quinta-feira, 12 de maio de 2016

A Formação do Ser Humano

O grande desafio da contemporaneidade talvez seja construir o ser humano em dias tão conturbados e desprovidos de parâmetros orientadores. Em passado não muito distante, valores, princípios e moral eram critérios adequados para se construir a personalidade de um indivíduo. Hoje, talvez, nem mesmo o sentido dessas palavras seja conhecido.
Educar é uma tarefa para poucos, mas em uma sociedade de sete bilhões de seres, não se pode pensar em individualismos. No entanto, não se constrói uma personalidade coletivamente. Cada pessoa é moldada por exemplos, oportunidades criadas e metodologia pedagógica. Talvez por isso o fracasso das novas gerações seja tão amplo e evidente. O mundo, tal como o vemos hoje, não seria um bom exemplo de sucesso coletivo para se espelhar pelas gerações futuras.
Mas o que digo? Que fracassamos? Que o mundo contemporâneo não é bom? Sim, exatamente isso. Os exemplos são fartos e abrangentes. Nunca o ser humano, vivendo em grupos, foi tão solitário. Conceitos de família perderam, de certo modo, o sentido, uma vez que os laços que aproximam as pessoas não são estabelecidos pelas necessidades de procriação e de formação de vínculos permanentes. Homens e mulheres interagem por sexo, não por amor.
Os recursos tecnológicos criaram barreiras quase intransponíveis entre pessoas, mesmo dentro de um núcleo "familiar". Os horários de aproximação já não fazem sentido, e o contato humano perdeu significado. Falamos e nos relacionamos por meio da tecnologia, e a afetividade derivou para outros "objetos" do mundo sensível, como animais de estimação. Isso, de certo modo, explica que o relacionamento entre "casais" se tornou sexual, sensorial, até mesmo "bestial".
Uma criança é coberta de atenções, como no passado. Mas seus interesses mudaram muito, assim como suas exigências. Não existe mais o afeto e o respeito entre adultos e crianças, que se tornaram símbolos de prepotência e dominação. Por isso, as crianças não aceitam mais a supremacia do adulto, e rejeitam sua autoridade. E isso ocorre no interior das "famílias", nas salas de aula e até mesmo no trabalho, tornando o processo de educar e formar muito mais complexo.
Os pais e as mães já não são mais a fonte do conhecimento, da sabedoria, da orientação pedagógica. Foram substituídos pelos meios de comunicação, sem censuras, e pelos recursos tecnológicos, que dominam o ambiente doméstico. Já nem se pode falar em "conflitos de geração", pois não se trata disso, pelo menos como o conhecíamos meio século atrás. Trata-se da "liberdade de aprender" sem o auxílio de um "mestre", de se educar em lugar de ser educado.
No entanto, essa liberdade extrema criou lacunas no aprendizado, pois a vontade de aprender já não motiva os jovens. Tudo está no "Oráculo tecnológico"! Não existem mais enciclopédias, os livros se tornaram obsoletos, a sabedoria dos adultos virou assunto sem importância, assim como os próprios idosos se tornaram incômodos dentro das famílias. A "educação", em seu sentido de respeito, desapareceu completamente, assim como a hierarquia.
O que virá depois disso ainda não se sabe, pois os próprios processos didático-pedagógicos estão sendo questionados pela sociedade, da mesma forma que os parâmetros curriculares. Uma espécie de estado anárquico tomou conta do processo educativo, restringindo o papel do professor, assim como a função dos pais se tornou questionável. Crianças de dois anos já afrontam a autoridade materna e paterna, exigindo que seus "direitos" sejam respeitados.
Ocorre que todas as sociedades humanas, animais, vegetais, são regidas por padrões de comportamento, por regras, por leis, por conformidades com aquilo que se padronizou chamar de "contrato social", os padrões tolerados por uma comunidade, seja ela qual for, para que os conflitos fossem solucionados de maneira pacífica e ordenada. Sem essas normas, não há convivência possível e, pior, não há desenvolvimento viável...
Para onde caminha a Humanidade? Qual será seu destino diante de tais transformações? A cada dia novas regras são abolidas em nome da "liberdade de expressão e de vivência". A cada dia se torna mais difícil a convivência entre pessoas, seja elas familiares, sejam vizinhanças, sejam no trabalho ou mesmo nas ruas. A violência urbana é fruto dessa "tolerância máxima", pois cada um pode se expressar como quer, sem risco de represálias.
A Formação do Ser Humano, assim como a dos animais e das plantas, obedece a um processo natural, lógico, racional, coerente, que deve seguir um curso onde a liberdade se concede aos poucos pelos que educam. Todas as sociedades que se permitiram a luxúria de conceder a liberdade plena antes que seus membros estivessem preparados, feneceram, pereceram, definharam, entraram em um processo de entropia, como as grandes civilizações do passado.
Educar não é dar a liberdade prematura para os jovens. Educar é soltar aos poucos as amarras até que cada um saiba suas próprias limitações e aprenda a sobreviver em um mundo complexo e em permanente ebulição. Quando essas amarras se soltam antes que o discípulo esteja preparado, ocorre o desastre, o acidente fatal, a desgraça. Por isso, educar não é tarefa para qualquer um, é para poucos. Por isso, também, a sociedade não é perfeita...
Rigor excessivo, assim como liberdade plena, não podem gerar bons frutos. O comedimento, a sabedoria de soltar os freios sem perder o controle da situação é o fator determinante do sucesso na educação dos seres humanos. A sabedoria da Natureza deveria ser nosso grande Mestre e instrutor. Lá, no mundo natural, estão todos os exemplos de que necessitamos para acertar sempre, de buscar o conhecimento e de responder às questões fundamentais...

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