quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

MERGULHO RECREACIONAL & MEIO AMBIENTE

Há muito tempo quero escrever sobre essa atividade recreacional e seu papel na preservação do Ambiente Subaquático. Sendo um meio exótico para o ser humano, traz consigo reflexões sobre como tratamos a maior superfície de nosso planeta. A água do mar representa mais de 90% de toda água da Terra. Porém, não pode ser consumida por nós, pelo seu alto teor de sal. Se o fosse, jamais teríamos problemas de escassez desse precioso líquido, que assegura nossa existência. Apesar de já existirem tecnologias para dessalinização da água do mar, seu custo ainda é proibitivo para uma produção de água potável em grande escala para abastecer toda população da Terra.

Mergulho na Laje de Santos, SP. Naufrágio do Moréia


A atividade de mergulho é extremamente prazerosa, embora exija muito treinamento e um elevado investimento em artefatos necessários para nos garantir a vida submersa. Esses artefatos são conhecidos pela sigla SCUBA, “Self Contained Underwater Breathing Apparatus”, ou, em uma tradução livre, adaptada para o português, “Equipamento Individual para Respiração sob a Água”. O explorador Jacques Cousteau, em suas famosas aventuras, foi um dos principais idealizadores desse equipamento e contribuiu muito para seu desenvolvimento.

O simples fato de podermos permanecer submersos por 50 minutos ou mais já se torna um privilégio para aqueles que têm a oportunidade de descobrir esse fascinante ecossistema dos oceanos. Embora os investimentos em roupas especiais, equipamentos e treinamento sejam elevados, o prazer de conviver com as criaturas marinhas compensa qualquer sacrifício.

Aprender a mergulhar demanda apenas algumas aulas sobre as técnicas essenciais de sobrevivência sob as águas. Porém, existem várias especializações de mergulho recreacional:

  • Mergulho Noturno
  • Mergulho em Naufrágios (“Wreck Diving”)
  • Mergulho em Correnteza
  • Mergulho em Caverna (“Intro to Cave”)
  • Navegação com Bússola em Mergulho
  • Mergulho de Busca e Recuperação
  • Mergulho de Salvamento (“Rescue Diving”)
  • Uso de Misturas de Gases (Nitrox, Trimix)
  • Mergulho em Altitude (acima do nível do mar)
  • Uso de Roupa Seca (em águas geladas)
  • Mergulho Profundo (“Deep Diving”)
  • "Dive Master" (Mergulhador Profissional)
Essas modalidades são destinadas àqueles que já fizeram o treinamento para mergulho avançado. O mergulho básico só permite ir a profundidades até 18 metros, enquanto que o mergulhador avançado pode chegar até a 40 metros de profundidade. Abaixo disso, considera-se mergulho técnico, e são exigidas técnicas de descompressão antes de se voltar à superfície. Para se tornar um Dive Master são necessárias cinco especializações e a formação de Rescue Diver, além de 100 mergulhos logados (comprovados).

Mas o que tudo isso tem a ver com o Meio Ambiente e a preservação da Natureza? Ocorre que a proficiência em mergulho é que dará autonomia e segurança para que o mergulhador possa conhecer, apreciar, e, por conseguinte, proteger o ecossistema submarino. Só defendemos aquilo que conhecemos; cada nova modalidade de mergulho abre novas janelas para a exploração desse extraordinário ambiente aquático, oculto para a maioria dos seres humanos.

A intimidade com esse novo ambiente só vem com o tempo, na medida em que dominamos as técnicas de mergulho e nos sentimos seguros com nosso equipamento. Passamos, então, a perceber a exuberante vida ao nosso redor: riquíssimas formações coralíneas, peixes das mais diversas espécies, pequenas criaturas ocultas na vegetação marinha, navios naufragados, criando ambientes para que a vida se multiplique. Cada paisagem nos mostra novas possibilidades para a vida se manifestar. Diferente dos aquários, os oceanos se transformam a cada novo mergulho: as condições de visibilidade, temperatura da água, a presença de grandes animais, como tubarões, arraias, meros, e nossas próprias condições para o mergulho. 

Os oceanos, apesar de sua imensidão, constituem ambientes extremamente sensíveis às mudanças climáticas, muito mais sensíveis do que os ambientes terrestres. Apenas para exemplificar, a variação de apenas 3° Celsius na temperatura média dos oceanos é suficiente para extinguir a vida nos recifes de coral e, por conseguinte, de toda fauna marinha. Estima-se que, em 15 anos, mais de 90% dos corais estarão ameaçados, e até 2050 toda vida dos oceanos terá desaparecido, caso o aquecimento global continue a crescer nos moldes atuais.

Um dos ambientes mais críticos e sensíveis são os mangues, que se encontram na foz dos rios, em sua vegetação híbrida e de transição entre a água salgada do mar e a água doce dos rios. Mangues são os berçários naturais para esse ambiente único. A maior parte dos manguezais já foi destruída pela ação humana, seja para a construção de portos, seja pela invasão imobiliária ou mesmo pela exploração de alguma atividade econômica que demande extensas áreas costeiras, como criação de crustáceos, exploração de petróleo ou a construção de balneários.


Mergulho com a tartaruga na Laje de Santos, SP.


