Já esperávamos ansiosos, há quase duas horas, nos corredores e nas rodas de discussão, quando Marina Silva se desvencilhou dos repórteres e dos membros da executiva do partido e seguiu para o Salão Nobre da Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto. Aquela delicada criatura quase desaparecia na multidão, rodeada de políticos, jornalistas, fotógrafos, admiradores e insistentes pedidos de autógrafos.
Formada a mesa, seguiram-se os discursos de Fábio Feldmann e Ricardo Young, respectivamente candidatos ao Governo e Senador da República por São Paulo. Finalmente, aquela que todos esperávamos: Marina Silva! No começo, as citações de praxe, mencionando as presenças de políticos... e então, eis que ela aparece em toda a sua aura de sabedoria, delicadeza, generosidade, elegância, humildade e inteligência! Marina encantou a todos discursando durante quase uma hora, falando de improviso, sem consultar uma anotação sequer!
Suas palavras foram entremeadas de aplausos, não aqueles ensaiados pela claque política, mas aplausos verdadeiros, entusiásticos, emocionados, encantados com a sua coerência e fluidez. Não falou apenas da preservação ambiental, mas discorreu sobre as possibilidades de um novo governo que se oferece como alternativa ao plebiscito que PT e PSDB tentam impor ao eleitorado. Havia em suas palavras uma certeza de que a disputa apenas começara, que os números ainda não conseguem traduzir em estatísticas confiáveis.
Por detrás de seus 12% do eleitorado existe uma imensa possibilidade de mudança de opiniões! Afinal, poucos a conhecem, e talvez esses números apenas indiquem o percentual dos brasileiros que estão efetivamente comprometidos em reverter o quadro de devastação ambiental deixado pelos antecessores: políticos, industriais, comerciantes, agricultores e pecuaristas que praticaram a política da terra arrasada, acreditando que os recursos naturais são ilimitados e renováveis, mesmo diante de tamanha destruição.
Com o acirramento das campanhas, com os debates públicos ao vivo, com a presença marcante dessa mulher fantástica, esses números certamente crescerão, assim como aconteceu com Lula depois de tantas derrotas eleitorais. Um povo que elegeu um sociólogo e um operário poderá, certamente, quebrar outro paradigma e eleger uma mulher tipicamente brasileira, misto de negra, indígena e branca, nascida e criada na pobreza e nos confins da maior floresta do mundo, educada na luta contra o preconceito racial e social, e admirada mundialmente como uma das mais importantes personalidades que poderão influenciar favoravelmente nosso planeta na luta pela preservação do meio ambiente e por um desenvolvimento sustentável. Se o mundo aos poucos desperta para a gravidade da situação, o Brasil também haverá de fazê-lo, sob pena de perder, uma vez mais, as oportunidades que se lhe oferecem de liderança global.
Disse Marina, com propriedade e justiça, que as conquistas de seus antecessores credenciam-na a partir para uma nova etapa no processo evolutivo de nosso povo: conduzir nosso país na liderança das ações solidárias, com responsabilidade social e compromisso ambiental, assegurando às futuras gerações as mesmas possibilidades que hoje temos de acesso aos recursos naturais renováveis. Ainda é possível reverter as terríveis ações que devastaram nossos ecossistemas: Cerrado, Matas Tropicais, Florestas Equatoriais, Recursos Hídricos de superfície e do subsolo, Plataforma Marítima, Cavernas, Montanhas, Caatinga... os mais ricos e diversificados ambientes naturais do mundo!
Com todo respeito à história de seus adversários políticos, Marina Silva se mostra como a personalidade mais preparada para conduzir esse novo processo, dando ênfase às prioridades sociais e às conquistas já consolidadas, mas com uma nova visão dos compromissos de nossa Nação com o futuro de sua gente. Se foram importantes e vitais o controle da economia e a distribuição, ainda que modesta, da renda, agora é o momento do gigantesco salto qualitativo do domínio dos espaços naturais preservados, sem perda da capacidade produtiva, apoiados no desenvolvimento tecnológico e na redução dos desperdícios.
Mesmo falando para uma platéia de correligionários políticos, Marina Silva manteve a sua elegância e serenidade, evitando qualquer crítica aos erros de seus antecessores. Sabemos que foram muitos esses erros, assim como muitos também foram os seus acertos; porém, um dos grandes méritos da democracia é a alternância ideológica no poder. Se os intelectuais tiveram seus oito anos no poder com Fernando Henrique, e a classe trabalhadora teve também seus oito anos no poder com Luiz Inácio, agora é a vez dos ambientalistas, daqueles que defendem um desenvolvimento sustentável na boa acepção dessa expressão, tão desgastada pela mídia e pelos interesses dos grandes produtores agro-industriais.
Saímos da palestra com a certeza de que Marina Silva não é apenas admirada internacionalmente pela sua lucidez e inteligência, mas também é a melhor candidata à Presidência do Brasil nas próximas eleições! Não fossem o poder da máquina estatal em favor dos candidatos concorrentes, as alianças políticas oportunistas dos partidos nanicos e os interesses econômicos que tendem a favorecer aqueles que já estão no poder, e Marina Silva não teria concorrentes capazes de alcançá-la na corrida presidencial. Ainda assim, ao revés de todas as expectativas, a dimensão ética, intelectual e cívica de Marina Silva é tamanha que nos dá a certeza de que essa disputa está muito longe de ser definida, e dependerá apenas da convicção daqueles que a conhecem e admiram!
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