segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Uma proposta de desenvolvimento sustentável

Ao contrário do que se pensa e se fala, até com grande animosidade e – por que não? – ódio, a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico não estão, necessariamente, em lados opostos da arena política. Mas é preciso compreender com clareza e sem paixão que, até hoje, o enriquecimento das empresas e dos empresários não trouxe melhoria da qualidade de vida e dignidade humana à população.

É bom lembrar que os que se enriqueceram não são, via de regra, daquela região, não tendo, portanto, compromisso com a terra, seja quanto à sua memória histórica, seja quanto a relações sociais. A população nativa continua pobre e recebendo as migalhas caídas das mesas desses mega-empresários do agronegócio. Basta olhar as estatísticas do IBGE...

Aos mais velhos, como eu, vale recordar “os bons tempos do milagre brasileiro”, década de 70, e seu “maestro”, Delfin Neto, esse mesmo economista que ainda está ativo na política. Naquela época os militares no poder falavam em primeiro “fazer crescer o bolo” para depois reparti-lo com o povo. O “bolo” foi, de fato, repartido entre aqueles que se apoderaram do país e de seus asseclas... o povo, mais uma vez, foi esquecido na miséria, na ignorância e à margem do caminho. Agora o governo distribui suas esmolas a milhões de brasileiros que continuam na miséria mas, graças ao “bolsa família”, ajudam o “outro Brasil” a crescer na onda do consumismo!

Então, qual seria esse “novo modelo de desenvolvimento”? Qual é o milagre?

Não há milagre. Para acabar com a miséria só há um caminho: estabelecer limites para a riqueza pessoal, taxando fortemente a renda acima de patamares éticos, e investir intensivamente na cultura, na educação e no saneamento básico. Acabar com os focos de pobreza extrema significa nada menos que distribuir a riqueza extrema.

Isso basta? Claro que não! Mas é o mais difícil, pois mexer com o dinheiro dos ricos é tarefa para um estadista ficar na História como um grande reformador!

E quando falamos de investir na educação e saneamento básico não nos referimos aos estados ricos do sul e do sudeste, que esses tem condições de fazê-lo sem o paternalismo da União. Queremos nos referir aos verdadeiramente pobres irmãos do nordeste, do norte e do centro-oeste, aqueles brasileiros esquecidos de todos, que vivem à mingua, cercados de riquezas naturais e em processo de destruição.

A educação pública tem melhorado muito nos últimos anos, mas nesses lugares remotos o desnível cultural não tem precedentes! É escandaloso, indecente, imoral!

A outra parte do “milagre” é construir uma Sociedade Solidária, e isto vai muito além da vontade política. O primeiro passo é enxugar o Estado. De novo? Não, porque nunca foi feito. Isso passa por punir rigorosamente a corrupção, o desvio de verbas, o abuso do poder, eliminar a gigantesca rede de favorecimentos de um governo paralelo!

Fácil falar, difícil realizar...

É verdade, mas um novo país não se constrói sem dor. Os partidos políticos são a fonte de corrupção mais evidente, pois quando um está no poder forma-se um núcleo de partidos adesistas, só interessados nas nomeações para cargos de segundo e terceiro escalão, enquanto que outro grupo se organiza na oposição, cujo único propósito é impedir a governabilidade. Ou seja, na realidade, são apenas dois “partidos” políticos: o da situação e o da oposição. O resto é figuração.

O que os políticos chamam de “jogo democrático” tem tudo a ver com jogo, mas nada com a Democracia! Enquanto um bando se digladia na arena política, no seu mais sórdido significado, uma população inteira é massacrada pelo poder econômico!
Acabar com partidos políticos, criar conselhos comunitários não remunerados com os mais sábios, mais idosos e mais idealistas, lideranças naturais que cada comunidade sabe quem são e o que fazem.
Esses, por sua vez, elegeriam seus representantes regionais, que também escolheriam líderes que os representassem, até chegar ao nível nacional. Essa pirâmide de poder seria mais estável e de confiança de seus liderados e ninguém teria assegurado seu poder, exceto por essa relação delegada que, a qualquer instante poderia ser revogada. O “Politburo” dos estados socialistas é concebido e funciona desta maneira.

Então, por que não deu certo?

Porque a corrupção é o Vampiro de todas as sociedades e sangra até matar! Por isso, o inimigo mortal do povo é a corrupção, esse fantasma que ronda todas as sociedades e esfacela suas estruturas mais sólidas, porque age às escondidas, insinua-se como a prostituta, corrói como o ácido, vicia como a heroína, sangra como o vampiro e se fortalece com a omissão dos fracos e com o medo dos covardes...

Em todos os níveis as decisões seriam tomadas em colegiado e, dependendo da gravidade e impacto social, não havendo unanimidade nem consenso, referendadas nos níveis políticos imediatamente inferiores. Isso garantiria a existência de um Estado Democrático de pleno direito e representatividade, embora sem partidos políticos e sem órgãos consumidores de recursos e incompetentes como as Assembléias, Câmaras e Senado, bem como seus respectivos anexos, assessorias e correlatos.

Só nessas instituições, quantos milhares de empregos seriam eliminados? Empregos desnecessários, diga-se de passagem. Basta, para convencer, analisar a produção de um único mandato de senador, deputado ou vereador, em qualquer instância!

Ao invés de ministérios e secretarias, grupos de projetos contratados para gerenciar o planejamento e a execução de obras e entregar o produto resultante a uma empresa responsável por sua operacionalização. Isso ocorreria em todas as instâncias do país. Empresas de planejamento urbano seriam criadas para desenvolver propostas de projetos para cada município, apenas se solicitados pelos conselhos comunitários.

Utopia? Sim, é verdade, uma grande Utopia! Mas o Estado, tal como existe hoje em qualquer lugar do mundo, funciona mal e custa caro; as discussões políticas são intermináveis porque realizadas sob o emblema dos partidos políticos, em uma arena onde apenas um lado pode sair vitorioso e o outro ficará aguardando uma oportunidade de revanche, não importa se os interesses da Nação sejam preteridos ou não.

Conselhos de sábios poderiam ser formados para fundamentar as decisões políticas, enriquecendo os resultados com seu saber, maturidade e conhecimento. As decisões seriam rápidas e efetivas, e como não haveria oposição sistemática, mas consenso, os resultados seriam os melhores concebidos pelos conselhos comunitários.

E a questão original, ambientalistas versus desenvolvimentistas, perderia o sentido pois ambos estariam do mesmo lado, lutando pelos mesmos interesses e ideais, e cada obra, cada ação seria analisada à exaustão antes de se decidir por qualquer dano ou agressão ao meio ambiente; e as ações mitigadoras já estariam tomadas a priori.

Novamente, uma grande utopia e, o melhor: factível! Como migrar desse mundo de agressão para este “Admirável Mundo Novo”?

Desfazendo cada estrutura desse Estado paternalista, criando os conselhos comunitários em seus níveis mais elementares e dando-lhes autoridade de veto às ações políticas em sua esfera de ação, criando um novo estilo de tomada de decisões, estimulando o desenvolvimento de consciência coletiva, remodelando métodos de ensino para que as desigualdades regionais sejam eliminadas no longo prazo...

Uma gigantesca revolução cultural, sem a violência chinesa, mas consensualizada em todas as áreas do conhecimento humano e entre todas as camadas sociais.

A gradativa eliminação das indústrias do mal seria imprescindível, e realizado através da taxação crescente de impostos sobre o consumo de bebidas, cigarros e quaisquer produtos supérfluos. Para isso a indústria deveria ter incentivos para a produção de bens de consumo essenciais, de forma a suprir as necessidades de todos os brasileiros. O desperdício e o consumismo são os pilares do modo de produção capitalista e por isso devem ser extirpados como um câncer da sociedade.

A erradicação das drogas através de ações combinadas entre todas as polícias e as Forças Armadas, assim como a punição exemplar de todos os traficantes e grandes consumidores, banindo-os do convívio social são medidas essenciais e urgentes.

Chame-se a isso Comunismo, Socialismo, Comunitarismo ou Anarquismo... não importa, pois o objetivo maior, quase messiânico, seria a salvação do planeta e, conseqüentemente, da humanidade e de toda vida natural existente na Terra.

Rirão os céticos e os detentores do poder e da riqueza. Mas sorrirão felizes os miseráveis, inebriados pela possibilidade de sua redenção e pelo advento da justiça!

É inadmissível uma sociedade conviver com a luxúria e a pobreza sem fazer nada! Apenas com a eliminação do desperdício já seria possível resgatar bilhões de pessoas da miséria absoluta e lhes assegurar vida decente e honesta...

O outro caminho

Vamos aceitar o mundo como ele é: cruel, imperfeito, injusto, desonesto e consumista. Vamos prosseguir nessa disputa predatória e fratricida entre o bem e o mal, cada qual convicto de estar do lado certo. Vamos deixar que os recursos naturais sejam exauridos da face da Terra, acreditando que nosso tempo aqui se acabará primeiro, mesmo que nada reste de vida para nossos filhos e netos. Vamos eleger outros milagres: a descoberta de outro planeta, intacto, com as mesmas características de nossa Terra, para que a parcela rica e privilegiada da sociedade migre para lá, deixando-nos o mundo devastado; vamos acreditar em um deus que por sua suprema vontade restaure, em um piscar de olhos, tudo o que a humanidade destruiu...

Utopia é fugir da realidade; é a crença de que para todo mal existe um remédio e nada é ou será irreversível, não importa quanto tenhamos feito para destruir...

Desenvolvimento Sustentável – paradoxo possível?


O debate entre “desenvolvimentistas” e “ambientalistas” evidencia as enormes contradições dessas palavras. Existe o “Desenvolvimento Sustentável” ou seria apenas uma quimera, um jogo de marketing que oculta intenções não manifestadas de desviar a atenção dos incautos sobre a devastação incontrolada de nossos recursos naturais?
 
A primeira contradição a ser resolvida é: “os ambientalistas são contrários ao desenvolvimento social, econômico, científico e tecnológico da humanidade?” Certamente que não! No entanto, a evolução não pode se dar mediante a destruição do meio ambiente! Aliás, isso não é necessário. As áreas ditas “produtivas” hoje existentes são grandes o bastante para abastecer toda população do mundo, inclusive em crescimento moderado por muitos anos. Além disso, a evolução tecnológica e o aumento da produtividade assegurariam o ajuste das áreas produtivas ao aumento do consumo, desde que este se dê em níveis toleráveis.

Esta é a segunda questão. O consumismo da sociedade contemporânea não tem precedentes na História! Nunca se consumiu tanto! Nunca se produziu tanto lixo! Hoje é comum, em uma sociedade “desenvolvida”, uma família ter um veículo, um celular e um computador para cada pessoa, dois ou mais televisores e uma imensa lata de lixo! Uma residência de classe média nessas sociedades costuma ter dois ou mais banheiros, com chuveiros de alta potência de consumo de energia. Cada habitante dos grandes centros urbanos produz mais lixo do que consegue consumir de alimentos! Cada veículo transporta apenas um passageiro (o motorista), em percursos de 20 a 50 km por dia, consumindo energia renovável ou não!

A humanidade continua crescendo a taxas superiores a 2,5% ao ano, sendo que esses indicadores são maiores para as sociedades mais pobres e carentes. Ou seja, o mundo não conseguirá vencer a batalha da pobreza, mantidos esses níveis de crescimento. Pior do que isso: a produção não será suficiente, os empregos não serão suficientes, a água potável se tornará escassa até mesmo nos grandes centros desenvolvidos do mundo contemporâneo, daqui a poucos, muito poucos anos! A população do mundo precisa parar de crescer! Diante desse quadro, o que seria “Desenvolvimento Sustentável”?

Em primeiro lugar, nenhuma ação será suficientemente eficaz sem distribuição das riquezas e eliminação dos bolsões de pobreza. A miséria é a célula cancerosa que se espalhará por todo organismo social, matando-o. É imprescindível eliminar a pobreza! O problema é: qual o ser humano RICO que estaria disposto a abrir mão de parte de sua riqueza para mitigar a fome de seu semelhante em troca de nada, simplesmente por compaixão e caridade? Nenhum, certamente!

E se for para salvar sua própria vida?

Sim, salvar a vida, pois a miséria se espalhará pelo mundo na medida em que os espaços cultiváveis forem ocupados, deixando atrás de si terras devastadas. Hoje, o mundo se caracteriza pelo retorno das “plantations”, as enormes áreas de monocultura de soja, de cana de açúcar, de trigo, de eucalipto, de pinus... as imensas pastagens... e as áreas de cerrado se queimando, para se transformar em novas “plantations”, as florestas sendo queimadas, para se transformar em pastagens... um dia todas desaparecerão!

Mas a humanidade continuará a crescer, a consumir desesperada-mente, e a produzir lixo, muito lixo! E as fontes de energia não renováveis se extinguirão; e as novas fontes de energias renováveis consumirão terras que produziam alimentos; e as fontes de água potável se tornarão insuficientes para matar a sede de prováveis 10 bilhões de habitantes; e um exército de sedentos e famintos percorrerá a Terra em busca de saciar suas necessidades, matando e roubando, se for preciso, transformando nosso planeta em um local desprezível, pior até do que as mais trágicas ficções do cinema que costumamos assistir entusiasticamente, até com certo "prazer" mórbido, como se não nos dissesse respeito...

E não mais existirão “ambientalistas”, que desaparecerão junto com a Natureza, consumidos pela ambição desmesurada dos seres humanos, que conquistaram o poder e determinaram a prevalência de seus “valores desenvolvimentistas” e imediatistas, em detrimento da preservação da própria espécie! Mas então não há saída? Claro que existe! E ela é óbvia, como todas as grandes verdades!

O primeiro passo é ter consciência dessas possibilidades catastróficas e não compactuar com elas. É apoiar causas ambientalistas, sem paixão, mas com responsabilidade! Hoje, a maioria das pessoas acredita que "o ambientalista é uma espécie de herói, a quem é dado o poder de salvar a humanidade, sem que cada um precise fazer a sua parte!" Isso é impossível, estúpido, injusto e irracional! Para que haja uma saída são necessários os esforços e o comprometimento dos políticos, dos empresários, dos educadores e do povo!

O que deve ser preservado? Essa é a primeira grande questão! As reservas ecológicas existentes, supondo que sejam preservadas, seriam suficientes para assegurar a preservação das espécies e garantir o futuro da Humanidade? Olhando para a Amazônia, foco de todas as ações atuais, o que ainda pode ser salvo? O Pará está condenado pelas madeireiras, mineradoras, pecuaristas e agro-indústrias, assim como grande parte do Mato Grosso e Rondônia. O Amazonas ainda pode ser salvo, assim como Roraima, Acre e outros estados. Mas é preciso um estudo detalhado daquele ecossistema para entender o que não pode ser destruído sob pena de causar um efeito de sucessivas degradações até a extinção do meio ambiente.

A Natureza é um organismo extremamente frágil e sensível; às vezes, basta eliminar uma fonte de água para acabar com todo ecossistema; veja, por exemplo, o Cerrado. Sua rica e exótica vegetação depende das águas subterrâneas que, por sua vez, dependem do tipo de solo e dos canais nele esculpidos para se locomoverem. Basta cortar um desses caminhos, e o que vem depois será devastado! Portanto, os sistemas hídricos da Terra precisam ser profundamente estudados, compreendidos e considerados nos planos de ocupação humana.

Curiosa é a ação governamental na bacia do São Francisco! Sabendo do estado lastimável em que se encontra o rio devido às intervenções humanas, principalmente na região das nascentes, resolve investir 6,6 bilhões para tirar mais água e distribuir para outras bacias do Nordeste! Não satisfeito, e em resposta às pressões ambientalistas, cria um plano "emergencial" de "revitalização", cujos primeiros investimentos foram para saneamento de esgotos nas localidades da Bahia, próximas às obras de transposição!

Oras, se não se cuidar do rio onde ele é gerado, de que adianta cuidar dos esgotos? As cabeceiras dos rios estão sendo destruídas pelas águas das chuvas devido à queda dos barrancos, uma vez que as matas ciliares foram arrancadas pelos agricultores! É lá que precisa haver investimento! É a terra arrancada dos barrancos e arrastada pela correnteza que causa o assoreamento! É o alargamento do rio que aumenta a evaporação e reduz o volume de águas do rio! É a morte das matas que causa o desaparecimento das espécies da rica fauna da região!

Não é meu propósito escrever um tratado sobre o assunto, mas alertar para o momento crucial que estamos vivendo: nunca a sociedade teve tamanho poder destrutivo, e nunca a população chegou aos níveis críticos em que se encontra. Nunca as fontes de água doce foram tão ameaçadas, seja pelo degelo dos glaciares, seja pela contaminação dos aqüíferos e das águas de superfície, seja pelo uso dessas águas para consumo industrial, seja pelo consumo doméstico sem nenhum controle, seja pelo uso indiscriminado de agrotóxicos pela lavoura!

Enfim, existe o chamado “Desenvolvimento Sustentável”? Ele é possível? Sim e não; depende do que pretendemos significar com essa expressão. Se nosso propósito é apenas de marketing, para vender “créditos de carbono”, o desenvolvimento sustentável é uma grande mentira que nos conduzirá mais rapidamente para o fim! No entanto, se houver sinceridade de propósitos, se houver determinação da comunidade internacional até para impor aos governos dos países uma atitude responsável perante os tesouros da Natureza e de sua preservação, então será possível alcançarmos juntos o desenvolvimento sustentável, desde que associado a uma política socializante e humanitária!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Cosmogonia Yanomami

É preciso compreender a visão Yanomami de seu próprio Universo e de como os "homens brancos" entraram em seu mundo e destruíram seus valores! Só assim poderemos julgar nossas próprias ações...

Leiam: Cosmogonia Yanomami
(um depoimento contundente de Davi Kopenawa Yanomami)