segunda-feira, 27 de setembro de 2010

São Gabriel da Cachoeira

A cerca de 900 km de Manaus (mais de 1.000 km por rio), em direção à Colômbia, fica São Gabriel da Cachoeira, município com quase 40.000 habitantes, dos quais 35.000 são indígenas pertencentes a 25 etnias. A maior parte desses indígenas habita as quase 750 aldeias e comunidades espalhadas por um território quase do tamanho do estado de Minas Gerais.

A cidade de São Gabriel da Cachoeira não tem acesso por terra; apenas a Trip oferece vôos diários de Manaus; a outra alternativa são os barcos que sobem o rio Negro e levam de 2 a 5 dias de viagem, dependendo da época do ano, para chegarem aqui. É um lugarejo completamente inserido na floresta amazônica, coberto de árvores que, no entanto, não diminuem o intenso e úmido calor do Equador, que bate nas pessoas como uma ducha de água quente. Ninguém consegue ficar muito tempo ao sol, nem mesmo os nativos. A temperatura gira em torno de 35ºC, mas a sensação térmica é de quase 50ºC.

Nesta época, um imenso enxame de borboletas invade a cidade todos os dias, ao entardecer; milhões de insetos voando todos para a mesma direção, da mesma espécie, com uma coloração externa de um marrom intenso e, internamente, de um roxo profundo e aveludado. Um espetáculo inesquecível! Depois elas se aqueitam e surgem bandos de andorinhas, fazendo suas acrobacias pelos céus até que a noite se aproxima e tudo se aquieta.

São Gabriel não é uma bela cidade, nem acolhedora, mas tem suas virtudes: pacata, não se ouve falar de crimes na região; os indígenas são extremamente humildes e quietos, quando sóbrios, pois costumam se embriagar com frequência, com sua bebida predileta: o caxiri, espécie de destilado da mandioca, muitas vezes "enriquecido" com cachaça 51, de efeito fulminante!

Aqui não há nada para se fazer, exceto a praia, de uma areia completa e impecavelmente branca, mas apinhada de banhistas e um som ensurdecedor de todos os lados: axé, techno, funk e todo arsenal de música brega e de mau-gosto. O rio Negro é muito bonito e perigoso, devido às corredeiras e pedras que, nesta época, começam a se evidenciar em seu leito exposto. Dizem que de dezembro a fevereiro, a navegação se torna extremamente perigosa a partir de São Gabriel, rio acima.

A maioria das aldeias indígenas fica no rio Negro e seus afluentes, chegando a se levar 15 dias de barco para atingir as povoações mais distantes, na divisa com a Colômbia. Nesse caso, a navegação é um misto de "levar e ser levado" pelos barcos, pois muitas corredeiras não permitem que o barco suba, mesmo com motor de "rabeta". Os Yanomami são os indígenas mais miseráveis e esquecidos no meio da selva amazônica; ficam ao norte de São Gabriel, estendendo-se por Roraima e pela Venezuela, incluindo o Parque Nacional do Pico da Neblina.

Essa é a realidade que encontrei aqui, muito diferente do que imaginava, e que será o meu lar por pelo menos dois anos.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A casuística dos fatos

Causa, no mínimo, estranheza o fato de que a quebra de sigilo de alguns personagens ligados ao PSDB tenha sido divulgada justo no momento da virada das pesquisas eleitorais em favor da candidata do PT, Dilma Rousseff, mesmo que esses acessos indevidos tenham ocorrido em outubro ou novembro de 2009. Será que só no momento exato de se utilizar a informação ela teria sido descoberta? Claro que não! Na verdade, a disputa eleitoral corria dentro dos limites da educação e do respeito que se espera de candidatos à Presidência da República até que Serra e seus aliados perceberam que seu discurso não convencia ninguém.

A guerra de baixo nível começou quando o PSDB viu seu barco fazer água e os indicadores em favor da candidata petista chegaram a inacreditáveis 51% do eleitorado. Ficava evidente que com palavras comedidas e promessas de campanha não se reverteria esse quadro desesperador. Era necessária munição de grosso calibre mas, diante da falta de críticas fundamentadas quanto aos dois mandatos de Lula, só restava apelar para factóides. Talvez essa velha arma de guerra funcionasse mais uma vez, mesmo que os fatos apresentados não confirmassem sua origem. Primeiro foi a tentativa de associar a imagem de Lula às FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, relembrando o passado guerrilheiro de Dilma Rousseff.

