Amanhã, 14 de setembro, vou-me embora para Brasília, depois de exatos 12 meses trabalhando em São Gabriel da Cachoeira. Não foi fácil... não foi justo... não houve lealdade... foram dias, meses complicados, repletos de contradições e enganos... mudei alguns conceitos, fortaleci outros, aprendi muito e me dediquei completamente ao propósito de ser útil a essa população.
Não deu certo e fui vencido pela burocracia, pelas traições, pelas ambições pessoais... era um jogo de cartas marcadas e eu não percebi as artimanhas do "poder" aqui e em Brasília; não tive tempo para me defender, ocupado que estava em realizar um trabalho sério e comprometido com a causa indígena. Depois, percebi que esta causa era inglória, para mim e para os indígenas, manipulados por suas lideranças incompetentes e desonestas.
Mas agora já não importa mais, pois estou de volta para minha família. Deixo poucas lembranças e pouquíssimos amigos. Mas saio com a certeza do dever cumprido, e isso é o que me importa. Àqueles que tramaram contra mim, fica meu desprezo. Lambuzem-se com esse falso poder conquistado por vias tão medíocres! Eles se merecem, infelizmente...
Não poderia ir embora sem manifestar, mais uma vez, minhas profundas mágoas, não pela oportunidade perdida de realizar um excelente trabalho, mas pela vileza desse povo que hoje domina essa instituição federal. Quanto dinheiro desperdiçado só para satisfazer os donos do poder! Quanta mentira existe por detrás de discursos políticos e promessas quase eleitoreiras! Perdi até mesmo minha crença nos destinos desse nosso país, dominado por um grupo que não sabe o que é liberdade e democracia! Cessam em mim as intenções políticas, o entusiasmo ideológico, a luta pela Justiça, pela Natureza, pelas causas sociais...
Muito tempo passará até que eu possa me recuperar dessa que foi minha pior decepção. Talvez nunca mais eu tenha vontade de abraçar novas causas; talvez eu me decida por abandonar meus monólogos neste blog, meu confessionário de idéias, meu cadinho de reflexões acerca do pensamento contemporâneo nesse país devastado pela corrupção.
Fica, para mim, a grata sensação do retorno, do reencontro com minha família tão querida, a quem sacrifiquei em defesa de um ideal que não deu certo, que já não existe mais... adeus São Gabriel da Cachoeira! Adeus meus raríssimos amigos! Adeus à população indígena que é enganada pelas "políticas públicas" do falso indigenismo desta FUNAI que eu não gostaria de preservar como meus "patrões". Servidor Público? "BLAGH!"
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