sábado, 27 de agosto de 2011

SÓRDIDO!

É triste este mundo... comecei a trabalhar em 1.972, há 40 anos... pensei conhecer um pouco da alma humana, mas depois desses quase 12 poucos meses nesta terra, percebi que nada sei, que não estou preparado para a sordidez humana, que não tenho os atributos e as armas necessárias para enfrentar esse tipo de inimigos... estou pasmo! Em tão pouco tempo, sepultei minhas crenças, minha ideologia, meus mais profundos ideais de contribuir para a redenção de um povo sofrido, ultrajado, humilhado e desencantado por tantos anos de dominação... pensei até que eram os brancos os responsáveis por essa tirania... mentira! Os homens são iguais em qualquer arena, sob qualquer bandeira política, por debaixo de qualquer interesse!

Meus companheiros de trabalho me traíram... os líderes dessa população interétnica traíram seus próprios companheiros! As autoridades máximas do movimento indígena traíram, descaradamente, esses povos! O que nos resta? A que viemos, se não temos, entre nós, as pessoas, os profissionais capazes de romper com a exploração dos povos indígenas? A ambição humana não tem limites e é capaz de qualquer coisa para obter insignificantes benefícios pessoais em troca da deslealdade, da entrega de si mesmos por cargos!

Ao me candidatar ao serviço público acreditei que existia uma ética, princípios que norteavam as decisões, que conduziam as pessoas a pensar acima de seus interesses individuais, a buscar valores que a sociedade capitalista havia deixado no passado... mas não! São todos iguais... não, são todos piores, mesquinhos, medíocres, primatas! Sua ambição não tem limites, pois buscam interesses menores em suas ações!

O pior de tudo é que me entreguei de corpo e alma a esse propósito, desafiei autoridades, manifestei publicamente minha fé nos seres humanos, declarei minha opção pelos pobres e até abri mão de minha família para lutar em defesa de ideais maiores, duradouros, perenes, incorruptíveis... para concluir, no final, que são todos desleais, movidos por interesses mesquinhos e imediatistas, por cargos, por posições sociais!

Agora só me resta voltar, renunciar, esquecer esse triste passado que enterrarei nas areias do Rio Negro... que me perdoem as populações indígenas, não suas lideranças corruptas, mas os povos humildes e traídos por pessoas incompetentes e desonestas, mas não tenho alternativas. Volto à minha vida passada na esperança de encontrar outras razões para perseverar, para enterrar esse curto período de equívocos...

Não sei mentir, não sei enganar, não sei trair... por isso, vou-me embora, com muitas mágoas e um imenso sentimento de frustração perante essa realidade perversa que conheci aqui. Não levarei lembranças, não deixarei memórias de minha passagem por aqui, pela simples razão de que não existem pessoas dignas, no meio em que atuei, de guardarem, de mim, recordações relevantes... fiquem eles com suas ambições menores... eu buscarei outros caminhos pois, se não os encontrar, não terei razões para existir!

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