Não se sabe quem fez a besteira de garimpar os dados da Receita Federal, mas é evidente que, assim como Serra não faria uso desses artifícios, Dilma também não cometeria essa imprudência, até porque o seu time estava ganhando de goleada! O governo Lula, a despeito de todas as críticas que fizemos até hoje, teve méritos incomparáveis ao possibilitar que um número muito expressivo de seres humanos tivesse acesso a condições mínimas de sobrevivência, ao contrário de seus antecessores, FHC, Collor e Sarney que só atenderam, em suas políticas, às classes dominantes.

O que se espera é que o eleitorado não caia nessa tola armadilha, nem mude de opinião às vésperas das eleições. Essa jogada suja já foi praticada por Collor contra Lula, apresentando uma filha sua ("ilegítima") à imprensa e revertendo o eleitorado. O resultado foi desastroso, como todos sabem: um paranóico na Presidência, tomando medidas radicais e inconsequentes, que levaram o país ao caos e resultaram em prejuízos incalculáveis para as empresas e para milhões de brasileiros, que viram suas economias transformadas em poeira, nas cadernetas de poupança.

Transformar um factóide em um escândalo é a grande arma do PSDB agora, no desespero. É evidente que a cúpula do PT e a própria candidata não se rebaixariam a tanto, devassando as declarações de renda de políticos da oposição, embora isso não devesse ser nem mesmo necessário: homens públicos deveriam ter a obrigação de divulgar sua declaração de bens antes das eleições e depois, quando saíssem do poder. É o mínimo que se espera de quem irá manipular verbas públicas e estará sujeito a propostas desonestas de grandes empresas.

Partindo do mesmo raciocínio, ninguém deveria ter o direito de esconder suas fortunas pessoais; só assim saberíamos quem vive no "País das Maravilhas" e quem sofre as agruras da vida por não ter o que comer, pela simples razão de ter nascido do "lado errado" da vida! Se riqueza não é vergonha, ninguém deveria ter motivos de escondê-la, não é verdade? Porém, o mundo não é tão simples assim, e se fôssemos investigar as origens das grandes fortunas, ficaríamos perplexos pela quantidade de safadeza que as gerou!

Em uma sociedade de castas, dissimulada como a nossa, falar de fortunas é desvendar as tramas de um tabu; é penetrar em um labirinto de negociatas e artifícios que surgiram, no Brasil, desde a época da colonização, passou pela distribuição de terras em sesmarias, percorreu o sinuoso caminho das grilagens e da malversação do dinheiro público, chegando ao clientelismo dos partidos políticos que hoje dominam o cenário político nacional.

Vamos aguardar o desenrolar dos acontecimentos e constatar a sujeira que esses políticos são capazes de levantar; quase uma vocação inata para a imundície da sonegação de informações e da deturpação dos fatos pois o que vale mesmo é ganhar as eleições. Depois, os tolos que votaram em qualquer um deles se esquecerão dessa podridão com a qual compactuaram e comemorarão a vitória; ou então lamentarão a derrota, arrependendo-se de não ter explorado melhor e mais espertamente a sordidez humana!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Reação das Elites

Desde que publiquei minha "Resposta a Jabor" venho recebendo dezenas de protestos daqueles que consideram meu texto uma "agressão a um mito de nossas elites intelectuais". Isso me envaidece pois significa que minha "Boca Ferina" está cumprindo seus objetivos de não se calar diante das ignomínias dessa sociedade hipócrita em que vivemos.

Uma das críticas em particular me agradou bastante: foi a de uma "dama da sociedade mineira", proprietária de uma cadeia de jornais e diversas grandes empresas, que se sentiu particularmente ofendida e me agrediu com expressões não apropriadas para quem é dirigente de meios de comunicação que, por definição, deveriam contemplar a diversidade de opiniões, a divergência natural que se espera das democracias.


Pois essa senhora, Laura Medioli, chamou-me de "idiota" por achar que o cineasta Arnaldo Jabor, que se tornou crítico social, jogando suas farpas em todas as direções, está acima de qualquer suspeita! Se ele pode agredir verbalmente as autoridades, os movimentos sociais e quaisquer personalidades que não estejam alinhadas com suas idéias conservadoras, por que não podemos também considerá-lo um tresloucado franco-atirador irresponsável, que se aproveita de seu acesso privilegiado à grande mídia televisiva para sustentar-se sob os holofotes do poder e da fama que não conseguiu no cinema?

