Ao contrário do que se pensa e se fala, até com grande animosidade e – por que não? – ódio, a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico não estão, necessariamente, em lados opostos da arena política. Mas é preciso compreender com clareza e sem paixão que, até hoje, o enriquecimento das empresas e dos empresários não trouxe melhoria da qualidade de vida e dignidade humana à população.
É bom lembrar que os que se enriqueceram não são, via de regra, daquela região, não tendo, portanto, compromisso com a terra, seja quanto à sua memória histórica, seja quanto a relações sociais. A população nativa continua pobre e recebendo as migalhas caídas das mesas desses mega-empresários do agronegócio. Basta olhar as estatísticas do IBGE...
É bom lembrar que os que se enriqueceram não são, via de regra, daquela região, não tendo, portanto, compromisso com a terra, seja quanto à sua memória histórica, seja quanto a relações sociais. A população nativa continua pobre e recebendo as migalhas caídas das mesas desses mega-empresários do agronegócio. Basta olhar as estatísticas do IBGE...
Aos mais velhos, como eu, vale recordar “os bons tempos do milagre brasileiro”, década de 70, e seu “maestro”, Delfin Neto, esse mesmo economista que ainda está ativo na política. Naquela época os militares no poder falavam em primeiro “fazer crescer o bolo” para depois reparti-lo com o povo. O “bolo” foi, de fato, repartido entre aqueles que se apoderaram do país e de seus asseclas... o povo, mais uma vez, foi esquecido na miséria, na ignorância e à margem do caminho. Agora o governo distribui suas esmolas a milhões de brasileiros que continuam na miséria mas, graças ao “bolsa família”, ajudam o “outro Brasil” a crescer na onda do consumismo!
Então, qual seria esse “novo modelo de desenvolvimento”? Qual é o milagre?
Não há milagre. Para acabar com a miséria só há um caminho: estabelecer limites para a riqueza pessoal, taxando fortemente a renda acima de patamares éticos, e investir intensivamente na cultura, na educação e no saneamento básico. Acabar com os focos de pobreza extrema significa nada menos que distribuir a riqueza extrema.
Isso basta? Claro que não! Mas é o mais difícil, pois mexer com o dinheiro dos ricos é tarefa para um estadista ficar na História como um grande reformador!
E quando falamos de investir na educação e saneamento básico não nos referimos aos estados ricos do sul e do sudeste, que esses tem condições de fazê-lo sem o paternalismo da União. Queremos nos referir aos verdadeiramente pobres irmãos do nordeste, do norte e do centro-oeste, aqueles brasileiros esquecidos de todos, que vivem à mingua, cercados de riquezas naturais e em processo de destruição.
A educação pública tem melhorado muito nos últimos anos, mas nesses lugares remotos o desnível cultural não tem precedentes! É escandaloso, indecente, imoral!
A outra parte do “milagre” é construir uma Sociedade Solidária, e isto vai muito além da vontade política. O primeiro passo é enxugar o Estado. De novo? Não, porque nunca foi feito. Isso passa por punir rigorosamente a corrupção, o desvio de verbas, o abuso do poder, eliminar a gigantesca rede de favorecimentos de um governo paralelo!
Fácil falar, difícil realizar...
É verdade, mas um novo país não se constrói sem dor. Os partidos políticos são a fonte de corrupção mais evidente, pois quando um está no poder forma-se um núcleo de partidos adesistas, só interessados nas nomeações para cargos de segundo e terceiro escalão, enquanto que outro grupo se organiza na oposição, cujo único propósito é impedir a governabilidade. Ou seja, na realidade, são apenas dois “partidos” políticos: o da situação e o da oposição. O resto é figuração.
O que os políticos chamam de “jogo democrático” tem tudo a ver com jogo, mas nada com a Democracia! Enquanto um bando se digladia na arena política, no seu mais sórdido significado, uma população inteira é massacrada pelo poder econômico!
Acabar com partidos políticos, criar conselhos comunitários não remunerados com os mais sábios, mais idosos e mais idealistas, lideranças naturais que cada comunidade sabe quem são e o que fazem.
Esses, por sua vez, elegeriam seus representantes regionais, que também escolheriam líderes que os representassem, até chegar ao nível nacional. Essa pirâmide de poder seria mais estável e de confiança de seus liderados e ninguém teria assegurado seu poder, exceto por essa relação delegada que, a qualquer instante poderia ser revogada. O “Politburo” dos estados socialistas é concebido e funciona desta maneira.
Então, por que não deu certo?
Porque a corrupção é o Vampiro de todas as sociedades e sangra até matar! Por isso, o inimigo mortal do povo é a corrupção, esse fantasma que ronda todas as sociedades e esfacela suas estruturas mais sólidas, porque age às escondidas, insinua-se como a prostituta, corrói como o ácido, vicia como a heroína, sangra como o vampiro e se fortalece com a omissão dos fracos e com o medo dos covardes...
Em todos os níveis as decisões seriam tomadas em colegiado e, dependendo da gravidade e impacto social, não havendo unanimidade nem consenso, referendadas nos níveis políticos imediatamente inferiores. Isso garantiria a existência de um Estado Democrático de pleno direito e representatividade, embora sem partidos políticos e sem órgãos consumidores de recursos e incompetentes como as Assembléias, Câmaras e Senado, bem como seus respectivos anexos, assessorias e correlatos.
