O presidente Lula deu sua mais arriscada cartada política internacional ao obter o apoio do Irã a um acordo político relativo ao enriquecimento do urânio, em níveis críticos para a possibilidade de desenvolvimento de um programa nuclear para fins militares por aquele país. As conseqüências para o Brasil ainda são imcertas; caso a Agência Internacional de Energia Nuclear aceite o acordo, será um desastre para o presidente Obama e uma vitória para o presidente Lula. Mesmo assim, a situação de Lula se complicará nas relações com a ONU e os países desenvolvidos, que não aceitarão de bom grado essa derrota política. Caso o acordo seja rejeitado pela Agência, abre-se a possibilidade de aprovação de sanções econômicas rigorosas, o conflito se agravará e Lula será ridicularizado publicamente por sua ingenuidade política.
No entanto, o que não se questiona é a desigualdade dessas decisões da ONU; quando o Paquistão e a Índia tiveram acesso aos armamentos nucleares, e depois a Coréia do Norte se impôs com seu programa nuclear, as reações mundiais não foram tão enérgicas como ocorre agora com o Irã. O mesmo aconteceu quando Israel desenvolveu sua própria bomba atômica e entrou para o seleto clube de países detentores da tecnologia de produção de ogivas nucleares sob o discreto apoio norte-americano. O Brasil, signatário do acordo de não-proliferação de armas nucleares nunca questionou a honestidade de propósitos da ONU, favorecendo uns e deixando a maior parte da humanidade à mercê das políticas desses países armados.
Se houvesse intenção efetiva de um desarmamento internacional, Estados Unidos e Rússia já teriam chegado a um acordo de destruição de seus próprios e gigantescos arsenais nucleares. No entanto, a Guerra Fria terminou há décadas e muito pouco se fez nesse sentido, pois não há um interesse real em buscar a paz e o entendimento entre as nações. Os poderosos continuam com sua indisfarçável intenção de subjugar o resto do mundo a seus interesses econômicos e políticos de dominação e exploração dos países pobres.
É pouco provável que Lula consiga sua tão almejada cadeira no Conselho de Segurança da ONU depois dessa atrevida iniciativa diplomática no Oriente Médio; mas o Brasil conquistou, de fato, o respeito dos países árabes à sua causa e poderá, a médio prazo, obter vantagens comerciais dessa decisão. Infelizmente, o mundo é movido pelos interesses comerciais, e o Brasil não é exceção. Enquanto as questões fundamentais da eliminação da pobreza e da fome no mundo são deixadas de lado, esses aspectos periféricos permanecem prevalecendo na diplomacia internacional, como cortina de fumaça a ocultar os verdadeiros propósitos dos países mais poderosos de nosso planeta.
Permaneceremos, assim, convivendo com a triste realidade de que, a cada dia, 30.000 crianças morrem de fome e miséria nos países mais pobres, enquanto os líderem mundiais debatem o uso de armamentos nucleares...
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