Mas é assim que as "elites" interpretam a liberdade de expressão: se as manifestações estão de acordo com suas teorias elitistas e são convenientes às castas dominantes, tudo bem; se a oposição se manifesta, colocando em dúvida o direito das minorias de usufruir sozinhas das benesses do capitalismo selvagem em que vivemos, então nós é que somos radicais!

O que seria o radicalismo? Para os poderosos, radicais são os que ameaçam suas teses de dominação política pelo clientelismo e de dominação econômica pela subserviência dos trabalhadores a seus interesses pessoais. Para mim, radicalismo é a pretensão de ser  dominador e de subjugar o povo a uma condição de subsistência onde nem mesmo as carências elementares são satisfeitas. Viver de forma nababesca e aristocrática não é compatível com a miséria! Possuir bens em excesso não é compatível com a submissão de milhões de indivíduos à penúria!

Radicais são os poderosos, os aristocratas, os arrogantes que chafurdam na lama da dominação em detrimento da fome, da miséria e do sofrimento das maiorias! Portanto, senhores incomodados com minhas críticas, fiquem atentos, pois continuarei denunciando as manobras políticas, criticando os poderosos e defendendo as minorias e os oprimidos!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

De Cacarecos e Tiriricas

Lembro-me de uma eleição, talvez nos idos de 1960, quando, do zoológico de São Paulo, um rinoceronte chamado "Cacareco" conseguiu uma das maiores votações da história. Depois dele teve o Eder Jofre, o cacique Juruna, o Agnaldo Timóteo, os bispos da igreja Universal de Edir Macedo, o macaco Tião e por aí seguem as eleições mais desacreditadas do mundo capitalista. A verdade é que ninguém dá valor a seu próprio voto porque sabe que é um em 130 milhões, a maioria dos quais analfabeto!

Agora vemos a farsa dessas eleições representada por dois partidos que já foram "de esquerda" e hoje representam o que há de mais sórdido na política brasileira, por uma única razão: a ambos, PT e PSDB, se aliaram TODOS os partidos "de direita", simbolizando a falência múltipla dos órgãos dessa "nova república" dos Cacarecos! Se a Ideologia morreu, com ela também se foi a ética, a decência e a dignidade! Foram-se os dedos, ficaram os anéis, que só mudam de dedos, mas permanecem nas mãos dos corruptos e imorais representantes de nossa sociedade.

Sociedade hipócrita, que finge defender os humildes, mas vota nos magnatas aristocráticos, donos das casas de jogos e de prostituição, nos latifundiários e nos representantes das castas mais elitizadas (no mau sentido), mineradoras, ruralistas e pecuaristas, banqueiros e financistas ligados a empresas multinacionais, gigantes do setor de telecomunicações, empreiteiras, todos comprometidos com grupos bilionários, sem nenhuma obrigação de resgatar a dignidade humana e a decência na administração pública, tão surrupiada pelos políticos.

Votar para que? O que significa o meu voto diante de tanta safadeza, tanta mentira, tamanha hipocrisia, teatro de mambembes tentando nos fazer de idiotas em pronunciamentos sem nenhum compromisso ou convicção, diante das câmeras, segurando bebezinhos nos bairros pobres, acariciando mendigos, oferecendo empregos públicos, fingindo tristeza e compaixão pelos menos favorecidos, esses mesmos esquecidos durante tantos anos e tantos mandatos!

Tiririca será eleito em São Paulo, assim como foi o Cacareco no passado. O que um idiota como esse poderá fazer em uma casa legislativa? Defender a estupidez? Lutar pelos idiotas? Fazer palhaçadas para os cretinos que nos representam e roubam descaradamente? Pois Tiririca não será pior do que esses porcos imundos que percebem salários e propinas.

Você que é tolo o bastante para votar nesta eleição faça uma experiência: sorteie os números dos partidos e de seus candidatos e nem veja em quem votou. Não fará a menor diferença!

Resposta a Arnaldo Jabor


A VERDADE ESTÁ NA CARA, MAS NÃO SE IMPÕE (ARNALDO JABOR)
Quando José Serra era líder estudantil, nas décadas de 60 e 70, suas ações, assim como as de Fernando Henrique Cardoso, eram voltadas para a restauração das liberdades democráticas e a implantação de um Estado de Direito baseado na Justiça Social e na distribuição equitativa de rendas. Isso foi há mais de 40 anos! Eles se esqueceram de seus compromissos...

