quarta-feira, 10 de abril de 2013

As contradições contemporâneas

Ontem assisti a uma entrevista, no programa "Entre Aspas", da Globonews, com um diretor do Greenpeace, Sérgio Leitão, e um dirigente de associação de indústrias químicas com produtos destinados à agricultura, Fernando Figueiredo. Chamou-me a atenção a falta de objetividade de ambos no trato das questões relativas ao Meio Ambiente, além das falácias, ditas como verdades incontestáveis pelo representante do agronegócio.

Os problemas ambientais não podem ser colocados, todos, na mesma dimensão de importância quanto aos impactos ambientais. A repórter, Mônica Waldvogel, desinformada, também contribuiu para a fragilidade dos argumentos apresentados, uma vez que demonstrou total desconhecimento dos mais graves problemas relativos ao desmatamento ilegal e aceito, por omissão, pelos órgãos governamentais responsáveis pelo combate a esses crimes ambientais.

São muitos os problemas causados pela presença humana na Terra, mas não podemos comparar a destruição da Amazônia com o lixo urbano, por exemplo. A Floresta Amazônica é a maior floresta equatorial do mundo, representando a maior concentração de espécies animais e vegetais da Terra, e tendo um papel determinante no Clima da América do Sul. Sua perda representará um desequilíbrio ecológico irrecuperável, significando, inclusive, a inviabilização da agricultura no Brasil. E os estúpidos ruralistas sequer percebem essa verdade óbvia, e continuam, céleres e afoitos, a destruir nosso Meio Ambiente!

No que se refere aos impactos do uso de agrotóxicos pelo agronegócio, a situação é, também, complexa, pois as agroindústrias recusam o fato comprovado e evidente da toxidade de seus produtos para o Meio Ambiente, bem como o exagero de seu uso pelas grandes propriedades. O agrotóxico contamina os alimentos, o solo, o subsolo, os rios e o lençol freático, para onde são levados pela água das chuvas.

Esse tipo de discussão na mídia televisiva tem um resultado perverso: não informa honestamente a população e, além disso, confunde a opinião pública pela oposição sistemática de opiniões nitidamente antagônicas e mal elaboradas. O representante do agronegócio, sr. Fernando Figueiredo, disse categoricamente que "o Brasil possui a agroindústria mais avançada do mundo, mais do que os países europeus, e de mesmo nível tecnológico praticado pelos Estados Unidos"! Pode ser verdade, do ponto de vista tecnológico, mas trata-se de uma descarada mentira, quando falamos sobre o Meio Ambiente. Todos sabem, e é facilmente comprovado, até por um leigo, bastando para isso que acesse o Google e acompanhe a evolução do desmatamento nos últimos 50 anos, que o Estado de Mato Grosso provocou o maior desastre ambiental na Amazônia, praticamente dizimando a Floresta em seu estado, sob o comando do maior plantador de soja do país, Blairo Maggi, responsável por 5% da produção nacional. Na safra de 2005/2006 perdeu o título para seu primo Eraí Maggi Scheffer, presidente do Grupo Bom Futuro.

Hoje só restam manchas da Floresta Amazônica no estado de Mato Grosso, geralmente em áreas de proteção, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Nunca se respeitou o Código Florestal, e as Reservas Legais foram simplesmente ignoradas por todos os latifundiários agropecuaristas! Grande parte das áreas hoje utilizadas pelo agronegócio foram surrupiadas de terras públicas, de onde foi destruída a Floresta e, em seu lugar, foi plantada soja e criado gado. Nunca neste país um magnata do agronegócio pagou uma multa sequer pelos crimes ambientais cometidos!


Há três anos o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo.
Um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado
pelos agrotóxicos, segundo alerta feito pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva
Infelizmente, o diretor do Greenpeace, Sérgio Leitão, não teve a inteligência e a argumentação necessários para se contrapor às mentiras proferidas por Fernando Figueiredo, em defesa de seus patrões. Não faz sentido se discutir problemas ambientais de forma abrangente, colocando questões de tratamento de lixo e esgotos, típicas da "civilização urbana", junto com crimes ambientais perpetrados por multinacionais dos agrotóxicos, como Monsanto, Bayer, Syngenta, Basf, Dow, Dupont, que, juntas, detêm 68% de um mercado que movimenta cerca de US$ 48 bilhões por ano no mundo. O Brasil representa hoje aproximadamente 16% do consumo de agrotóxicos no planeta. O crescimento do mercado brasileiro foi de 176% entre os anos de 2000 e 2008 --3,9 vezes acima da média mundial, que foi de 45,4% no mesmo período.

O fato é que a população continua desinformada e desinteressada pelas questões ambientais, e o governo Dilma, assim como ocorreu com os governos Lula e FHC, não tem interesse em promover ações efetivas de proteção ambiental e de combate sistemático aos crimes ambientais. Da mesma forma, o Judiciário, não sendo acionado, se omite desses crimes, assim como o Supremo Tribunal Federal. Cabe ao Ministério Público provocar essa questão, exigindo das autoridades o compromisso com o Meio Ambiente, nossa maior riqueza, e responsabilidade de fazer cumprir as leis. Já não basta o estrago provocado pela famigerada Bancada Ruralista, ao descaracterizar nosso Código Florestal e descriminalizar parte expressiva dos estragos provocados pelos latifundiários nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica!

Uma questão fundamental é o papel da imprensa falada, impressa, televisiva e virtual na conscientização da população, para que esta não seja enganada de forma tão descarada por pessoas que defendem interesses multinacionais (e não os interesses do Brasil) nas questões ambientais. É preciso formar, capacitar e conscientizar repórteres que sejam competentes para discutir esses aspectos e sejam capazes de conduzir um debate sem manipulações oportunistas como esta que presenciei.

Já não temos mais tempo para perder com mentiras. É preciso mudar a condução das políticas públicas voltadas à agropecuária, não para servir a interesses internacionais, mas para servir à nossa Nação. O Brasil é um país que optou pelo setor primário em suas estratégias econômicas. Isso já é um erro primário, considerando-se o baixo valor de commodities em comparação com as indústrias de alta tecnologia que dominam o mundo contemporâneo. Mas, dentro desta opção, decidir pela exaustão de nossos recursos naturais, em favor de resultados de curto prazo, e condenar nosso país à servidão no longo prazo, é de uma estupidez sem propósito! Exauridos esses recursos (solo, hidrologia, subsolo, vegetação), o que nos restará é um país de desertos e uma população sem destino e sem futuro. Todos os nossos descendentes pagarão essa conta, e a culpa será sua, dos governos militares, de FHC, de LULA e de DILMA ROUSSEFF.

Um comentário:

João Carlos Figueiredo disse...

“Enquanto as vendas mundiais, entre 2000 e 2010, crescem em torno de 90%, as vendas brasileiras crescem 190%. Em termos de importações mundiais, o Brasil também está entre os seis maiores importadores mundiais de agrotóxicos e, nos anos 2000, o crescimento brasileiro foi o maior de todos”, informa o pesquisador Victor Pelaez Alvarez.

Considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o mercado brasileiro corresponde “a quase 1/5 (um quinto) do mercado mundial no volume de vendas” de herbicidas, algo em torno de 19% do mercado internacional. De acordo com Victor Pelaez Alvarez, “entre 2001 e 2010, a produção agrícola das oito principais commodities consumidoras de agrotóxicos aumentou 97%, a área plantada aumentou 30% e a venda de agrotóxicos aumentou 200%”. Esses dados, ressalta, demonstram a intensificação do uso do produto nas lavouras brasileiras, que “estão usando mais agrotóxicos por hectare”.