segunda-feira, 9 de abril de 2012

Novamente, BELO MONTE!


Querem enfiar a usina hidrelétrica goela abaixo

08.04.2012 (FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE)

Criança indígena da aldeia Terrã Wangã brinca na canoa. A água do Xingu serve para navegação, pesca e diversão
FOTOS: RODRIGO CARVALHO
A obra da hidrelétrica, que afetará diretamente duas terras indígenas, provocou a divisão da aldeia Paquiçamba
Altamira (PA) Um cacique ameaçado, uma aldeia dividida. Dezenas de índios com dúvidas sobre o futuro do seu principal recurso: a água. Este foi o retrato encontrado pela reportagem nas terras indígenas da Volta Grande do Xingu (VGX), região diretamente afetada pela construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte. Além dos Jurunas e Araras, o projeto trará consequências indiretas para os índios Assurini do Xingu, os Araweté, os Parakanã, os Kararaô, os Xikrin do Bacajá, os Arara do Km 17, os Xipaia, os Kuruaia, e outros mil indígenas que vivem na cidade de Altamira.

Pintadas para a guerra, cerca de 200 lideranças indígenas participaram de uma reunião, em Altamira, no dia 25 de janeiro, com o presidente da Funai, Márcio Meira, o representante da Casa Civil, Johannes Eck, e o diretor da Norte Energia, Antônio Coimbra. "A construção da ensecadeira está afetando a água nas aldeias mais próximas", denunciou o cacique José Carlos Arara. Ameaçado por garimpeiros da região, a primeira liderança da tribo da VGX está sob proteção da Força Nacional. Num clima tenso, a reunião durou mais de seis horas e os índios exigiram a presença da imprensa, além de soluções imediatas ao problema do abastecimento. Querem poços artesianos. Saíram com a promessa de análise da água.

"Querem enfiar a usina hidrelétrica goela abaixo de índio", reclamou José Carlos na reunião, cujo objetivo era discutir o Plano Básico Ambiental (PBA), que definirá as ações compensatórias de longo prazo para as terras indígenas.

Josinei Arara, 24 anos, segunda liderança da aldeia Terrã-Wangã - uma das áreas indígenas diretamente afetadas por Belo Monte, juntamente com as tribos das terras Paquiçamba -, é a voz firme dos jovens índios contra o projeto da usina que vai mudar o curso do Xingu. Neto do antigo cacique, Leôncio Arara, o líder mais novo da etnia expressa o quanto a sua gente está descontente com o tratamento dispensado a eles pelos políticos do Palácio do Planalto e Esplanada dos Ministérios. "Cansei de ir a Brasília, falar com o presidente da Funai, os ministros (Minas e Energia e Meio Ambiente). Eles não têm coragem de olhar a gente nos olhos. A presidente Dilma nunca nem foi nos encontrar".

Insatisfação
Josinei conta que esteve em Brasília antes de as obras de Belo Monte começarem. Saiu do centro do poder insatisfeito, e hoje, diante dos possíveis impactos da construção do empreendimento, ele não consegue dar respostas ao seu povo sobre o futuro da aldeia. No projeto da usina, as terras acima do barramento não serão inundadas. Mas, com a vazão de água reduzida, segundo ambientalistas, os indígenas e ribeirinhos que habitam as ilhas da VGX terão a navegabilidade, a pesca e o abastecimento hídrico comprometidos.

"É a água do Xingu que a gente usa para beber, tomar banho, lavar roupa, pescar, fazer a farinha de mandioca e brincar. A gente está indignado com esta situação. Perto de onde a Norte Energia está fazendo o primeiro barramento provisório, a água está igual a café com leite: marrom. Daqui a pouco, ela chega aqui na aldeia e começa a atingir os peixes, as crianças. Como é que a gente vai tirar água para amolecer a mandioca?" .

Na aldeia Paquiçamba, mais próxima do sítio Pimental - onde está sendo feita a ensecadeira -, uma mãe índia relata que um de seus oito filhos já adoeceu por conta da água. "Deu dor de barriga. Deu febre. Fiz um chá caseiro e dei remédio do posto. Foi a água, que tava só o barro", diz Maria Vieira Juruna. O povo juruna se dividiu porque a parte jovem da tribo é contra a usina.

Grávida de sete meses do nono filho, Maria perdeu a esperança em um possível fim das obras de Belo Monte.

"Essa usina não tem mais jeito não. Por nós, não tinha obra, mas o governo quer. E que força nós tem contra o governo?". Mas a resignação dá lugar à raiva e a índia dispara que o sentimento na tribo agora é brigar para que, pelo menos, as condicionantes saiam do papel.

SAMIRA DE CASTRO - REPÓRTER

PROTAGONISTA
Lideranças apontam contradiçõesDéborah Freire, advogada paulistana, deixou a Europa para atuar como voluntária no Movimento Xingu Vivo para Sempre. Passou dias de viagem em um ônibus pela Transamazônica até chegar em Altamira. Para ela, Belo Monte é uma questão nacional. "O comodismo é que mata", diz

Marcelo Salazar, coordenador adjunto do Programa Xingu do Instituto Socioambiental (ISA) diz que não se trata de ser contra ou a favor da usina. "É preciso discutir a política energética brasileira. Estes empreendimentos estão vindo alimentar com energia as indústrias eletrointensivas"

Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que reúne 250 organizações, é enfática: "Belo Monte é resquício do período ditatorial que está sendo executada por um governo dito democrático. Se cair uma gota de sangue aqui, a culpa é da presidente Dilma Rousseff"

Nota: Observem as "Vantagens" descritas ao lado: "A água é um recurso renovável e não esgota"! Tremenda mentira! A água POTÁVEL representa menos de 2,5% de toda água do planeta! 80% da água potável se encontra nas geleiras dos polos e das montanhas, e não podem ser aproveitadas para consumo humano. Dos 7 bilhões de seres humanos que vivem na Terra, cerca de um bilhão passa fome e sede! Estima-se que chegarão a dois bilhões de pessoas a viver na extrema miséria, a morrer de fome e de sede até o final desta década! portanto, a água não é um recurso renovável, ao menos para consumo humano! Outra questão: as hidrelétricas são barreiras artificiais que impactam fortemente o Meio Ambiente; as cheias dos rios são bênçãos da Natureza, sendo responsáveis durante milênios pela sobrevivência de muitos povos ribeirinhos! E o pior das "vantagens" descritas: TURISMO em terras indígenas??? Quem deseja isso? Certamente não são as populações indígenas, que viveram durante séculos um período de paz, tranquilidade e fartura! Turismo levará doenças, prostituição, vícios e drogas para um povo que não precisa de nossa "civilização" para sobreviver e ser feliz!
João Carlos Figueiredo

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