Quando FHC assumiu o poder, disse: “Esqueçam-se de tudo o que eu disse e escrevi até hoje!”, pois iria entregar o Brasil a multinacionais.

Quando o PSDB foi criado, pretendia se opor a tudo o que era sujo e ilícito neste país: falcatruas, alianças espúrias, favoritismos políticos... mas o tempo passa e as pessoas se esquecem de seus ideais. Hoje, assim como o PT, o PSDB se aliou a tudo o que é mais podre neste país: a escória!

José Sarney, Ronaldo Caiado, Renan Calheiros, Joaquim Roriz, Fernando Collor de Mello, José Roberto Arruda, Kátia Abreu, Aldo Rebelo, Antônio Carlos Magalhães Neto, Índio da Costa, Michel Temer, Heráclito Fortes, Abelardo Lupion, Jorginho Maluly, Bispo Gê Tenuta... quem é pior???

Pois Arnaldo Jabor tem a estúpida capacidade de chamar os Sem-Terras de bandidos! E os ruralistas não são bandidos? Sua ação corporativa representa a arrogância sem limites dos poderosos contra a maioria esmagadora da população de um país rico e de trabalhadores pobres.

É muito fácil falar asneiras sentado placidamente em um apartamento de luxo, cercado das mordomias globais, e em defesa de cartéis capitalistas! Quero ver esse mesmo Arnaldo Jabor passar fome em uma aldeia indígena ou quilombola, cercado de “coronéis do sertão” que impedem seu acesso às vias de transporte e às fontes de água, como ocorre em todo o sertão baiano, onde a população, milhões de famílias, lutam pela subsistência, humilhados a aceitar um pouco de água distribuída por carros-pipa de empresas controladas por políticos corruptos de Brasília!

Não, Arnaldo Jabor e nenhum dos magnatas desse país não aceitam a vitória quase certa de Dilma Rousseff para a Presidência da República, mesmo que ela seja tão ruim quanto José Serra, pois Lula, apesar de muitos erros, conseguiu diminuir a miséria e a fome neste país como nenhum outro presidente antes havia tentado. Pode-se criticar o paternalismo estatal que levou a essa melhoria de qualidade de vida; pode-se criticar sua opção pelo desenvolvimentismo, ao invés de trabalhar por uma sociedade menos consumista e com menos desperdício.

Mas o partido de Serra e de FHC é o maior defensor do Capitalismo Globalizado, do Neo-Liberalismo! Serra e seus aliados nunca, jamais, em tempo algum se preocuparam com a opção pelos pobres! Sim, os Sem-Terras cometem crimes, assim como os Ruralistas. Mas o alcance desses crimes não chega aos pés das perversidades dos conflitos fundiários do sertão nordestino; não podem se comparar aos crimes contra a Natureza, dos Ruralistas: milhões de hectares queimados, bilhões de árvores derrubadas em áreas de proteção permanente, para serem ocupadas com a criação de gado e as plantações de soja!

Brasileiro come soja? Sim, mas a maior parte da soja produzida no Brasil, assim como a cana-de-açúcar, o carvão vegetal, o gado são para exportação e enriquecimento de uma população insignificante de menos de 2% (dois por cento!) dos habitantes desse país! Mais de 50% da população brasileira é pobre e mais de 10% deles está na miséria, passa fome, se alimenta mal e tem seu destino determinado pela pobreza absoluta, carente dos nutrientes necessários para concorrer com os filhotes de magnatas que representam menos de 1% dessa imensa população, ferquentam escolas no exterior e vão todos os anos à Disneylândia! Por que esses privilegiados são diferentes?

Porque nossa opção pela riqueza de poucos é herança do Império, do Colonialismo, das Sesmarias, da Idade Média, da Nobreza corrupta. FHC se via como o Déspota Esclarecido; mas ele teve acesso ao conhecimento graças a sua origem aristocrática. Os Sem-Terras, os “bandidos” do Jabor, vivem na miséria, passam anos acampados em barracas de lona, sem conforto, sem água encanada, sem esgotos, sem escolas, sem luz elétrica, humilhados e rechaçados pelos fazendeiros... o que esperar dessa população de marginalizados?

Marginais são os ricos que não têm consciência social, pouco se importam com a miséria e nunca passaram por dificuldades financeiras!

