sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O que representa Belo Monte?

Quando Dilma Rousseff venceu as eleições para presidente da república afirmamos que quem vencia, na verdade, era o Capital,  os Ruralistas e o Desenvolvimentismo. Existem dois Brasis em nosso país: um moderno, capitaneado por São Paulo e os estados do sul, consumistas, ávidos por energia. sofisticados e detentores dos melhores indicadores de qualidade de vida; outro esquecido por todos nos mais remotos rincões, vivendo em condições que o "sul maravilha" já se esqueceu que existiam há mais de cinquenta anos.

Este Brasil abandonado é habitado por quilombolas, indígenas, sertanejos, pescadores, pequenos grupos familiares que vivem uma economia de subsistência e não conhecem as "maravilhas" da civilização: televisão, cinema, teatro, internet, geladeira, ar condicionado, restaurantes, espetáculos... também não conhecem os preservativos e suas famílias tem dez ou mais filhos, que ajudam na economia familiar desde tenra idade.

A opção de Lula - e agora de Dilma - foi de gerar energia na região norte (onde a pobreza e essas condições que relatamos prevalecem) para ser consumida nos grandes centros urbanos e industriais do país. Ou seja, essas populações esquecidas serão penalizadas para que nós, os bem-aventurados, possamos continuar desperdiçando dinheiro público, sucateando produtos de última geração, consumindo artigos supérfluos, produzindo lixo e semeando a desgraça na Natureza: desmatamento, monóxido e dióxido de carbono, gás metano, assoreamento de rios, desabamento de morros, descaracterização do meio ambiente.

Belo Monte é uma dessas hidrelétricas que será instalada na região norte, no rio Xingu, causando a inundação de imensas áreas de floresta nativa e terras indígenas, não levando nenhuma riqueza para essa região, mas levando desgraça à população pobre e desamparada que lá sobrevive à míngua. Não bastasse isso, Belo Monte produzirá onze milhões de KWA no período das cheias e uma insignificância na época do estio; causará o assoreamento do Xingu depois da barragem e impedirá a piracema das espécies migratórias; exigirá imenso investimento na transmissão de energia aos centros consumidores; e criará um câncer que, aos poucos, irá produzir o desaparecimento de toda floresta e seus habitantes, animais e humanos.

A humanidade é insaciável em sua ânsia pelo "progresso": nossa população ainda cresce em ritmo acelerado, exigindo cada vez mais produção de alimentos que, por sua vez, consomem mais terras das florestas, dos rios, das montanhas, aumentando a poluição ambiental, em um processo destruidor sem precedentes na História. Muitos dizem que o homem sempre encontrou a solução para todas as catástrofes antevistas pelos futurólogos. No entanto, o que mudou foi a velocidade do processo: as geleiras deixaram de ser eternas e estão se acabando rapidamente; as espécies vivas são extintas em ritmo acelerado; as fontes de água doce ou  secam, ou são contaminadas inexoravelmente; a produção de lixo bate recordes sucessivos; a temperatura do planeta sobe acelerada e perigosamente, ameaçando expandir os limites dos oceanos para dentro dos continentes e levando consigo grande parcela da população que vive nas orlas marítimas.

E quais seriam, então, as alternativas para a produção de energia? As fontes renováveis são uma mentira, pois causam maior destruição que as hidrelétricas; exemplo disso são as imensas áreas destinadas à plantação de cana de açúcar, trigo, soja e outros produtos destinados à geração de energia "renovável". O petróleo tem seus dias contados, e seus desastres ecológicos causaram as maiores destruições da história recente, contaminando verdadeiros refúgios ecológicos marinhos. Parece não haver saída...

Mas a solução existe e está diante de nossos olhos: passa, primeiro pela conscientização em massa da humanidade das essenciais transformações necessárias nos hábitos de consumo, na redução dos desperdícios, no entendimento desse complexo sistema ecológico que nos sustenta no Planeta Terra. Também passa pelo controle da natalidade de forma radical: não é possível sustentar indefinidamente uma população em constante crescimento, que já passa dos seis bilhões de indivíduos. Mesmo destruindo todas as florestas - e isso seria suicídio coletivo - as terras cultiváveis e o aumento da produtividade não bastarão para alimentar esse mundo descontrolado, e um dia, em futuro não muito distante, os homens se digladiarão pela posse de água e de alimentos, matando-se uns aos outros, em uma guerra não declarada e cruel.

O que representa Belo Monte? Simboliza essa fúria consumidora que, se não contida, extinguirá a raça humana... representa o desrespeito à Natureza e a prevalência de um sistema perverso de distribuição de riquezas, que privilegia uma pequena parcela da Nação em detrimento da maioria da população.

Mais uma vela para o passado

GREENPEACE: Notícia - 28 - jan - 2011

No dia 1º de janeiro Dilma defendeu o uso de energias renováveis. Menos de um mês depois apóia publicamente a inauguração de uma usina movida a carvão. Afinal, qual é a posição da presidente?
Usina Presidente Médici, em Candiota, RS. Greenpeace / Lunaé Parracho

A política energética brasileira, uma das meninas dos olhos da presidente Dilma Roussef, deu, menos de um mês depois de ela prometer no discurso de posse o incentivo a investimentos em usinas à base de biomassa, eólica e solar, mais um passo para trás. O Brasil, oficialmente, coloca hoje mais uma termoelétrica movida à combustível fóssil em funcionamento em Candiota, Rio Grande do Sul. Trata-se da usina Presidente Médici, ou Candiota III como prefere, por óbvias razões, o atual governo. A usina, parte de um complexo de seis térmicas semelhantes, funciona a carvão, considerado uma das fontes mais poluentes de energia.

Candiota III é o terceiro tropeço do recém-empossado governo na área de energia em menos de um mês de vida. O primeiro foi o anúncio de um plano para construir 11 megahidrelétricas na Amazônia. O segundo, mais recente, a brutal forçada de barra para que o Ibama desse algum tipo, aliás qualquer tipo, de selo de aprovação à construção da usina de Belo Monte. E agora, Candiota III. Juntando os fatos, pode-se muito bem supor que o discurso de Dilma na sua posse, com declarações fortes em favor das energias renováveis, foi apenas papo. “Candiota III é um monumento à geração energética do passado”, diz Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de Energias Renováveis do Greenpeace.

Movida a carvão – o menos nobre e mais poluente dos combustíveis fósseis – Candiota III promete gerar 350 MW de energia deixando um rastro de emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa que ameaçam a saúde humana e a estabilidade do clima do planeta. A usina deve garantir uma energia firme de 315 MW e a produção de 2,76 milhões de MWh por ano. Considerando a emissão média de 1 tonelada de CO2 por MWh típica de térmicas a carvão, obtém-se o espantoso montante de 2,76 milhões de toneladas de CO2 emitidos por ano. Na prática, toda essa numerália significa que uma única usina – responsável por pouco mais de 0,5% da energia gerada atualmente no Brasil - contribuirá com o aumento de 10% das emissões atuais do setor elétrico.

Área do Rio Xingu, no Pará, que será alagada pela construção da usina de Belo Monte. ©Greenpeace/Marizilda Cruppe

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cheirando mal

Fonte: Greenpeace Brasil - 27 - jan - 2011
Decisão do Ibama autoriza desmatamento de 238 hectares para construção de canteiro de obras da usina de Belo Monte
Em mais uma trapalhada governamental, o Ibama concedeu ontem a licença de instalação parcial para o início do projeto de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará. O órgão, que deveria proteger o meio ambiente, jogou contra a natureza e a favor da usina ao autorizar o desmatamento de 238 hectares necessários para a montagem dos canteiros de obra e dos acampamentos nas localidades de Belo Monte e Pimental.

O amplo parque hidrelétrico brasileiro contribui para que o país tenha uma “poupança de água”, ou seja, um reservatório de energia controlável. Não é o caso de Belo Monte. Segundo o responsável pela campanha de energia do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo, a previsão é que a geração da usina ficará a dever no período da seca, o que fará com que a hidrelétrica tenha um aproveitamento muito abaixo da média das usinas no Brasil.

De acordo com o relatório Revolução Energética, lançado ano passado pelo Greenpeace, o que garantirá a segurança energética no país é o complemento da energia hidrelétrica com outras gerações, como a biomassa e a eólica, que têm capacidade de garantir fornecimento ao logo do ano, independente das chuvas. “Não precisamos de Belo Monte. Ela causará mais impacto ambiental do que benefícios”, diz Baitelo.

Além das questões técnicas e do prejuízo social e ambiental que a obra causará, o documento emitido pelo Ibama, chamado "licença de instalação específica", não é reconhecido pelo Ministério Público Federal (MPF) como válido dentro do direito ambiental brasileiro, o que significa que ele pode ser questionado a qualquer momento na Justiça.

Contra a decisão do órgão ambiental, várias ONGs, entre elas o Greenpeace, aderiram ao abaixo-assinado produzido pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre contra a obra.

Ibama libera canteiro de obras da usina de Belo Monte

Edna Simão, da Agência Estado
Autorização vale por 360 dias e estabelece uma série de condições que deverão ser observadas pelos empreendedores, sob o risco de cancelamento da licença
SÃO PAULO - O Ibama autorizou nesta quarta-feira, 26, ao consórcio Norte Energia, responsável pela obra da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), a implantar a infraestrutura necessária para a instalação do canteiro de obras do empreendimento. A licença, chamada de "autorização de supressão de vegetação", foi assinada nesta quarta pelo presidente substituto do Ibama, Américo Ribeiro Tunes, e está disponível no site da instituição. Com ela, o consórcio poderá fazer todo o procedimento de acampamento, canteiro industrial e área de estoque de solo e madeira.

A licença permite a supressão de 238,1 hectares de vegetação. Deste total, 64,5 hectares estão em Área de Preservação Permanente (APP). A autorização vale por 360 dias, a partir de hoje, e estabelece uma série de condições que deverão ser observadas pelos empreendedores, sob o risco de cancelamento da licença.

Dentre as condicionantes, o Ibama proíbe o uso de fogo e produtos químicos de qualquer espécie para eliminação da vegetação, além de depósito do material oriundo da supressão de vegetação em aterros e em mananciais hídricos.

Outra condição é que o consórcio somente poderá executar a intervenção nas áreas adquiridas ou com permissão do proprietário. Ainda como medida compensatória pelo desmatamento em APP, o consórcio terá de recuperar 64,5 de hectares na área de influência do empreendimento dentro dos 360 dias, prazo de validade da autorização.

A licença foi emitida antes do prazo limite previsto pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que contava com essa liberação até o final da primeira quinzena de fevereiro.

Leiloada em abril do ano passado, a usina que será construída no Rio Xingu terá capacidade máxima de produção de 11.233 megawatts (MW) de energia. A produção média, entretanto, será bem mais baixa, de 4.571 MW. A hidrelétrica deverá começar a funcionar em 2015.

MPF entra com ação contra licença para Belo Monte

Fonte: Wellington Bahnemann, da Agência Estado
Procuradores alegam que a Norte Energia, concessionária que irá construir e operar a usina, não cumpriu boa parte das condicionantes previstas na licença prévia
SÃO PAULO - O Ministério Público Federal do Pará (MPF-PA) ajuizou nesta quinta-feira, 27, ação civil pública contra a licença para instalação do canteiro de obras da hidrelétrica Belo Monte, emitida na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Na ação, apresentada na 9ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Pará, os procuradores da República pedem uma liminar para suspender os efeitos da licença do canteiro e a autorização para supressão vegetal até que o mérito dessa ação seja apreciado pela Justiça.

Os procuradores do MPF-PA alegam que a Norte Energia, concessionária que irá construir e operar Belo Monte, não cumpriu boa parte das condicionantes previstas na licença prévia, que foi emitida no ano passado pelo Ibama. O entendimento do MPF é de que o órgão ambiental não deveria emitir a licença para instalação do canteiro de obras aos investidores. A hidrelétrica Belo Monte terá 11 mil megawatts de capacidade instalada e está localizada no Rio Xingu, no Pará.

Nesse contexto, consta no pedido de liminar do MPF-PA que a Justiça também proíba que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) repasse recursos para a Norte Energia enquanto as ações contra o empreendimento tramitarem na Justiça ou até que o consórcio cumpra todas as condicionantes da licença prévia.

Os procuradores também solicitam que a empresa seja obrigada a cumprir todas as condicionantes antes de solicitar a licença de instalação (LI) e que o Ibama só a conceda após a Norte Energia ter cumprido todas as exigências da LP. A ação civil pública é assinada pelos procuradores Bruno Araújo Soares valente, Bruno Alexandre Gütschow, Felício Pontes Jr, Daniel Cesar Azeredo Avelino e Ubiratan Cazetta.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O serviço público e a imoralidade

Trabalhei 35 anos em empresas privadas. Foram anos de luta e muita dedicação para encontrar meu espaço no competitivo mercado do Capital. Sempre achei que as empresas tinham um elevado grau de incompetência e ociosidade, causados pelo despreparo da maioria dos profissionais. São poucas as pessoas competentes e que fazem a diferença.

No entanto, o serviço público leva essa incompetência ao nível extremo! E para agravar ainda mais a situação, uma parcela muito expressiva de servidores públicos não tem nenhum compromisso com a Ética, a Moralidade, a Dignidade e a Justiça! É uma relação doentia, egoísta e indecente, que sempre alimentou os noticiários da imprensa nacional, mas que relutamos a aceitar como um comportamento doentio e predominante. Infelizmente, é verdade.

Estou enojado, decepcionado e arrependido de ter prestado um concurso público e ter assumido um cargo executivo em uma organização pública. Não vejo possibilidade de reversão desse processo nefasto e indecente que predomina nas relações sociais dentro das organizações governamentais. É um câncer que se alastra pelo tecido orgânico da administração pública! Um câncer que, não sendo terminal, mantém esse organismo vivo, sugando a seiva da Nação, promovendo o desperdício dos recursos públicos e humilhando a população que, com extremo esforço, doa parcela expressiva de seus salários para manter essa máquina emperrada em funcionamento.

Não tenho orgulho de meu trabalho porque sei que a maioria dos servidores não é digna do respeito da Nação Brasileira. Em meus sessenta anos nunca experimentei essa sensação de impotência e inutilidade; de que todo trabalho é inútil e todo esforço um desperdício. Jamais convivi com pessoas tão mesquinhas e desprovidas de qualquer sentimento patriótico!

Quanto tempo suportarei essa situação? Não sei... meu instinto me compele a abandonar esse trabalho indigno, mas meu compromisso com a Ética e a Decência me obriga a perseverar. Sinto que essa permanência me consome internamente, mas ainda tenho uma tênue esperança de superar essa força do mal que contamina o Poder. Devo estar errado.

Não há, racionalmente, nenhuma possibilidade de vencer a podridão do poder público. Sou um ser em extinção, remando contra a correnteza, enquanto passam por mim as embarcações dos corruptos e dos comprometidos com suas próprias causas e interesses mesquinhos.

Que pena... este jogo eu já perdi...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tragédia no Rio deve ser levada em consideração no debate da ‘revisão’ do Código Florestal

Publicado em janeiro 18, 2011 no Ecodebate
A destruição causada pelas fortes chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, com mais de 600 mortes contabilizadas até agora, forçosamente será levada em consideração pelos deputados federais no debate sobre o "novo" Código Florestal Brasileiro, cujo relator é o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Para o professor de engenharia florestal da Universidade de Brasília (UnB), Eleazar Volpato, as flexibilizações propostas no relatório do deputado Aldo Rebelo agravam “de forma absoluta” a situação das ocupações de morros e encostas em toda a região da Mata Atlântica.

Ele destacou que, pelo relatório, as chamadas áreas ocupadas, mesmo que estejam em Áreas de Proteção Permanente (APP) ou reservas legais, poderão continuar sendo usadas por moradores ou para fins de exploração comercial. “O que aconteceu no Rio de Janeiro é de uma irresponsabilidade, eu diria até mesmo um sacrilégio. Praticamente ‘liberou geral’ naquelas cidades”, disse Volpato sobre as construções em áreas de encostas nas cidades serranas do estado do Rio.

Caso o código seja aprovado pelo Congresso da forma como está, o acadêmico destacou que todas as pessoas atingidas pelas enchentes, mesmo quem perdeu parentes e bens materiais, poderão permanecer nos mesmos locais condenados, pois o projeto os considera “áreas consolidadas”.

Especialista no código florestal, o professor Volpato disse que, diante das agressões ao meio ambiente, “a natureza vai responder, e é o que está acontecendo nesses casos de desmoronamentos e enchentes [decorrentes das fortes chuvas que caem na região serrana do Rio]. Tem que se limitar o uso humano [ocupação irregular da terra] porque o coice da natureza está aí”.

Já o professor de geociências da Universidade de Brasilia, João Willy Rosa, o problema passa também pela legalidade das ocupações. Para ele, é comum, nas cidades, a falta de zoneamento para definir o tipo de ocupação, urbana ou rural, que é possível. Três critérios são fundamentais e devem obrigatoriamente, segundo o professor, ser levados em consideração nessa análise: o clima da região, a inclinação das encostas e os tipos de solo e de rocha.

Willy Rosa ressaltou que, independentemente do clima da região, qualquer vegetação que seja retirada de encostas de morros para exploração agropecuária ou ocupação humana, deixará o solo mais exposto a deslizamentos.

O professor de geociência da UnB criticou a falta de políticas municipais de ocupação de solo e disse que a presidenta Dilma Rousseff tem razão quando afirma que as tragédias de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo ocorreram porque as pessoas construíram casas nas áreas de risco por falta de alternativa.

Ele destacou que programas habitacionais, como o Minha Casa, Minha Vida, precisam de licença das prefeituras na hora da escolha dos terrenos. Willy Rosa disse que, se essa escolha seguiir critérios técnicos, ajuda a minimizar o problema. “Não pode é querer trocar as residências por votos e dizer que não tem problema [construir em áreas de risco]“.

Para Andre Lima, ambientalista e consultor jurídico da Fundação SOS Mata Atlântica, a liberação de atividades econômicas em áreas de encosta, prevista na proposta em discussão na Câmara, agravará o problema vivido hoje por muitos municípios brasileiros. “Isso está diretamente ligado a área de risco. Não adianta querer jogar o problema para os prefeitos. Diante das pressões [econômicas e políticas], ele vai se embasar na lei”, afirmou.

As mudanças propostas, segundo André Lima, consolidam o uso e a exploração econômica e também de ocupação urbana de áreas de proteção permanentes. “Existe um total conexão. As áreas de consolidações rurais flexibilizam para a ocupação urbana”, disse ele.

Reportagem de Marcos Chagas, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 18/01/2011

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Tragédias "Naturais"

A História da Humanidade é marcada por eventos trágicos provocados pelos fenômenos naturais, tais como erupção de vulcões, terremotos, furacões, maremotos, inundações causadas por tempestades. Nos últimos milênios, desde que nos esquecemos do último período glacial, esses fenômenos arrefeceram, perderam força e intensidade, causando cada vez menores estragos e mortes, graças ao esfriamento gradual da Terra e do maior preparo das civilizações para lidar com esse tipo de fenômeno: construções mais sólidas, barragens, previsões de tempo mais confiáveis, sistemas de atendimento de urgência mais eficazes.

No entanto, nas últimas décadas esses fenômenos voltaram a ter intensidades extremas, causando morte e destruição; exemplo disso são a inundação do rio Yang Tsé (1931 - 1.000.000 mortos), o Ciclone de Bhola (1970 - 300.000 mortos), o Terremoto da China (1976 - 255.000 mortos), o Ciclone de Bangladesh (1991 - 138.000 mortos), o Tsunami da Indonésia (2004 - 250.000 mortos), o Sismo do Paquistão (2005 - 86.000 mortos), o Ciclone de Mianmar (2008 - 100.000 mortos), o Sismo do Haiti (2010 - 200.000 mortos). São números assustadores, mas dispersos em todo o planeta e em quase um século de história. Pouco representam, percentualmente, em relação à população da Terra.

Em nosso país, as tragédias se manifestam de forma mais branda, com menos mortes, embora todo desastre que envolva vítimas fatais nos assuste e cause pânico e desolação. É evidente que lamentamos profundamente esses acontecimentos! No entanto, dada sua dispersão no tempo e no espaço, não podemos associar a eles nenhuma causa excepcional provocada pela ação humana sobre o planeta. Esse é meu pior argumento, pois defendo há anos a causa ambientalista e o combate ao desmatamento e à destruição de nossas riquezas naturais. Não mudei de opinião; apenas acredito que são situações diferentes.

Sim, pois os deslizamentos de encostas de morros são, muitas vezes, ampliados e estimulados pela ocupação desordenada do solo nas grandes metrópoles; outras vezes, a fatalidade das tragédias é a consequência dessa mesma ocupação predatória, mas a causa do fenômeno nada tem a ver com a presença humana. Foi o que ocorreu agora, na região serrana do Rio de Janeiro; os especialistas afirmam que esses deslizamentos ocorrem porque a serra é instável e o volume de águas elevado, provocando os deslizamentos.

No entanto, ainda que os homens não sejam os responsáveis diretos pelos deslizamentos, são sim os responsáveis pelas mortes, pois essas encostas não deveriam ser habitadas. A omissão das autoridades, permitindo essas ocupações, e a insistência dos homens em morar em áreas de risco, ora por conveniência, ora por ignorância, ora por falta absoluta de alternativas oferecidas pelo poder público, essas são as verdadeiras causas das tragédias.

Então, quando ocorrem, surgem os messiânicos arautos do Evangelho, dizendo: "Deus quis assim!", ou então, para aqueles que se salvaram: "Deus não quis que ele morresse...", mesmo diante da perda de famílias inteiras, dilaceradas pelas mortes trágicas e desnecessárias. O fato é que, se Deus existe, ele nada teve a ver com a vida ou a morte dessas pessoas. Algumas, acidentalmente, estavam ausentes no momento da tragédia; outras, ao contrário, se deslocaram, casualmente, para a zona de impacto e pereceram em local inusitado.

Assim é a vida, repleta de acasos que nos remetem às crendices, afastando-nos da racionalidade que esses fenômenos exigem, não apenas para compreendê-los, mas também, e principalmente porque precisamos aperfeiçoar nossos métodos de prevenção, evitando situações de todo previsíveis, reduzindo o caos e o custo elevadíssimo da perda de vidas e dos esforços para a recuperação das áreas atingidas por esses fenômenos naturais.

Se a solidariedade se manifesta nessas situações, também a safadeza se mostra implacável, evidenciando a torpeza do ser humano, que rouba doações, que desvia verbas, que se aproveita da desordem para levar vantagem, essa marca indelével de nossa sociedade atual. Sim, porque hoje prevalecem os interesses pessoais, exacerbados pela competição sem limites que o homem colocou a si mesmo, não reconhecendo valores que, no passado, serviam de balizas para o comportamento coletivo. Hoje, isso pouco importa...

Como lidar com o imponderável? Como preparar essa população para sobreviver ao caos que se mostra iminente? Aqui resgato meus próprios valores e reafirmo minhas convicções ambientalistas, meus propósitos "evangelizadores" de que o Bem só sobrepujará o Mal se nós mudarmos nosso comportamento diante de nossa habitação coletiva: a Terra! O ódio e a discórdia existem como sempre existiram e continuarão a existir, a despeito de nossas convicções, pois está no coração dos homens. Mas podemos planejar um mundo melhor, onde os espertos não sejam premiados, onde a igualdade seja a lei maior e não permita privilégios enquanto houver fome e miséria. Ninguém pode ser rico se a pobreza ceifa vidas!

Somos mesquinhos e vivemos para nossa pequena comunidade familiar. Os amigos, quando existem, duram o tempo de nossa prosperidade. Basta empobrecer ou passar por dificuldades e eles desaparecem, assim como surgiram. Portanto, não podemos confiar na boa-fé da humanidade, ou acreditar que um ser superior venha resgatar os seres humanos de sua provável extinção. Somos nós, apenas nós, os responsáveis pela sobrevivência humana. Se acreditamos que o homem é a espécie animal mais bem sucedida na Terra, precisamos rever nossos conceitos, pois essa mesma competência da espécie humana a levará à extinção, não pela ocorrência de tragédias "naturais", mas pelo esgotamento dos recursos desse planeta, incapaz de sustentar por muitos anos o crescimento incontrolado da sua população.

Precisamos refletir sobre essas questões, pois os afortunados pouco se importam se a vida na Terra desaparecerá. Eles pensam com outra lógica: a de que "será bom enquanto durar"! E nós, seres éticos e justos, seremos banidos primeiro, junto com os miseráveis, quase-escravos dessa civilização tecnológica, que não reconhece fronteiras nem belezas a se preservar. Seremos extintos para que eles possam sobreviver; pois antes que o mundo se acabe, uma grande tragédia, nada natural, se abaterá sobre a humanidade, restaurando o "equilíbrio" populacional e o controle sobre os recursos naturais, para que essa minoria dominadora possa sobreviver e usufruir daquilo que eles próprios nos subtraíram...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O MAIOR PRAZER DE UM RURALISTA!

PRESIDENTE DO IBAMA SE DEMITE POR NÃO CONCORDAR COM BELO MONTE

O Presidente do IBAMA se demitiu ontem sob forte pressão para permitir a construção do desastroso Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, que iria devastar uma área imensa da Amazônia e expulsar milhares de pessoas. Proteja a Amazônia seus povos e suas espécies -- assine a petição para Presidente Dilma contra a barragem e pedindo eficiência energética:

O Presidente do IBAMA se demitiu ontem devido à pressão para autorizar a licença ambiental de um projeto que especialistas consideram um completo desastre ecológico: o Complexo Hidrelétrico de Belo Monte.

A mega usina de Belo Monte iria cavar um buraco maior que o Canal do Panamá no coração da Amazônia, alagando uma área imensa de floresta e expulsando milhares de indígenas da região. As empresas que irão lucrar com a barragem estão tentando atropelar as leis ambientais para começar as obras em poucas semanas.

A mudança de Presidência do IBAMA poderá abrir caminho para a concessão da licença – ou, se nós nos manifestarmos urgentemente, poderá marcar uma virada nesta história. Vamos aproveitar a oportunidade para dar uma escolha para a Presidente Dilma no seu pouco tempo de Presidência: chegou a hora de colocar as pessoas e o planeta em primeiro lugar. Assine a petição de emergência para Dilma parar Belo Monte – ela será entregue em Brasília, quando conseguirmos 150.000 assinaturas:

https://secure.avaaz.org/po/pare_belo_monte/?vl

Abelardo Bayma Azevedo, que renunciou à Presidência do IBAMA, não é a primeira renúncia causada pela pressão para construir Belo Monte. Seu antecessor, Roberto Messias, também renunciou pelo mesmo motivo ano passado, e a própria Marina Silva também renunciou ao Ministério do Meio Ambiente por desafiar Belo Monte.

A Eletronorte, empresa que mais irá lucrar com Belo Monte, está demandando que o IBAMA libere a licença ambiental para começar as obras mesmo com o projeto apresentando graves irregularidades. Porém, em uma democracia, os interesses financeiros não podem passar por cima das proteções ambientais legais – ao menos não sem comprarem uma briga.

A hidrelétrica iria inundar 100.000 hectares da floresta, impactar centenas de quilômetros do Rio Xingu e expulsar mais de 40.000 pessoas, incluindo comunidades indígenas de várias etnias que dependem do Xingu para sua sobrevivência. O projeto de R$30 bilhões é tão economicamente arriscado que o governo precisou usar fundos de pensão e financiamento público para pagar a maior parte do investimento. Apesar de ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, ela seria a menos produtiva, gerando apenas 10% da sua capacidade no período da seca, de julho a outubro.

Os defensores da barragem justificam o projeto dizendo que ele irá suprir as demandas de energia do Brasil. Porém, uma fonte de energia muito maior, mais ecológica e barata está disponível: a eficiência energética. Um estudo do WWF demonstra que somente a eficiência poderia economizar o equivalente a 14 Belo Montes até 2020. Todos se beneficiariam de um planejamento genuinamente verde, ao invés de poucas empresas e empreiteiras. Porém, são as empreiteiras que contratam lobistas e tem força política – a não ser claro, que um número suficiente de nós da sociedade, nos dispusermos a erguer nossas vozes e nos mobilizar.

A construção de Belo Monte pode começar ainda em fevereiro.O Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, diz que a próxima licença será aprovada em breve, portanto temos pouco tempo para parar Belo Monte antes que as escavadeiras comecem a trabalhar. Vamos desafiar a Dilma no seu primeiro mês na presidência, com um chamado ensurdecedor para ela fazer a coisa certa: parar Belo Monte, assine agora:

https://secure.avaaz.org/po/pare_belo_monte/?vl

Acreditamos em um Brasil do futuro, que trará progresso nas negociações climáticas e que irá unir países do norte e do sul, se tornando um mediador de bom senso e esperança na política global. Agora, esta esperança será depositada na Presidente Dilma. Vamos desafiá-la a rejeitar Belo Monte e buscar um caminho melhor. Nós a convidamos a honrar esta oportunidade, criando um futuro para todos nos, desde as tribos do Xingu às crianças dos centros urbanos, o qual todos nós podemos ter orgulho.

Fontes:

Ben, Graziela, Alice, Ricken, Rewan e toda a equipe da Avaaz

Belo Monte derruba presidente do Ibama:
http://colunas.epoca.globo.com/politico/2011/01/12/belo-monte-derruba-presidente-do-ibama/

Belo Monte será hidrelétrica menos produtiva e mais cara, dizem técnicos:
http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/04/belo-monte-sera-hidreletrica-menos-produtiva-e-mais-cara-dizem-tecnicos.html

Vídeo sobre impacto de Belo Monte:
http://www.youtube.com/watch?v=4k0X1bHjf3E

Uma discussão para nos iluminar:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101224/not_imp657702,0.php

Questão de tempo:
http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2011/01/13/questao-de-tempo-356318.asp

Dilma: desenvolvimento com preservação do meio ambiente é "missão sagrada":
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20110101161250&assunto=27&onde=Politica 

Em nota, 56 entidades chamam concessão de Belo Monte de 'sentença de morte do Xingu':
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/08/26/em-nota-56-entidades-chamam-concessao-de-belo-monte-de-sentenca-de-morte-do-xingu-917481377.asp 

Marina Silva considera 'graves' as pressões sobre o Ibama:
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,marina-silva-considera-graves-as-pressoes-sobre-o-ibama,475782,0.htm 

Segurança energética, alternativas e visão do WWF-Brasil:
http://assets.wwfbr.panda.org/downloads/posicao_barragens_wwf_brasil.pdf 

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

De volta às polêmicas indesejadas

Por alguma razão que não ouso interpretar volto ao meu blog predileto, não porque eu tenha novas idéias políticas, mas porque sinto falta das questões polêmicas que apimentam nosso cotidiano. Em um momento singular de nossa história política, quando a transição de Lula para a Dilma se consolida, sinto falta de me manifestar perante meu escasso, mas solidário público. Sim, voltei para continuar a abrir minha Boca Ferina contra os desmandos dessa Nação tão pródiga em fatos escabrosos e calamitosos, fruto de nossa História nada edificante...

Aceitem, portanto, meu renitente retorno, meus raros e caros amigos, e compartilhem comigo desse ingrato mister de não sermos apenas as "vaquinhas de presépio" diante do absurdo que se manifesta cotidianamente nos periódicos impressos e nos noticiários tendenciosos desse mercado Global. Não somos os donos do WikiLeaks, mas fazemos nossa parte!

Nasce o mesmo Brasil a cada dia, embora nossa esperança fosse diferente... nenhuma novidade no front político: as raposas do PMDB reclamam sua parte na partilha da presa conquistada nas eleições passadas. Lula se retira de cena com seu tradicional "nunca antes na história deste país", mas sem a empolgação das campanhas, e sabedor de que seu cetro foi definitivamente passado para outra imperatriz de nosso triste reino da fantasia.

As velhas questões voltam à cena, sem o glamour das eleições já ganhas ou perdidas, mas com a crueldade de quem não se importa com o futuro da Nação, mas apenas com o futuro de seus apadrinhados, amigos, irmãos, sobrinhos e afilhados. E o retrato disso tudo é um envelhecido mas poderoso chefe mafioso chamado José Ribamar Sarney!

Não que ele seja assim tão importante, mas apenas porque ele simboliza o podre, o antigo, o indesejado, o passado mais asqueroso da ditadura, os conchavos políticos, as artimanhas do poder insaciável das elites que sempre dominaram nosso país, a despeito do que digam Lula e seus asseclas. Sim, pois essa transição nada mais é do que a evidência de que nada mudou com as eleições. Tudo será como antes; tudo transcorrerá como querem essas elites: a partilha dos cargos, as permutas e compromissos que nos levarão ao mesmo caos...

Não me iludo e por isso escrevo essas parcas linhas de protesto. Nós somos os responsáveis pela baderna que domina a cena política. Nós, o Tiririca, Lula, DIlma, Serra e até mesmo o finado Quércia. Todos farinha do mesmo saco! Todos comprometidos em sangrar até a morte o povo dessa terra, sem piedade, sem remorsos. Vivam os poderosos! Essa é a Nação dos vencedores, não das batalhas valorosas, mas das permutas indecentes por trás do pano...

Pegada Ecológica? O que é isso?

Você já parou para pensar que a forma como vivemos deixa marcas no meio ambiente? É isso mesmo, nossa caminhada pela Terra deixa “rastros”, “pegadas”, que podem ser maiores ou menores, dependendo de como caminhamos. De certa forma, essas pegadas dizem muito sobre quem somos!
A partir das pegadas deixadas por animais na mata podemos conseguir muitas informações sobre eles: peso, tamanho, força, hábitos e inúmeros outros dados sobre seu modo de vida. 

Com os seres humanos, acontece algo semelhante. Ao andarmos na praia, por exemplo, podemos criar diferentes tipos de rastros, conforme a maneira como caminhamos, o peso que temos, ou a força com que pisamos na areia. 

Se não prestamos atenção no caminho, ou aceleramos demais o passo, nossas pegadas se tornam bem mais pesadas e visíveis. Porém, quando andamos num ritmo tranqüilo e estamos mais atentos ao ato de caminhar, nossas pegadas são suaves.

Assim é também a “Pegada Ecológica”. Quanto mais se acelera nossa exploração do meio ambiente, maior se torna a marca que deixamos na Terra. 

O uso excessivo de recursos naturais, o consumismo exagerado, a degradação ambiental e a grande quantidade de resíduos gerados são rastros deixados por uma humanidade que ainda se vê fora e distante da Natureza.

A Pegada Ecológica não é uma medida exata e sim uma estimativa. Ela nos mostra até que ponto a nossa forma de viver está de acordo com a capacidade do planeta de oferecer, renovar seus recursos naturais e absorver os resíduos que geramos por muitos e muitos anos. 

Isto considerando que dividimos o espaço com outros seres vivos e que precisamos cuidar da nossa e das próximas gerações. Afinal de contas, nosso planeta é só um!


Fonte: WWF Brasil

Pecuária brasileira: ‘Patada’ Ecológica, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

[EcoDebate] A “pegada ecológica” dos 187 milhões de brasileiros está estimada em 2,4 hectares por pessoa ano. Já ultrapassou a demanda, considerada equilibrada, de 2,1 hectares. Como o Brasil é o décimo país mais desigual do planeta, é evidente que alguns poucos estão consumindo mais hectares do que a esmagadora maioria que mal consegue sobreviver.

Porém, o estrago feito pela média brasileira tem embutida à “patada ecológica” do rebanho bovino. A pecuária brasileira ocupa 172 milhões de hectares para 177 milhões de cabeça de gado. Cada boi, portanto, ocupa quase um hectare de terra, ou seja, quase 20% da superfície do país. Toda área ocupada pela agricultura não passa de 72 milhões de hectares. Portanto, a “patada ecológica” das boiadas representa quase 50% da “pegada ecológica” da média brasileira.
Hoje a pecuária, parte essencial do agronegócio, representa quase um terço do PIB agrícola. Portanto, tem importância econômica. Ninguém que assuma o comando político do país vai abdicar desse negócio. Seria deposto no dia seguinte. Mas seu estrago é infi nitamente maior do que o da cana, da soja e outras atividades do agronegócio. Sem falar que para produzir um kg de carne são necessários de dez a 40 mil litros de água, a depender do que é contabilizado em todo o processo.
Há um agravante. Os bovinos, em seu metabolismo, expelem gás metano pelos arrotos e outros mecanismos, um dos gases do efeito estufa, dezessete vezes mais perniciosos que o próprio dióxido de carbono.
As fazendas de gado, nascidas junto com o país, ainda têm o dom de abrigar trabalho escravo em muitas de suas atividades. Portanto, primitivas no jeito de produzir, primitivas no jeito de lidar com as pessoas.
Quem conhece a lógica da biodiversidade sabe que nenhuma espécie sozinha é danosa ao equilíbrio da vida. Porém, quando se torna monocultivo, passa a ser um problema, não uma solução.
Um Brasil que se queira justo e sustentável terá necessariamente que rever a patada ecológica de seus bois.
OBS: Publicado originalmente no Brasil de Fato (Dezembro)
Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do EcoDebate, é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT
EcoDebate, 04/01/2011