar a informação ela teria sido descoberta? Claro que não! Na verdade, a disputa eleitoral corria dentro dos limites da educação e do respeito que se espera de candidatos à Presidência da República até que Serra e seus aliados perceberam que seu discurso não convencia ninguém.

A guerra de baixo nível começou quando o PSDB viu seu barco fazer água e os indicadores em favor da candidata petista chegaram a inacreditáveis 51% do eleitorado. Ficava evidente que com palavras comedidas e promessas de campanha não se reverteria esse quadro desesperador. Era necessária munição de grosso calibre mas, diante da falta de críticas fundamentadas quanto aos dois mandatos de Lula, só restava apelar para factóides. Talvez essa velha arma de guerra funcionasse mais uma vez, mesmo que os fatos apresentados não confirmassem sua origem. Primeiro foi a tentativa de associar a imagem de Lula às FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, relembrando o passado guerrilheiro de Dilma Rousseff.

Não se sabe quem fez a besteira de garimpar os dados da Receita Federal, mas é evidente que, assim como Serra não faria uso desses artifícios, Dilma também não cometeria essa imprudência, até porque o seu time estava ganhando de goleada! O governo Lula, a despeito de todas as críticas que fizemos até hoje, teve méritos incomparáveis ao possibilitar que um número muito expressivo de seres humanos tivesse acesso a condições mínimas de sobrevivência, ao contrário de seus antecessores, FHC, Collor e Sarney que só atenderam, em suas políticas, às classes dominantes.

O que se espera é que o eleitorado não caia nessa tola armadilha, nem mude de opinião às vésperas das eleições. Essa jogada suja já foi praticada por Collor contra Lula, apresentando uma filha sua ("ilegítima") à imprensa e revertendo o eleitorado. O resultado foi desastroso, como todos sabem: um paranóico na Presidência, tomando medidas radicais e inconsequentes, que levaram o país ao caos e resultaram em prejuízos incalculáveis para as empresas e para milhões de brasileiros, que viram suas economias transformadas em poeira, nas cadernetas de poupança.

Transformar um factóide em um escândalo é a grande arma do PSDB agora, no desespero. É evidente que a cúpula do PT e a própria candidata não se rebaixariam a tanto, devassando as declarações de renda de políticos da oposição, embora isso não devesse ser nem mesmo necessário: homens públicos deveriam ter a obrigação de divulgar sua declaração de bens antes das eleições e depois, quando saíssem do poder. É o mínimo que se espera de quem irá manipular verbas públicas e estará sujeito a propostas desonestas de grandes empresas.

Partindo do mesmo raciocínio, ninguém deveria ter o direito de esconder suas fortunas pessoais; só assim saberíamos quem vive no "País das Maravilhas" e quem sofre as agruras da vida por não ter o que comer, pela simples razão de ter nascido do "lado errado" da vida! Se riqueza não é vergonha, ninguém deveria ter motivos de escondê-la, não é verdade? Porém, o mundo não é tão simples assim, e se fôssemos investigar as origens das grandes fortunas, ficaríamos perplexos pela quantidade de safadeza que as gerou!

Em uma sociedade de castas, dissimulada como a nossa, falar de fortunas é desvendar as tramas de um tabu; é penetrar em um labirinto de negociatas e artifícios que surgiram, no Brasil, desde a época da colonização, passou pela distribuição de terras em sesmarias, percorreu o sinuoso caminho das grilagens e da malversação do dinheiro público, chegando ao clientelismo dos partidos políticos que hoje dominam o cenário político nacional.

Vamos aguardar o desenrolar dos acontecimentos e constatar a sujeira que esses políticos são capazes de levantar; quase uma vocação inata para a imundície da sonegação de informações e da deturpação dos fatos pois o que vale mesmo é ganhar as eleições. Depois, os tolos que votaram em qualquer um deles se esquecerão dessa podridão com a qual compactuaram e comemorarão a vitória; ou então lamentarão a derrota, arrependendo-se de não ter explorado melhor e mais espertamente a sordidez humana!

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