quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O insólito e perigoso caminho da redemocratização

 Reconstruir uma Nação

Passada a euforia dos resultados das urnas, empossados os ministros e definidos seus assessores, os problemas começam a pressionar os novos governantes. O "mercado" reagiu mal às contradições dos pronunciamentos do presidente Lula, desacreditando o ministro Haddad que, por sua vez, ainda não tem planos de ação, muito menos projetos definidos para os prementes problemas econômicos, sociais, políticos, ambientais e educacionais brasileiros. A lista de prioridades é imensa, pois o legado desses quatro anos de esbórnia desmantelou as instituições públicas federais, desde os próprios ministérios, as autarquias, as empresas públicas, as universidades, enfim, nada restou senão o caos e o desprezo pelos valores individuais e coletivos, aniquilados pelo ódio, pelos preconceitos e pelo descaso...

Por onde começar? Como estancar a sangria e sair da letargia em que nos encontramos, feito zumbis na multidão dos miseráveis que se espalham pelas favelas, pelas ruas, pelos centros comerciais, vivendo ao relento e esperando que algum samaritano chegue para salvá-los da miséria, da fome e do abandono em que se encontram? Tornaram-se parte da "paisagem urbana", fantasmas amorfos, despidos dos mais triviais direitos de qualquer cidadão... é para eles que escolhemos o nosso presidente, não podemos nos esquecer!

Aquelas equipes montadas para elaborar planos de governo por área e, por ministério, por tipo de negócio ou de problema, parece que se esqueceram de construir um projeto executivo para os primeiros cem dias de governo, como é tradição e prática de qualquer novo governante. Fazendo um paralelo com o pós-guerra (qualquer um), imaginamos os cadáveres da democracia espalhados pelo que restou nos campos de batalha, apodrecendo ao ar livre, putrefatos e mutilados,alguns rastejando por entre os escombros sem saber o que fazer. Não adianta passar um trator e jogar esses restos humanos em valas comuns, cobrindo-os de terra e esquecendo seu passado, sua luta e a vida de seus entes queridos.

Essa guerra insana, que travamos agora, contra o obscurantismo medieval das hordas de evangélicos fanáticos, conduzidos por falsos pastores, contra o desmonte dos valores sociais que pressupõem a tolerância às divergências ideológicas, essa guerra não acabou como esperávamos. Eles ainda estão aí, acoitados nas portas dos quartéis, refugiados em seus templos de devoção aos seus deuses pagãos, repetindo à exaustão os trechos de suas bíblias ancestrais, cujas palavras são hoje proferidas sem qualquer interpretação, imprescindível devido aos dois mil anos de transformações radicais nesse nada admirável mundo novo que, no entanto, é infinitamente mais evoluído que os horrores do passado, quando as crucificações, as fogueiras, as mutilações faziam parte indissolúvel dessas igrejas.

Difícil esquecer dessa metade de nossa população, justamente a mais ignorante, a mais nefasta, a mais raivosa e violenta, que recorre às armas sempre que suas palavras e seus sermões são insuficientes para atrair adeptos de sua doutrina de ódio e prepotência, e que agora são contestados por nós, vencedores, herdeiros de tais atrocidades. Durante meses, esse bando de milicianos da fé nos provocaram, nos ofenderam, nos agrediram com palavras e armas, tentando calar as vozes dissidentes, assim como fizeram os militares durante a ditadura sangrenta que nos calou por uma geração inteira, e acabaram "anistiados" por um "acordo" mal feito entre as vítimas do terror e das torturas, e os próprios torturadores. E essa dicotomia medieval, da "esquerda" (trabalhadores e escravos) e da "direita" (lordes, nobres e protegidos das cortes), franceses, que perduram até os dias atuais, ainda não acabou.

Pois é nesse contexto que herdamos de caos, de desprezo e do desejo de vingança dos vencidos, que precisamos reconstruir, refundar, reedificar uma sociedade democrática, justa, livre de preconceitos, tolerante até com nossos "inimigos", para reconduzir nosso Povo, essa entidade abstrata e disforme, para uma Nação verdadeira, justa, equilibrada e próspera. Não é tarefa fácil, e todos sabíamos disso, mas não nos preparamos para o "hoje", para o "agora", com pequenas ações práticas que assegurem que o país continue funcionando, ainda que precariamente, enquanto as equipes de especialistas constroem projetos viáveis para todas as pessoas, famílias, comunidades, etnias, empresas, escolas... precisamos, urgentemente, de objetividade para conduzir essa massa falida chamada Brasil para um novo tempo de prosperidade, igualdade racial, étnica e social, onde a Paz perdure até o fim de nossos dias.

Nossos "inimigos" estão entre nós, e farão de tudo para nos aniquilar. Por isso, nunca foi tão válido aquele refrão dos estudantes, dos trabalhadores e dos brasileiros em geral que, nas manifestações de protesto, cantavam, em uníssono: "É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE; NÃO TEMOS TEMPO DE TEMER A MORTE"! Pois só teremos uma "chance" de mostrar aos derrotados que somos capazes de edificar uma nova "NAÇÃO"! Se falharmos em nossa missão, dentro de quatro anos eles estarão de volta, mais fanáticos, mais radicais, mais vingativos e repletos de desejo de vingança pela sua derrota vergonhosa...

Nenhum comentário: