sábado, 14 de março de 2015

O triste ocaso de uma ideologia



Depois do enorme fiasco das manifestações de 13 de março de 2015, CUT, MST e PT amargam a ressaca da constatação de que suas teses populistas deixaram de entusiasmar o povo e de levar grandes concentrações de vermelho às ruas do país. Ontem, o que se viu foi um pequeno grupo de militantes, todos uniformizados, com suas bandeiras e camisetas vermelhas, tentando mostrar que ali havia mais pessoas do que estimou a Polícia Militar. Em suas maiores concentrações, na Avenida Paulista, em São Paulo, e na Candelária, no Rio de Janeiro, pouco mais de dez mil pessoas se espalhavam, em um misto de constrangimento e frustração pela ausência do grande público que esperavam.

O que teria causado esse emagrecimento das antigas hostes do que foi o maior movimento popular que o Brasil democrático conheceu? Em primeiro lugar, esses movimentos continuaram agitando as mesmas bandeiras ideológicas que, se fizeram sentido durante a Ditadura Militar e no Século XX, já não mais significam grande coisa em um mundo em ebulição, mais empolgado com o poder da tecnologia do que com teses do Socialismo Marxista do século XIX.

Já não se aplicam mais os conceitos de burguesia, proletariado, patrões e assalariados, esquerda e direita, luta de classes, ditadura do proletariado, palavras típicas das revoltas que mudaram o mundo do século XX. Hoje, o mundo se transforma pelas mãos dos fenômenos tecnológicos, seus recursos em frenética evolução, suas redes sociais, e a mídia "revolucionária", bombardeando mitos e paradigmas, afrontando religiões, quebrando estereótipos ultrapassados e preconceituosos.

Se a ideologia marxista já não encontra eco em nossas sociedades contemporâneas, o mundo capitalista enfrenta sua maior crise de identidade, pois, mesmo com a transformação que se processa pela tecnologia inovadora e imprevisível quanto às suas limitações, nunca a concentração de renda e as grandes, imensas riquezas familiares e industriais atingiram tais extremos. Um abismo de fortunas concentra o poder nas mãos de 1% da população mundial.

E nem o socialismo marxista, nem a democracia capitalista têm resposta a esse desequilíbrio de forças políticas que caracteriza o momento em que vivemos. A opção marxista, anacrônica e desinformada, representaria uma volta ao passado dos Czares da Rússia; a opção capitalista está aí, à vista de todos, enfrentando a pior crise econômica desde a depressão de 1929. E o sintoma mais evidente dessa incapacidade de enfrentar esses desafios do "Admirável Mundo Novo", que emergiu do fim da Segunda Guerra Mundial, são os conflitos intermináveis entre seitas medievais, como a Evangélica, o Judaísmo e o Islamismo, promovendo o desentendimento, as guerras, o terrorismo e a barbárie.

Outras evidências há, como o esgotamento dos recursos naturais, proveniente do crescimento demográfico incontrolável, o consumismo irrefreado e as ofertas cada vez mais atraentes de um mundo povoado pelos sonhos capitalistas, de poder, riqueza e glória. Esses sonhos, acessíveis somente a uma minoria privilegiada, nada têm a ver, no entanto, com as lutas de classe que deram sentido ao marxismo soviético e chinês. Hoje, a Rússia amarga uma situação de crise e de perda de poder, equiparando-se às nações emergentes dos BRICS, enquanto a China dos mandarins abandonou a doutrina e disparou um processo de crescimento vertiginoso, motivado pela sua imensa população, um mercado consumidor praticamente inesgotável, e pela adoção do modelo capitalista, selvagem e predatório, mais alinhado com os efeitos de devastação que causa.

Essa é a realidade atual, contraditória e predatória, incapaz de vencer os desafios que se apresentam à civilização do século XXI: convivência com as diferenças de visão de mundo e de religiões medievais, enfrentamento dos problemas ambientais e implantação de um modelo de desenvolvimento e consumo menos predatório e devastador, respeito à diversidade étnica e aos direitos das populações tradicionais de viver de acordo com suas tradições, crenças e modos de produção, redução das imensas disparidades entre a distribuição das riquezas do mundo, acabando com os privilégios das classes abastadas e coibindo a acumulação inesgotável de capital e poder a um grupo minoritário, controle rigoroso do crescimento demográfico e da distribuição das populações de modo mais uniforme pelos territórios habitáveis do mundo.

Fato é que essas ideologias que moveram o mundo, e cuja existência se exauriu na mudança de milênio, já não respondem mais a esses desafios, e não serão capazes de gerir uma civilização em permanente contradição entre o consumo e a acumulação de capital, e as noções de sustentabilidade econômica, ambiental e social, que deverão servir de arcabouço ideológico para uma futura ideologia, cujos valores e princípios deverão versar sobre justiça social, paz e tolerância às diferenças, que sempre existirão no mundo, pois não há igualdade na distribuição uniforme das riquezas do mundo. O ser humano se caracteriza, justamente, pela sua diversidade cultural e sua intelectualidade contraditória.

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