Todos os ecossistemas da Terra estão interligados, e as correntes marítimas têm um papel determinante no Clima de nosso planeta. Essas correntes percorrem todos os mares em um movimento contínuo, trocando calor entre as áreas tropicais e os polos terrestres. Esse ciclo termomecânico é o responsável pela sobrevivência das minúsculas criaturas que povoam os oceanos, e que constituem a base da pirâmide alimentar: o plâncton. Esses pequenos seres são o alimento de grandes espécies, como as baleias jubarte, o tubarão baleia e as raias manta. O fenômeno do crescimento dos corais e da formação do plâncton regula a vida.

Estudos científicos desenvolvidos por projetos sobre o aquecimento global confirmam que grande parte dessa vida submersa já desapareceu, e o restante está ameaçado. Se o Polo Norte se descongelar, o que provavelmente acontecerá nos próximos vinte anos, as correntes marítimas perderão sua mobilidade, provocando alterações profundas no clima da Terra.

A redução das florestas também terá impactos profundos no clima, pelo desaparecimento dos rios de superfície e subterrâneos. Isso se dá pelo simples fato de que, sem a cobertura vegetal, a camada de “solo arável”, rico em matéria orgânica, perde a umidade e se torna impermeável, transformando enormes extensões de terreno em savanas, e encadeando um processo de desertificação em grande escala. A Floresta Amazônica é responsável pelo equilíbrio hídrico da América do Sul, em um ciclo complexo que se inicia na evaporação do Oceano Atlântico e segue nas chuvas que abastecem a floresta. Em seguida, a evapotranspiração da floresta inicia novo ciclo de chuvas e prossegue assim até formar as geleiras da Cordilheira dos Andes. O degelo das montanhas forma os rios da Amazônia, que completam o ciclo das águas. O Pantanal e o Cerrado são predominantemente abastecidos por esses rios e pelas correntes subterrâneas formadas pela água que se infiltra no terreno.

Por fim, as águas dos rios voltam ao mar, assegurando o equilíbrio dos nutrientes e da salinidade dos oceanos. O desequilíbrio desse complexo de ecossistemas e do ciclo das águas fará com que a Terra, nessa parcela de nosso continente, perca a capacidade de conservar a vida. Milhares de espécies desaparecerão, e o solo se tornará impróprio para a agricultura. Milhões de seres humanos passarão fome e sede, pela escassez de alimentos e pela falta de fontes de água potável. O derretimento das geleiras, não apenas do Polo Norte, mas de todas as geleiras da Terra, provocará uma elevação significativa do nível dos oceanos, dizimando as cidades litorâneas, que representam mais da metade da população de nosso planeta.

Compreender esses processos ecológicos é fundamental para que possamos defender o Meio Ambiente, modificando a maneira como utilizamos os recursos naturais finitos de que dispomos. Reduzir o consumismo e eliminar os combustíveis não renováveis é nossa missão urgente para que possamos equilibrar as forças monumentais que mantêm a vida na Terra. Os oceanos, como já dissemos, são parte integrante desse complexo de recursos interligados. Foi nas águas salgadas dos mares que a vida surgiu na face da Terra e se proliferou por toda parte.

Conhecer os oceanos e entender esses processos é fundamental para que possamos preservar o “nosso lar”. Ser ambientalista não é defender o Meio Ambiente apenas por admiração às belezas nele encontradas, mas sim compreender que sem ele não poderemos sobreviver. Uma das formas de se compreender um ecossistema é interagir com ele, e o mergulho recreacional exerce um papel importantíssimo nesse processo educativo. Os mergulhadores aprendem intuitivamente que tudo lá embaixo está interligado pelas infinitas cadeias alimentares.

Hoje cometemos crimes ambientais incompatíveis com a preservação da vida na Terra: devastamos as florestas, poluímos os rios e praticamos a pesca predatória em larga escala, sem nos preocuparmos com o amanhã. É certo que não estaremos aqui para sermos punidos pelos nossos crimes, mas nossos descendentes sim, e eles não terão a oportunidade de aprender a conservar a Natureza. Eles serão as vítimas de nossas atrocidades, cada vez mais aceleradas, cada vez mais avassaladoras. Fechamos todas as rotas de fuga e acreditamos que tudo não passa de alarde de ambientalistas, “esses lunáticos que pregam o apocalipse e nos impedem de enriquecer”! Sim, é verdade, somos sonhadores e lutamos por uma causa, mas não sabemos o que está por vir; acreditamos em um milagre: a conscientização dos homens a tempo de evitar a nossa extinção como espécie “mais desenvolvida” da Terra!

Não há mais tempo para reverter esse processo. Ativamos a bomba e não sabemos como interromper esse processo fatal. Perdemos a noção do perigo e vivemos alucinados com as nossas próprias façanhas. Vivemos em um mundo virtual, em que tudo é possível, e construímos a nossa própria versão do Universo. Somos nosso próprio Deus e não percebemos a nossa insignificância diante da Eternidade! Afinal, em um tempo que se mede em bilhões de anos, só aparecemos no último segundo, nos míseros instantes finais da vida neste planeta. Mas o Universo não se restringe a esses pequeninos e arrogantes seres da Terra, e depois de nossa extinção, milhões de outras criaturas passarão por seus próprios processos evolutivos... e alguma profecia, finalmente, se comprovará, apesar de inútil, tardia e irrelevante...

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