Só nessas instituições, quantos milhares de empregos seriam eliminados? Empregos desnecessários, diga-se de passagem. Basta, para convencer, analisar a produção de um único mandato de senador, deputado ou vereador, em qualquer instância!
Ao invés de ministérios e secretarias, grupos de projetos contratados para gerenciar o planejamento e a execução de obras e entregar o produto resultante a uma empresa responsável por sua operacionalização. Isso ocorreria em todas as instâncias do país. Empresas de planejamento urbano seriam criadas para desenvolver propostas de projetos para cada município, apenas se solicitados pelos conselhos comunitários.
Utopia? Sim, é verdade, uma grande Utopia! Mas o Estado, tal como existe hoje em qualquer lugar do mundo, funciona mal e custa caro; as discussões políticas são intermináveis porque realizadas sob o emblema dos partidos políticos, em uma arena onde apenas um lado pode sair vitorioso e o outro ficará aguardando uma oportunidade de revanche, não importa se os interesses da Nação sejam preteridos ou não.
Conselhos de sábios poderiam ser formados para fundamentar as decisões políticas, enriquecendo os resultados com seu saber, maturidade e conhecimento. As decisões seriam rápidas e efetivas, e como não haveria oposição sistemática, mas consenso, os resultados seriam os melhores concebidos pelos conselhos comunitários.
E a questão original, ambientalistas versus desenvolvimentistas, perderia o sentido pois ambos estariam do mesmo lado, lutando pelos mesmos interesses e ideais, e cada obra, cada ação seria analisada à exaustão antes de se decidir por qualquer dano ou agressão ao meio ambiente; e as ações mitigadoras já estariam tomadas a priori.
Novamente, uma grande utopia e, o melhor: factível! Como migrar desse mundo de agressão para este “Admirável Mundo Novo”?
Desfazendo cada estrutura desse Estado paternalista, criando os conselhos comunitários em seus níveis mais elementares e dando-lhes autoridade de veto às ações políticas em sua esfera de ação, criando um novo estilo de tomada de decisões, estimulando o desenvolvimento de consciência coletiva, remodelando métodos de ensino para que as desigualdades regionais sejam eliminadas no longo prazo...
Uma gigantesca revolução cultural, sem a violência chinesa, mas consensualizada em todas as áreas do conhecimento humano e entre todas as camadas sociais.
A gradativa eliminação das indústrias do mal seria imprescindível, e realizado através da taxação crescente de impostos sobre o consumo de bebidas, cigarros e quaisquer produtos supérfluos. Para isso a indústria deveria ter incentivos para a produção de bens de consumo essenciais, de forma a suprir as necessidades de todos os brasileiros. O desperdício e o consumismo são os pilares do modo de produção capitalista e por isso devem ser extirpados como um câncer da sociedade.
A erradicação das drogas através de ações combinadas entre todas as polícias e as Forças Armadas, assim como a punição exemplar de todos os traficantes e grandes consumidores, banindo-os do convívio social são medidas essenciais e urgentes.
Chame-se a isso Comunismo, Socialismo, Comunitarismo ou Anarquismo... não importa, pois o objetivo maior, quase messiânico, seria a salvação do planeta e, conseqüentemente, da humanidade e de toda vida natural existente na Terra.
Rirão os céticos e os detentores do poder e da riqueza. Mas sorrirão felizes os miseráveis, inebriados pela possibilidade de sua redenção e pelo advento da justiça!
É inadmissível uma sociedade conviver com a luxúria e a pobreza sem fazer nada! Apenas com a eliminação do desperdício já seria possível resgatar bilhões de pessoas da miséria absoluta e lhes assegurar vida decente e honesta...
O outro caminho
Vamos aceitar o mundo como ele é: cruel, imperfeito, injusto, desonesto e consumista. Vamos prosseguir nessa disputa predatória e fratricida entre o bem e o mal, cada qual convicto de estar do lado certo. Vamos deixar que os recursos naturais sejam exauridos da face da Terra, acreditando que nosso tempo aqui se acabará primeiro, mesmo que nada reste de vida para nossos filhos e netos. Vamos eleger outros milagres: a descoberta de outro planeta, intacto, com as mesmas características de nossa Terra, para que a parcela rica e privilegiada da sociedade migre para lá, deixando-nos o mundo devastado; vamos acreditar em um deus que por sua suprema vontade restaure, em um piscar de olhos, tudo o que a humanidade destruiu...
Utopia é fugir da realidade; é a crença de que para todo mal existe um remédio e nada é ou será irreversível, não importa quanto tenhamos feito para destruir...
2 comentários:
Grande texto.Na maior parte da tua abordagem parece que também falas de Portugal.Discordo num único ponto,"conselhos de sábios?"todos sabemos quem vão ser nomeados,supostos independentes com amarras ao Poder
Não se nomeiam conselhos de sábios; reconhece-se-lhes o valor. É uma nova maneira de "fazer política". Conselhos não têm poder, apenas aconselham.
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