sábado, 17 de julho de 2010

Considerações a respeito da Bancada Ruralista

Em princípio, nada contra a formação de blocos parlamentares em defesa de interesses específicos, desde que representem, proporcionalmente, a população do país. No entanto, não existe essa proporcionalidade no Congresso Nacional, e a razão é muito simples: para se eleger um senador, são necessários muitos milhões de reais e muito poder político. Lamentavelmente, volto à questão da representatividade parlamentar e a validade e viabilidade desse sistema de governo.


Os partidos políticos existem para representar o povo brasileiro e este é o fundamento de um sistema democrático. Porém, a realidade é outra: em um sistema capitalista, fala "mais grosso" e soa mais forte a voz dos poderosos, daquela "casta" de favorecidos pelo "destino" a se situar na camada mais privilegiada de nossa sociedade. Quem tem dinheiro, bens, recursos financeiros, é bem-sucedido na vida. Ao pobre cabe a função de manter esse "status quo", sem perceber que é manipulado pela classe dominante!


A Bancada Ruralista surgiu de uma entidade fundada em 1985 para defender os interesses dos grandes proprietários rurais, os latifundiários. Destacou-se nessa entidade o deputado Ronaldo Caiado, goiano de Anápolis, e um dos mais ferrenhos defensores das "teses" corporativistas do "moderno" ruralismo brasileiro. No entanto, para se entender melhor esse segmento de nossa sociedade, é importante conhecer suas origens e seu poder.


Na época colonial, as terras brasileiras foram distribuídas pelos portugueses a pessoas que se comprometiam a se estabelecer no "novo continente", apesar das dificuldades existentes: um mundo novo, sem o conforto europeu, povoado por "indígenas", inóspito (pois os invasores portugueses, obviamente, não eram benvindos) e distante. Para convencer essas pessoas, Portugal oferecia terras, as capitanias, as sesmarias e as datas.


Foram doze as capitanias, e determinaram a primeira regra de ascensão de uma hierarquia de castas no Brasil. Eram faixas de terras separadas por linhas paralelas e sem nenhum critério geográfico, desde o oceano Atlântico até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, e certamente não resultaria, em sucesso, dada a sua artificialidade original.


As sesmarias eram grandes extensões de terras destinadas à pecuária, à lavoura e ao extrativismo. Esse processo foi determinante de nossa vocação à exploração primária das riquezas naturais e ao esgotamento dos solos e do riquíssimo subsolo brasileiro. As datas eram subdivisões das sesmarias e, como as anteriores, foram distribuídas conforme interesses políticos conjunturais. É evidente que tal distribuição de riquezas geraria conflitos fundiários irreconciliáveis ao longo da história do país.


A conseqüência disso tudo foi a extratificação social e a distribuição desigual das riquezas que determinaria o futuro da nação brasileira. Para atender à necessidade de mão-de-obra rural, a opção de Portugal foi trazer escravos cativos do continente africano e submetê-los a um regime de trabalho desumano e insano. Esse processo durou quase quatrocentos anos, um tempo quase inimaginável para nós! Todos os preconceitos criados sobre um conceito equivocado de raças determinou a evolução social do país.


Dessa divisão de castas surgiram as noções de ascendência de segmentos sociais e de subordinação econômica dos povos brasileiros. Não apenas os negros foram submetidos a essa condição de humilhação, mas também os indígenas, cujas populações foram cruelmente submetidas a processos de desestruturação social e perda da identidade cultural durante centenas de anos. Muitas nações indígenas desapareceram devido a esse proceso.


As "elites" sociais assumiram o poder e o conservaram durante cinco séculos, provocando um genocídio sem precedentes na história do mundo e causando um declínio populaçional de mais de dez milhões de indígenas nas terras brasileiras. Simultaneamente, as populações negras oriundas do continente africano submergiam em um processo de dominação sem precedentes, abastecendo as "plantations" da mão-de-obra necessária para determinar o modelo de produção agrícola e pecuária de nosso país.


Essas "elites" foram fortalecidas pela imigração de italianos, espanhóis, alemães e japoneses, já no século XXI. Nossa economia se especializava no setor primário e determinava a submissão aos países industrializados, desde o século XIX. A tendência do país, desde então, era de consumir esses recursos naturais até sua exaustão. Durante séculos, nossa balança comercial se baseava quase que exclusivamente na produção agrícola e mineral.


A Bancada Ruralista surgiu dessa "vocação" econômica pela exportação de produtos do setor primário: vendemos minérios, açúcar, soja, algodão, café, cacau, borracha, petróleo; e importamos produtos de alto valor agregado, industrializados, como eletro-eletrônicos, máquinas e equipamentos industriais, mantendo, assim, nossa subserviência ao mercado internacional. A enorme extensão territorial brasileira assegurou o relativo sucesso desse modelo de produção. No entanto, a longo prazo, optamos por subordinar nosso povo à escravidão e à dependência intelectual. É disso que se alimenta a bancada ruralista!


Os grandes proprietários rurais representam menos de 5% de toda a população rural do Brasil. No entanto, essa "bancada ruralista" possui cerca de 40% de todo o contingente de representantes no Congresso Nacional; uma imensa desigualdade social! Essa é a maior evidência dos desequilíbrios sociais de um país que se propõe a ser uma potência mundial. Portanto, se pretendemos sair dessa situação de subserviência e mediocridade, precisamos, primeiro, desintegrar essas barreiras políticas e sociais e conquistar nossa real independência, jamais alcançada, pois não se liberta um povo através de decretos, mas sim através de conquistas sociais definitivas, eliminando as barreiras do preconceito e das castas.

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