Nossas elites intelectuais se esqueceram dos pobres e se aliaram aos poderosos, em benefício de si próprios, em detrimento da população abandonada das pequenas cidades, dos povoados, da aldeias e do sertão.

É fácil fazer uma obra faraônica e deixar seu nome na História! Difícil é ouvir o povo, escutar suas demandas e necessidades essenciais, fazer obras que minimizem seu sofrimento e sua dor! Para isso, Jabor, Serra e FHC não têm estômago, porque olhar a pobreza e ter compaixão dela é para poucos, para os eleitos, para os verdadeiramente BONS e HONESTOS!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"A Hora da Virada II"

Bastou a equipe de marqueteiros do Serra perceber o grande vexame das pesquisas eleitorais para começar uma fulminante campanha de injúria e difamação contra Dilma Rousseff, associando-a a políticos corruptos como Renan Calheiros, José Sarney e Fernando Collor de Mello, hoje aliados de Lula pelo PMDB, além de José Dirceu, do PT. Por que será que todas as campanhas eleitorais no Brasil seguem sempre o mesmo curso? Começam decentemente para descambar, ao menor sinal de fracasso, para a apelação e a covardia!

O pior é que Serra não pode se fazer de inocente, tendo como aliado o partido mais corrupto do país, o Democratas, onde se alojam políticos como aqueles que levaram a capital federal à maior crise de sua história: José Roberto Arruda, Joaquim Roriz e Paulo Otávio, excluídos do processo eleitoral depois de um escândalo sem precedentes na administração do Distrito Federal. Também estão no Democratas o espólio político de Antônio Carlos Magalhães, ACM Neto, e os deputados ruralistas mais raivosos, capazes de qualquer ato ilícito para defender seus interesses no agronegócio, como Ronaldo Caiado, Roberto Magalhães e Onyx Lorenzoni.

A verdade é que, no Brasil, alianças políticas levam, necessariamente, a caminhos suspeitos, principalmente quando elas ocorrem às vésperas das eleições: a contrapartida do apoio político é sempre a acomodação de figuras notórias pela sua incompetência em cargos de alta relevância. Exemplo disso é a colocação de Edson Lobão no cargo de ministro das Minas e Energia, posto dos mais cobiçados no primeiro escalão do governo Lula. Outra figura notória entre os corruptos foi o ex-ministro da Integração Nacional e ex-presidente do Banco do Estado da Bahia, Geddel Vieira Lima, que já foi acusado de desvio de recursos públicos para supostos esquemas de corrupção, e agora é candidato ao governo da Bahia.

Voltando às eleições, é neste momento de crise que se conhecem os políticos e sua índole. José Serra talvez seja o menos responsável por essa baixaria, uma vez que sua campanha é feita pelos seus marqueteiros, talvez até à sua revelia. No entanto, omissão é tão grave quanto a ação desleal; Serra está se omitindo e, tacitamente, concordando com os rumos que sua campanha está tomando; em vez de mudar seu estilo e apresentar propostas consistentes, prefere acatar as ordens de seus lacaios e acreditar que, denegrindo sua adversária, vencerá.

Os próximos passos dependerão dos resultados dessa ação: se a queda nas pesquisas se estancar, eles continuarão batendo em Dilma e desenterrando todo tipo de factóide que possa reverter os números do desastre. O PSDB está desesperado e não consegue suportar mais quatro anos de "quarentena" longe do poder. Terão São Paulo e Minas Gerais, mas não terão o Palácio do Planalto! Por isso apelam para qualquer tentativa de salvar o barco do naufrágio.

Acusações levianas são comuns em situações como essa que presenciamos agora; e as consequências sempre nos conduzem à ingovernabilidade, não importa quem vença o pleito. Desde a época de Fernando Henrique Cardoso tenta-se realizar as reformas política, tributária e previdenciária, sem sucesso. Oposição e situação são igualmente culpados por essa inoperância das casas legislativas, que perdem mais tempo em discussões inócuas e troca de acusações intermináveis e estúpidas do que em projetos de interesse da Nação.

Assim, a "hora da virada" do PSDB se apresenta como um episódio lamentável e covarde contra o PT e seus aliados. Querem "ganhar no grito" já que sua argumentação não convenceu ninguém. Se Dilma partir para o confronto, seus algozes terão ganho a batalha. Caso contrário, veremos como se comporta o eleitorado diante dessa farsa que se repete há décadas. De qualquer modo, quem perde é o Brasil, que presencia esse "espetáculo" deprimente a cada eleição.